NETOS

NETOS

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

REMARKABLE PEOPLE



FERNANDO PESSOA

(Lisboa, 1888 - 1935, Lisboa)


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


************
"I am nothing.
I will never be anything.
I cannot want to be anything.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."

or...

"I am not nothing.
I will never be nothing.
I cannot want to be nothing.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."


(Álvaro de Campos in "Tabacaria")




LISBOA - Chiado

LISBOA - Chiado
"Fernando Pessoa" by Lagoa Henriques. The place: "Café A Brasileira" (Brazilian Café) - 1905.

PLAYLIST TODAY




MUSIC IS THE PASSION REPORT



♥ ♥ ♥


PLAYING SOFTLY WHILE SOMEONE SANG THE BLUES



Saturday, Jul 22, 2017 - 17:57





SALVADOR SOBRAL - NEM EU [DORIVAL CAYMMI]



YouTube – "Salvador Sobral"





ANTONY HEGARTY + LEONARD COHEN - IF IT BE YOUR WILL [COHEN]



YouTube – "Oggmonster"





CHAN MARSHALL (CAT POWER) - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG [OTIS REDDING]



YouTube – "anaruido"





JANIS JOPLIN - ME & BOBBY MCGEE [CHRIS CHRISTOPHERSON]



YouTube – "ThE DuCk"





JEFF BUCKLEY - LILAC WINE [JAMES SHELTON]



YouTube – " roberta panzeri"





DAVID BOWIE - WILD IS THE WIND [JOHNNY MATHIS]



YouTube – "Peter Music HD"







_____________________


LEANING INTO THE AFTERNOONS by PABLO NERUDA

«Inclinado en las Tardes»



YouTube - "FourSeasons Productions"






CHANGING BATTERIES - OSCAR WINNING ANIMATED SHORT FILM



YouTube - "Bzzz Day"





DIALA BRISLY - A BEAUTIFUL YOUNG LADY

(a huge thanks to my daughter who e-mailed this video to me)



BBC Newsnight

«Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman - artist Diala Brisly - who is trying to make life that little bit more bearable for Syria's kids.»

Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman -...

Publicado por BBC Newsnight em Domingo, 20 de Março de 2016






A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT

A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT



FLYING A SECRET



I got here to hide. From equations and patterns. From repetition, after all.
Closed the door and got me a special place where I thought I could
somehow sit close to the stars. But I soon found out that the sky was
still opaque, no matter what the steps. And so I left. Again.

I thought, then, I could build me a different ceiling, a new-coloured scrap
of highness. And then make it work. Where I could dream, more than I sleep.
I have long decided that sleeping is overrated - that I know for sure. So I
take that time instead to travel the night alone and in the meantime I allow
myself to fly, unlike stated before... Yes, I like playing with paradox, to
expose the inside of words and the revelation of writing down the voice of a
silence. My adventurous, ever-walking silence.

So I came back. Here, within this quiet world, I intend to gather all my
things usually kept hidden or inactive. They are here to speak.

And since the future is a stand-by secret, I want to live by a precocious
clock, at every running instant of every entering second.

And I will not slow down until my "future exists now" - kind of reverse
quoting Jacob Bronowski.


Ana Vassalo
in my site "CAFEÍNA"(former "No Flying Allowed")
Nov 11, 2010 - 11:54




THE WALK OF TIME

THE WALK OF TIME

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SILÊNCIO A DOIS TEMPOS

DIÁLOGOS POÉTICOS COM O MEU AMIGO "TOTA"
(do lado mais doce do Atlântico...)



John Henry Fuseli - Silence


Silêncio a Dois Tempos



Sabe, amigo…

Há as palavras que vêm,

As mesmas que também vão…

Mas o momento do adeus,

Esse momento fica

E permanece cortante

Pelos passos de uma vida

Que essa criança que somos,

Camponesa de utopias,

Plantou de risos, um dia,

De intenso sabor feliz

como um jardim dos abraços

sossegado nos aromas da ternura.

Mas eis que as palavras passam

e indiferentes se afastam

como um sopro pelo tempo…

E o dia que vem depois

É mais um espinho de aviso

Que fere de morte, em silêncio…


Ana Vassalo

28-08-2009 – 14:04H


Origem das Imagens: site Luminescências.

