NETOS

NETOS

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

REMARKABLE PEOPLE



FERNANDO PESSOA

(Lisboa, 1888 - 1935, Lisboa)


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


************
"I am nothing.
I will never be anything.
I cannot want to be anything.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."

or...

"I am not nothing.
I will never be nothing.
I cannot want to be nothing.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."


(Álvaro de Campos in "Tabacaria")




LISBOA - Chiado

LISBOA - Chiado
"Fernando Pessoa" by Lagoa Henriques. The place: "Café A Brasileira" (Brazilian Café) - 1905.

PLAYLIST TODAY




MUSIC IS THE PASSION REPORT



♥ ♥ ♥


PLAYING SOFTLY WHILE SOMEONE SANG THE BLUES



Saturday, Jul 22, 2017 - 17:57





SALVADOR SOBRAL - NEM EU [DORIVAL CAYMMI]



YouTube – "Salvador Sobral"





ANTONY HEGARTY + LEONARD COHEN - IF IT BE YOUR WILL [COHEN]



YouTube – "Oggmonster"





CHAN MARSHALL (CAT POWER) - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG [OTIS REDDING]



YouTube – "anaruido"





JANIS JOPLIN - ME & BOBBY MCGEE [CHRIS CHRISTOPHERSON]



YouTube – "ThE DuCk"





JEFF BUCKLEY - LILAC WINE [JAMES SHELTON]



YouTube – " roberta panzeri"





DAVID BOWIE - WILD IS THE WIND [JOHNNY MATHIS]



YouTube – "Peter Music HD"







_____________________


LEANING INTO THE AFTERNOONS by PABLO NERUDA

«Inclinado en las Tardes»



YouTube - "FourSeasons Productions"






CHANGING BATTERIES - OSCAR WINNING ANIMATED SHORT FILM



YouTube - "Bzzz Day"





DIALA BRISLY - A BEAUTIFUL YOUNG LADY

(a huge thanks to my daughter who e-mailed this video to me)



BBC Newsnight

«Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman - artist Diala Brisly - who is trying to make life that little bit more bearable for Syria's kids.»

Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman -...

Publicado por BBC Newsnight em Domingo, 20 de Março de 2016






A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT

A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT



FLYING A SECRET



I got here to hide. From equations and patterns. From repetition, after all.
Closed the door and got me a special place where I thought I could
somehow sit close to the stars. But I soon found out that the sky was
still opaque, no matter what the steps. And so I left. Again.

I thought, then, I could build me a different ceiling, a new-coloured scrap
of highness. And then make it work. Where I could dream, more than I sleep.
I have long decided that sleeping is overrated - that I know for sure. So I
take that time instead to travel the night alone and in the meantime I allow
myself to fly, unlike stated before... Yes, I like playing with paradox, to
expose the inside of words and the revelation of writing down the voice of a
silence. My adventurous, ever-walking silence.

So I came back. Here, within this quiet world, I intend to gather all my
things usually kept hidden or inactive. They are here to speak.

And since the future is a stand-by secret, I want to live by a precocious
clock, at every running instant of every entering second.

And I will not slow down until my "future exists now" - kind of reverse
quoting Jacob Bronowski.


Ana Vassalo
in my site "CAFEÍNA"(former "No Flying Allowed")
Nov 11, 2010 - 11:54




THE WALK OF TIME

THE WALK OF TIME

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL DO CORAÇÃO



Photo by Paulo Guerrinha, "Lisbon Christmas Street Lights"




Natal do Coração


Natal é espírito em sossego.

Amo o Natal, sempre. Tem cheiro de memórias
e cor de amor. Será eternamente, para mim, aquele momento em que a casa se enche de gente, amigos, família, vizinhos, e pela noite dentro se contam histórias de pasmar, de aventura e coragem, como - recordo sempre - as dos fusileiros amigos, protagonistas de vidas fascinantes, errantes e quantas vezes engraçadas - com giboias tomadas por simpáticos troncos de árvore a sugerir um descanso, ou encontros imediatos de respeitável grau com crocodilos lá pelo lodo dos rios - que se "entrincheiravam" lá em casa a toda a hora e tornavam a nossa vida num livro de aventuras. Ou como as de todos aqueles casais que, com os filhos no colo, muitos tão longe de casa mas outros em terra própria, em união partilhavam saudade, esperança e ternura, por horas inesquecíveis. Era uma casa de toda a gente, amiga, sem fantasmas de "distinções étnicas". Foi em África que o Natal grande, solidário, preenchido, com aroma de doces e amor, se gravou para sempre no meu imaginário. Porque era menina. E para uma criança, descobrir a surpresa que traz cada presente do Menino Jesus num tal cantinho de cumplicidade, de alegria e paz, é a felicidade encantada.

Natal é também árvore bonita, enfeitada com neve de
brincar e bolas coloridas de sonhar, como as de Gedeão, mais uma Estrela Maior que do alto nos ensina mais caminhos. E é, será para sempre presépio, para mim, porque Natal é nascer.