NOTÍCIAS DO FUTURO

 
NO WALLS!, Ana Vassalo - digital drawing experiences :)


 
notícias do futuro

hoje não há acidentes
- li eu, no jornal sem letras…
apenas as velharias
de repetição já segura:
nada de terra, ou de cosmos,
nem rasgos de firmamento…
o irremediável vazio
habita no imprevisto

tudo antigo e bolorento
na vida posta em clausura,
os homens cumprem-se iguais
em rasura e indiferença,
levando o brio da nascente
às águas do esquecimento…

alinhados na parada
das apostas calculadas,
certos se acham na pista
das corridas que outros vencem
sem pontos de referência
na cega estrada do tempo…
sentimentos arquivados
na fila dos melhores dias
transbordam de pragmatismo…
vence a razão, de cadeira,
e o amor? não é oportuno!

sei que estou eterizada,
bêbeda de tantos anos,
vã de toda a surpresa,
morta, na semelhança…
sei que ao raiar da manhã
outra de mim, paciente,
repetida e linear
no caminho reinará,
sábia de muitos hábitos,
diligente na missão
de imitar integrações!

serei um ser engrenado,
elo perfeito em cadeia,
retrato na galeria
dos lugares preservados
ao sol da alienação…
serei gente que progride
no tempo de resignar
os sonhos que um dia ousaram!

mas hoje e agora, aqui estou
de olhar preso ao nevoeiro,
rompendo por um sentido
que valha o trabalho de ver
- amanhecendo vontades
no entardecer de um grito!

sou a essência evaporada
que um dia já teve griffe…
estou ancorada num instante
tão breve quanto a garrafa
que encerra os néctares de tudo
e bebo em menos de nada!

fui antes esboço de gente,
mulher da vida de alguém
- que de um sopro me matou!…
tive os homens que desbravei
e em mim morreram de véspera…
fui grito, sim, declarado
de um amor eterno… agora!

e eis que agora é andado
e o dia me bate à porta
neste peito que não sente
nunca mais o que é verdade…
estou de mansinho expectante,
aquietada em tantas breves
certezas do que já fui
e insisto em resgatar!

qual quê!…
sei que não há invenção…
o jornal não saiu hoje
por falta de letra impressa
nos tipos da novidade:
terra e cosmos estão inertes
nos seus movimentos perpétuos
de gerar uma equação…

só eu, disfarçada de sonhos
ainda creio a mudança
num amanhã de conquista
nas luas da maré viva!
pobre de mim… viajante
de insólitas fragas de abismo
suspensas sobre o futuro…
a vida nunca saltou
e o tempo não sabe a nada!
- mas o jornal diz que sim,
que há sabores na rotina…

aqui, de onde me escondo,
só há saídas da bruma
pela escada da mentira…

e o futuro? ri de nós?...


Ana Vassalo

24-08-2009 – 22:57H


Origem das Imagens: Ana Vassalo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

AMIGOS DE MARINHAR






Amigos de marinhar


Num mundo de faz-de-conta
Encontrado além do mar
Onde a mão agarra a onda
E a distância não tem lar,
Nos caminhos de outra estrela
Que acende à noite uma vela,
Guia dos medos sem fim
Onde tu lutas por mim,
Nessa alvorada de azul,
Que persigo a norte e sul,
Para contigo acordar
Esse futuro de amar
Nas gentes que já não vejo
E a quem recuso o meu beijo,
De que me guardas, amigo,
No teu cavalo de abrigo…
Na planície que hoje abraço
E a saudade grita o espaço,
Onde ser livre é verdade
P’lo chão da tua cidade,
Amigo de marinhar,
Nessas andanças de amar
Como só amigo sabe
E no peito o mundo cabe,
Sei!
Sei de uma certa guitarra
Onde dedilhas amarras
De um amor que é desejado
Na margem de um outro fado
Sei…
Sei que me inventas pessoa
Mais alta do que merece
Mas que por ti acontece
Um dia novo, a onda boa
Amigo…
De horas perdidas
Luas fugidas
Canções de dar
Prantos de mar…
Sei de ti doce paisagem
Construída p’la viagem
De sermos voz derradeira
Do outro a paz verdadeira
Caminhando
Nos abismos da tristeza
De mãos dadas, sendo fé,
Que a solidão já não é
Soberana à nossa mesa!
Somos galope e subida
Juntos somos cavalgada
À conquista da jornada
Que despede a despedida.
Amigos que o tempo segue
E ampara na corrida
Sempre mais alta de vida
Na luz que o olhar persegue…
Sei de ti… como de mim,
Sei que os atalhos são nulos,
A estrada morre em entulho
A empatar o devir…
Mas as horas nunca cansam
E até parece que dançam
De flores de céu a abrir…
Em ti, em mim,
Amigos maiores que o fim
Duma noite que se acende
E de nós a alma aprende!

Ana Vassalo

11-07-2009 14:37
Posted 11-07-2009


Origem das Imagens: Photobucket.

VERSO SOLTO IV

Matrix



Verso Solto IV


Somos filhos das horas de todas as grutas
enlaçados em dores que a noite não ouve…

Passeamos o tempo, que não lembra o que soube
e traçamos no vento os caminhos de sal
que os prantos mais velhos lavaram do mal.

E então despertamos no ensino das lutas…

Que o tempo a estrear os dias não cede
ao lamento de horas mortas em branco
nem se detém a saber da paragem
no curso de tanta porta encerrada...

caminhar é… sem regras…

porque há sempre um outro dia que mede
os passos afoitos tentados p'la margem...

Fosse a festa da cor alvorada
o rasto aberto dum trilho mais franco!...

Mas… somos réstea, e penumbra
num rosto de luz ardido
dançando no riso a sombra
de um olhar interrompido.

E as vagas do tempo acordam
do sol o beijo, a nota breve,
ensaio de um passo em greve
num baile antigo, que abordam...
Velamos num mar de ocasos
ao leme de um outro dia
e somos do sal regaços
acolhendo a maresia…

E a saudade, que então mora
em estrelas que não sonhámos,
no céu do meu porto chora
esse azul que não pintámos…


Ana Vassalo
22-Jun-2009
Posted 22-06-2009


Origem das Imagens: Webshots.

VERSO SOLTO III

  

Saimi in the Meadow, by Eero Erik Nikolai Järnefelt - 1892

um chá... na planície
um ribeiro de Agosto
breve o sussurro dos mitos
no cantar de folhas mansas
o prado
e a preguiça
as mãos
empurrando os céus
um levantar de perdizes
no restolho do silêncio...
um tiro morrendo a paz.
 
Ana Vassalo
22-Jun-2009
Posted 22-06-2009

VERSO SOLTO II

 



 Solitude, by lady amarillis


verso solto II


raiando em versos de frio
tarda o meu canto bravio

a rasgar sulcos no chão
lançando farpas da mão,

ideais, forjando a luta
de vantagens impoluta

num país nado emoção
onde se beija a razão…

e, guerreiros retornados,
sermos do pó levantados

a construir a justeza
de sermos mais que leveza

e abrigo da verve mansa,
posta em suave tardança
no coro da noite alada...

e voem livres os sisos
no balançar dos sorrisos
trocados…
escrito no livro das horas
um verso que à noite mora,
recados,
de flores tão prenhes de cheiros,
do correr da pena, do morango a cor,
da saudade plena, da arma o estertor
derradeiro,
do global o verbo
que em tão vasto acervo
à noite é romeiro…

paixão das horas de não saber
o amor cansado, do entardecer…

da sede um grito, inanição,
escuro,
o esplendor da solidão!...



Ana Vassalo

24-Abr-2009
Posted 24-04-2009

VERSO SOLTO I

piano rose



verso solto I


sagrados destinos,
um laço
atando na viagem
um espaço
de ser mais do que milhagem
pra ser canto em desatino
e no encontro das mãos
que teclam tudo o que são
ser um lugar clareado
por cada tempo cantado!...

de ser palavra no espanto
urdindo praias de encanto
nos teares da fantasia,

sendo depois Prometeu,
margem da noite que ardeu
no raiar da utopia…

e chega um tempo que é cedo
ao tardar da madrugada,
mãe do silêncio, arcada
na engenharia do medo...