Eu, nasço todos os Natais: mais feliz, mais crédula, menina
outra vez. E é assim que olho o mundo, que revejo todos os amigos, os meus amores de uma vida: inocentes, para sempre.

Natal é papel pintado e fitas de mil cores, restos de
confusão espalhados pela casa. É azevias, feitas pela mãe, noite adentro, porque a tradição diz que sim e ela acha que é assim que saberão mais a amor. E é acordar a meio da noite, numa inquietação de gula, filha e eu, em excursão pela cozinha, de volta à cama de prato cheio. E é um responso com sorriso disfarçado, de mãe que se depara com um matinal rasto de açúcar.

Natal é lembrar o Outro, com coração apertado e aquele nó na garganta que se instala quando constatamos que afinal não chega para, nem a todos. E foi, outras vezes, o caminho percorrido com alguns outros, de boa memória, por essas frias ruas da Lisboa em Dezembro, levando, aos cantos mais escuros porque mais abrigados, a sopa quente de aconchego ou o cobertor providencial, a quem neles encontrava morada. Com a certeza final de que não era aquele o Natal de Jesus.

Natal é neve. E é calor. Neve porque o sonhamos branco. Calor porque o coração aumenta. É canção de sinos e é um beijo sentido: dado sob a árvore, ou ao ar livre do mundo.

Sou mais feliz no Natal, sim, porque tudo nasce bonito, e passa pelos meus olhos.

No sapatinho, eu só pediria uma coisa: justiça. Em todos os lugares onde está omissa.

Não sei até que ponto consigo passar-vos esta ideia de plenitude que este momento do tempo, a cada ano, me empresta. Mas é muita. É uma felicidade de criança, que bate as palmas de júbilo e ri de gargalhada solta. E é essa que quero partilhar convosco. Por mais triste que seja, como poderia considerar o meu Natal de hoje, ele é sempre o que é, grandioso e inigualável, quando cresce no coração.

Aos meus amigos queridos, a minha família bonita e amada, as crianças do mundo, os sem-abrigo, os enfermos, os idosos sem família, os "cuidadores" de doentes, os reclusos, os solitários, os esquecidos, os animais abandonados ou perseguidos e, por fim, a todos os seres que de algum modo aprenderam a esperança, eu gostaria de poder oferecer um NATAL como aquele que me vai no coração.

Beijo feliz!


Ana Vassalo

in facebook
22-12-2010 - 00:18

Origem das Imagens: Paulo Guerrinha in "lisbon-christmas-street-lights-via-webcam".

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

RESTO








E ao fim do dia, no segredo da nossa rendição

incontornável, somos apenas resto: das

algumas coisas que por fim nos encontraram;

e das outras tantas que para sempre não

vieram.


Ana Vassalo
10-12-2010 - 21:45


Origem das Imagens: site "vi.sualize.us/beauchampniven/blue eye".

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A ESCOLHA DOS HERÓIS...



Já devia BASTAR, sim, de MEDO!






A Escolha dos Heróis...




Segundo o jornal "SOL", não é primeira vez que uma "febre" toma de
assalto o facebook, citando, entre outras, a do "status colorido" de há
tempos atrás. Perante as insondáveis reacções negativas a esta "febre"
actual da BD, cujo propósito, tanto quanto me lembro, era o de
recordar, homenageando, heróis de infância, sou obrigada a constatar
que habito hoje um mundo a preto e branco.



Como se chega, tão rápida mas tão rebuscadamente, da Mafalda ou do
Peninha, aos horrores da pedofilia é algo q me deixa boquiabertamente
apreensiva! Será assim de concluir que o melhor, mesmo, será - aposto!
- trancarmo-nos todos em casa e nunca mais trocarmos esboço de
palavra com ser humano que mexa, em lugar algum conhecido do
planeta, já que só assim ficaremos devidamente salvaguardados de
todos os perigos, não só do mundo, como e sobretudo da vida.



E se, enquanto nos mantemos tão sensatamente resguardados, por via
de qualquer sádica ironia alguma catástrofe natural ocorrer que nos
roube, ainda assim, a idolatrada segurança, teremos sempre o consolo
de saber que fomos escrupulosamente cuidadosos com a nossa preciosa
vida, que acabámos, enfim, por não viver!



Diz, quem sabe, que o mais paralisante vírus passível de atacar o ser
humano é o medo. Sejamos, então, cuidadosos, providenciais.
Alimentemos os nossos medos a pão de ló de segurança e comecemos
desde já a escrever, com os nossos sucessores em mente, o "Manual
da Providência para uma Vida Segura". O futuro, tal como o presente,
estarão regiamente assegurados de tédio e escuridão, mas talvez os
90 anos de longevidade eventualmente subsequentes compensem...