Ana Vassalo

19-Abr-2009
Posted 19-04-2009


Origem das Imagens: Webshots.

MAR ATLÂNTICO


























Oceano Meu,
querido Mar, encapelado,
divinizado e ateu…
Bravio, ou encarcerado
entre os mundos e as marés,
és das gentes que abrigaste
pela fuga protegida,
de outras, que condenaram
à dignidade esquecida,
ou de a quem relembraste
a liberdade perdida…
és meu, de aguarelas, nosso,
de nossos males és poço,
mas só dos que não te usaram
pra servir o que não és!...

Oceano Meu,
Querido Mar dos amanhãs
que guardam em nós a fé!
Onde os homens que navegam
procurando o mais do Mundo,
confiantes, se aconchegam…
Que por seres tão profundo,
é por ti que o mundo É!



Ana Vassalo
Outubro-2000
Posted 05-04-2009

HOMENAGEM... A UM ANÓNIMO





Dionísia Bento




A um Anónimo



Meu grande, grande amor

Decidi hoje que não quero, nunca mais, que tudo aquilo que representas e representaste para o mundo continue anónimo.

Decidi ainda que não te vou deixar partir sem que se saiba que és uma Diva, e que mesmo com tudo o que te foi negado conseguiste, involuntariamente, construir a tua celebridade, feita de memórias quentes no coração de homens e mulheres que contigo se cruzaram.

A tua voz única, sofrida, bela, poderosa, conjugada com os teus olhos de açúcar, verdes, do verde marinho, viajou da tua pequena vila até muitos sítios.

Vou no táxi, entediada no inferno de trânsito desta minha encantada Lisboa, reconheço aquele sotaque cantante e doce, questiono a origem; “sabe, é engraçado, mas a minha mãe é sua conterrânea” – “atão miga, diga lá quem é que é a sua mãezinha a ver se a conheço” – “é a Dionísia” (digo assim, A Dionísia, com o indisfarçável orgulho que a experiente certeza de que será imediatamente reconhecida me dá) – “ a Dionísia que cantava o fado???” – “sim, essa mesmo…” (quero-lhe pedir que me fale dela, naquele glorioso passado, mas ele não me dá tempo) – “belos tempos, da nossa juventude, que alegria!, a sua mãezinha era uma linda mulher, sabe?, e depois a gente vinha subindo aqueles caminhos da estação até à vila e quando ela dava aqueles espectáculos na praça principal, a voz dela ecoava por aqueles cabeços e a gente chorava, sem saber como nem porquê, e era como se Deus falasse com a gente…” (vira rapidamente a cabeça para trás, para me olhar bem) – “ai a vida, o mundo é tão pequeno!...”

Foi uma breve passagem das muitas idênticas que vivi na tua amada terra, algumas mais em Lisboa, em Portalegre e outras paragens, por ali.

Contaram-me também que depois veio o reconhecimento internacional na forma de um contrato, que nunca foi assinado – os brandos costumes da “casa” não permitiam tal vida a uma mulher, ainda menos a uma menina de 18 anos…

E ainda que nunca ganhaste nada com isso, pois tudo o que ganhavas com os espectáculos entregavas - disseram-me mesmo que os Bombeiros da tua terra, entre outros, te deviam bastante. Tal e qual, assim. Seria já uma bela história de vida, para contares aos teus netos e bisnetos, mas não, não ficou por aqui.

Deste tudo, tanto, sempre embrulhado em amor, a tudo e todos que encontraste. Esbanjaste o teu sorriso lindo por essa vida. Na Guiné eras a “siô boa”, sempre generosa e criativa na forma de te dares com e aos outros.

Tudo aprendeste sozinha e sempre foste (eras, até há bem pouco), uma mulher informada, dinâmica e um ser extremamente social.

Davas-me cabo da cabeça com a tua inesgotável fonte de opiniões que, agora, eu tanto queria conhecer, mas... não temos tido oportunidade, certo?

Sempre achei que, a todos os Anjos, devia Deus ter dado as asas – em vez de serem privilégio somente dos aprovados por entidades falíveis. Mas não faz mal, Ele e o teu mundo conhecem-te e sabem exactamente o que conseguiste : voar a Vida.

Por tudo o que viveste, sofreste, amaste, engoliste em seco, abdicaste, aprendeste e ajudaste, minha Princesa de branco na alma, não existe, neste mundo de oferendas vãs, algo suficientemente grandioso para te compensar.

Por isso, só posso o que o coração me pede : fazer com que o mundo, embora apenas este pequeno fio da Rede, te conheça e testemunhe pelo teu exemplo que a Vida só vale a pena quando se faz a diferença, quando se aquece pelo menos uma alma das muitas que cruzamos no nosso caminhar.

E tu, minha Querida, acariciaste e aconchegaste a Vida de todos, porque cedo percebeste que o mundo não é maniqueísta, monocromático, não foi Criado para julgar e menos ainda para condenar. O mundo tem dias, só isso.

Que posso eu dizer-te mais, meu Amor, que tu não saibas já ?...

Como refere a tua querida Natacha, que roubou ao poeta o seu modo de vida, "(...) Porque a vida só se dá p'ra quem se deu/ P'ra quem amou, p'ra quem chorou, p'ra quem sofreu", a grande verdade de tudo isto é que, para ti, a coisa DEU-SE.

Até já, MÃE.


Ana Vassalo

16-10-2008 - 11:33H
Posted 16-10-2008


Origem das Imagens: fotos pessoais.

DÚVIDAS DE LISBOA




Lisboa - Centro Cultural de Belém,
Jardim das Oliveiras



Se o céu se entreabrisse
e um corredor de descanso
me desse, para que eu saísse
deste rumar sem avanço,
saberia eu caminhar
e em tempo perceber
o que encontrasse ao chegar?

E nesse azul que alimenta,
como o mar me representa
a minha urbe encantada,
saberia qual a estrada?

Das barcas, que sempre partem
para um destino que anseio,
olho as velas que rebatem
a ventania em passeio
e o meu olhar se acende
na sede da plenitude.
Mas se o coração atende,
jaz na alma a inquietude…

Se a tua mão desejada
no meu sonho repousasse
e de mim tudo aceitasse
sem inquirir da cruzada,
seria então esse amor
capaz de me descobrir
neste universo da dor?

Nos cenários que revivo
e de sentir me atormentam,
como quem conhece o livro
mas de o ler não se contenta,
soubera eu dominar
(à força de o repetir)
essa vontade que tenho,
que este maldito existir,
de tão longo perdurar
me aguçaria o engenho!...

Mas se os olhos não alcançam
o tudo que a alma vê,
as imagens não descansam
até saberem porquê:
é uma questão de vivência,
onde não mora a paciência!

Se eu ousasse recrutar
dos minutos o esperar,
certamente saberia
desbravar no azul a vida,
para nela me embrenhar
e acordar leve, num dia
ao encontro da saída…

E que ao cabo da jornada
p’la cidade demandada,
fosse o meu amor Lisboa
e como eu, viajante!
E que ela fosse bastante
Nos olhos de outra pessoa!...



Ana Vassalo
1999
Posted 05-04-2009


Origem das Imagens: Webshots.

DA NOITE...

alfama night (watercolor filter)
Alfama



da noite…


no meu olhar cabem estrelas
que me acendem de janelas
nesse meu céu viajante

- despedido, sempre adiante…

mais aqui, guardo um cantar
de águas mansas de luar,
meu mar eterno de medos

onde me acolho em segredos,

Cais da Tormenta, já breve,
que se aquieta em sono leve
como quem mata o momento

de ser fúria, mais que o vento…

acordada em nevoeiro,
canto, de amores, o primeiro
que gravei no livro em branco

escrito em passos que hoje arranco!

eram meus versos de então
folhas ternas de algodão
que, macias, se ofertavam

nos laços que em mim voavam…

evadida… selo os dias,
calo na pele as mãos frias
e desse frio me aqueço

no sol em que me escureço…

sei lá eu do amor dizer,
da luz, o que me entardeceu,
das asas que fiz descer!...

sei que a noite feita eu
mora aqui… e aconteceu…


Ana Vassalo

21-05-2009
Posted 15-06-2009


Origem das Imagens: Webshots.

RECADOS DA TERRA CANSADA










Vincent Van Gogh - Siesta



Recados da Terra Cansada

EU QUERO!

Do tudo, o que me é urgente!

De face aberta acolher

as horas cheias do haver

e receber

dessas promessas de céus

e de anjos mil providentes

negligentes do que é meu!

Que me atrasam de futuros

e me sitiam de muros,

me presenteiam de amores

que me assassinam de dor

em experimentados requintes

de madrugadas por ter...

palmilhando tanto chão

evidentemente vão,

cliente da espera, ouvinte,

respirando o quero nada

a soletrar existir.

Roubando à palavra dada

uns rasgos de resistir...

E QUERO!

Do tudo, o que ousei perder!

E das perdas aprender

em que passos

da jornada

me despedi dos abraços

pra me tornar este ser

já só poeira de estrada!...



Ana Vassalo

Dez-2008
Posted 15-06-2009

DO QUE NÃO DIGO...





Do que não digo…


Na palavra cerceada,

De sopro forte e latente

Em alquimias goradas

No cruzamento das mentes,

Há um cantar de Janeiros

Que a brisa quente ignorou

E em seu chegar derradeiro

De sonhos findos me achou…

Na palavra que me calo

Paira um deserto em demora

De um certo tempo de amoras

Que o oásis não logrou…

Há uma lembrança de cheiros

Nos campos do Outubro frio…

Frondosa a mata, em roteiro,

Num deslizar de arrepios!

E existe um olhar achado

Nas manhãs de terno abrigo,

Praça do adeus desbravado

Num galopar sem castigo!

Há ribeiros de água solta

Nessa palavra que habito,

Mantos de prata que agito

No despojar da revolta.

Há uns dias em que parto

Nas palavras de sair

E vagueio na paragem…

Sou luz breve da certeza

De um fogo de ser intenso

Que em sequestro me detém.

Cego eu de paixão vítrea!

Na febre de ser mais dias

Que um viver de dias farto

E errâncias por definir,

Perco-me lá… pela margem

Sentando a vida em leveza,

Num torpor liso, de incenso,

Que pairando me sustém!...

Sei da noite inquestionável,

Desdobrada à minha frente,

A que um dia me rendi

Em cocktails de gente,

Na rasura descartável

Dos fracassos que bebi!

Havia nela um princípio

Sem fogo, mas de artifício,

Nos abraços de néon…

Estampando telas de olhar

Por entre orgias de som,

Calava um grito de mar

Na vida que tinha sede…

Das alturas, não da rede!

Sento-me aqui, penso o mundo…

É denso o mato, em ocaso,

Onde me embrenho, lunar…

De encruzilhadas me afundo,

Veludo em teias de acaso,

Presas do tempo a chorar!

Lembro as tardes do dizer,

Abraços de um tempo a ferver

Acordes de água em marulho!

Deito o meu olhar vazio

No lençol de toque frio,

Versos-cama em que mergulho.

Falo de mim… e da espera,

Nela me acho sem terra…

Nesse partir já corrente

Sou o rompante, sem brio,

De uma alvorada em desvio

Que de mim o caos ressente.

Quisera eu ser metade

De um sonho a parir verdade

E assim mesmo, já bastante!...

Mas… sou de feitos tardia…

Só me encontro, já distante,

No silêncio que há nos dias…


Sou carta de marinhar,

Farol de estrelas que arrisco

E pela saudade me abismo…

Morro no chão de voltar!


Que me cansei de nascer

Na palavra que não digo!


Sou sempre a nau de saída

Que navega a despedida

Nos olhos fartos de ver!...


Ana Vassalo

25-05-2009
Posted 25-05-2009


Origem das Imagens: Webshots.

OS TEMPOS






Os Tempos

Um pretérito assombrado
cria uma vida interdita.

Interrompi o sentido
de caminhar sem ter olhos
e não me perdi sem saber
mas antes por assim querer.
Fiz uma alma de pano,
chorei cada desengano
como se fosse o primeiro.
Nada aprendi, no desvaire,
somente reincidi:
cada tempo pioneiro,
do que era antes esqueci.
Sem desculpa, nem desconto,
cada dia conto um conto
que revivo sem remorso
neste a-viver-de-parecer,
por cada hora que torço
como quem vai aprender.
Mas que haverá para saber,
Deus meu, que me provocas,
sempre que em mim invocas
essa vontade de ser?
Ser o quê e para quem?
Sei lá do que vem por bem!
Que mais posso recriar
neste mundo a desfilar
e eu a ver,
deixando-o de mim correr?
Quem fez o mundo redondo
sempre igual nesse voltar,
circular,
mais que hediondo,
de falso se entregar?
Alguém que queria passar
essa ideia desalmada
de que a morte despedida
não se faria encontrada!...
Ah, ah, rio-me eu,
abro os olhos a compasso,
três por quatro, a acertar;
sabe-se lá porque o faço,
neste inferno de aceitar
uma existência mentida
- a minha, tão desmedida!

Era uma vez um algoz
que não se fez conhecer
mas de mansinho se pôs
na minha alma a roer.
Foi aí que percebi
o quanto ria de mim
- eu, cansada, a reprimir-me,
a consciência a despir-me
os mil erros assumidos
que ninguém me apontou!
Foram os outros de mim,
mil demónios feitos anjos,
morais de outros arcanjos
sem deterem qualquer fim,
que me marcaram a vida
numa agenda repetida.
Eis que de santos me farto!
- nem sei onde os encontrar
quanto mais de os respeitar…
Esvai-se-me a vida por normas,
de na desnorma viver!
Certa ela, é o acolher
das emoções qu’ inda ouso
pra depois logo esquecer
de que vida queria o gozo…
Estamos aqui, tribunal,
togas, bíblia e jurados,
todos juntos pra julgar
do meu presente os passados.
Não devemos lá chegar.
Provavelmente adiamos,
e o juramento de amar
perder-se-á pelos anos.
Quero, contudo, marcar
da minha vista o (des)ponto:
não há que renunciar
a ser livre devagar
só porque a pressa chegou
e abreviando o assunto,
de velhos nos rotulou.
Se algo quero alongado
é o meu futuro ensinado
por todo o tempo que eu Sou!

Ana Vassalo

1997
Posted 15-06-2009


Origem das Imagens: Ana Vassalo.

VÉU DAS AMARRAS




Véu das Amarras

Tenho um véu aprisionado
nas correntes desta história
que me vela, tudo tolda
e sussurra uma memória...
quero usá-lo, vê-lo branco,
recriá-lo neste pranto,
arrancar, mudar, nem sei...
reformar o mal sentido
em risonho...
Neste sonho não me oponho!
Quero gozar esta página,
que se alterne em fantasia!,
ou magia...

Mais magia!

Há um canto de temores,
almas mil aparecidas...
vou jogar no nó do azar
e trazê-las já vencidas!
A viver canções, jogral,
vou sem tréguas,
já sem barras,
pelas naves da emoção
que me abrigam do real.

Sem amarras...
só deixar tocar guitarras!

Tenho um véu aprisionado
no olhar, não sei chorar.
Serro grades, colo asas,
vou p'ro longe de encantar...
trago o tempo, levo a sorte
e uma vela navegante.
Vou-me achar tão perto, agora,
que o longe nem é distante...

Que o longe não é distante!

 
Ana Vassalo
1995
Posted 05-04-2009

Origem das Imagens: Webshots.

VULTOS NA MEMÓRIA

POEMA CAPA DA SEMANA EM FOTOPOESIA.BR, DE 26-ABRIL A 02-MAIO-2009



Dan Heller, "Nite-tree-shadows (2)"


vultos na memória

do outro lado da praça, as vozes
brandidas no retomar das poses,

em arrepios de permutas falsas,
abrandam ao render das garças

e chegam roucas, morrendo devagar
em leves ressonâncias de abetos,

erectos,
ali mesmo, tão concretos

e no entanto, são vultos lunares
desviando paralelos no olhar...

que doutros olhares se despede
e pelos ecos se perde

vagueando, sem ter rede...

Ana Vassalo

20-Abril-2009
Posted 21-04-2009


Origem das Imagens: Google.