Afinal, o bocejo pode mto bem ser a resposta para a impertinente ruga
facial, que teima em azucrinar-nos o juízo a dada altura do caminho,
esperançosamente perfeito e sem sobressaltos. Estaremos todos
mortos de chatice, mas inquestionavelmente belos!... Pena que, do
aconchego hermético das suas benditas redomas, não sobre ninguém
para ver, não é?



Quanto a mim, apetece-me muito, agora ainda mais, continuar a
recordar a Mafalda, tbem ela "providencialmente" proibida nos tempos
da censura e um risco para a segurança dos que a liam então. Quem
sabe se não foi esse risco, como tantos outros assumidos, que permitiu
às gerações seguintes o sossego de uma liberdade em leituras e heróis
a gosto e, infelizmente também, do passo que não se ousa e a outros o
passo novo e diferente desfaz... Uma liberdade que escolhe, que

inventa, que voa!...



E tantas vezes também, o mais das ditas, autodestrói as asas com que
nasceu...




Ana Vassalo,
in facebook

18-11-2010 13:18



Origem das Imagens : Quino's Cartoons - "Mafalda".






quarta-feira, 10 de novembro de 2010

OBJECTS & SEMI-VIEWS





KILLING TIME...



(a face, a hand and a cigarette)



THE HAND BEHIND FEAR



(a face & a hand)



FIRE OF GOLD



(a candle & a golden metal box)



REFRACTION OF LIGHT





(a face, a candle and a glass box)



FIRE OF GOLD II


(a candle & a golden metal box)


GLASS VEIL

(a face, a candle & a glass)


AFRIKAN LOOK
(a face & an afrikan pottery box)


A FLAME IN A GLASS

(a candle & a glass)


Ana Vassalo
10-11-2010 - 00:55

Origem das Imagens: my webcam & me.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CAMINHAR...






"Walking in the Sand" by Jennifer Robbins-Mullin



(Gosto de pensar que há grande sabedoria nas formulações da monástica medieval:

o monge, asceta, privado de todo o supérfluo terreno, vive em total recolhimento,

em meditação e pobreza, buscando o sentido e a verdade da existência. "NASCER


É PARTIR, CAMINHAR É VIVER E MORRER É CHEGAR", assim medita e escreve,

nos "scriptoria" do mosteiro, então lugar exclusivo de produção e difusão da cultura.)




CAMINHAR...


Às vezes, só às vezes, por um breve segundo interrompido nas horas repetidas que

nos cercam, surpreendemo-nos pequenos, num despojo de fim de dia que reconhece

o sentido nas razões do caminhar. E a essência que era oculta perde a força de

segredo. E surge, brilho ante nós, cristal nu da eternidade, mesmo ali, desse longe

enfim chegado, a cada sopro de brisa, cada árvore milenar, de uma asa levantada ao

desbragado luar, a cada montanha altiva com picos feitos de céu, e o que mais nos

acompanha, passagem que somos, já breve...



Paramos então a pressa, na ânsia de receber o que antes nem nos tocou, e respiramos

completos a coragem de ser vida: na verdade já esquecida de um beijo que não tem

data, do passo a saber o ritmo que dança de fantasia, do sol tão bravo de si que nos

fustiga de luz e larga por fim a lágrima que chora um olhar feliz... na explosão de cor

em festa no jardim grato da infância - que já crescemos, sim, mas nunca partiu de vez

- do som heróico da banda na alegria da parada, as ameias defensivas a ruir na emoção,

ou gritos em gargalhada nessa praia tão antiga que dividimos pelos anos com amigos de

ombro eterno... da festa de verão tardio na terra a saber a pátria, da fartura quente e

doce em açúcar amarelo, do baile feliz de aldeia que à idade não contempla, do lapso de

idade na mente, assim tão lúcida, que rouba sem hesitar o possível que há no sonho...

do sino que bate o tempo pelo eco do silêncio, ou a ribeira em desassombro a correr

novas demandas ao murmúrio dos pinheiros, do livro em branco rescrito pela cor certa

da memória... E um calor de mãos unidas à beira-mar do amor!...



Às vezes, só às vezes, somos enormes de vida!... E percebemos, então, que o tempo

sabe de nós as respostas por viver.



Ana Vassalo
19-10-2010 -23:59

Origem das Imagens: site "Antithesis Common.com".

sábado, 9 de outubro de 2010

CONVERSA COM A VILANAGEM


"Corruption" - Autor Desconhecido.




Conversa com a Vilanagem


Estou aqui, sim,

nos antípodas da razão

que da cedência é afim

e a raiva urge de acção

neste desprezo infinito

que nos impõe o regresso

por vós, rigoroso detrito

de tanto errar inconfesso


nos estendais da ironia

morre-nos a pele de tão fria

num ódio que perde o freio

e cospe de papo cheio

o engano repetido

prostrados pela guilhotina

que executa o tempo ardido

numa esperança cabotina


da vergonha que enche a pança

na miséria em abastança

do chapéu alto e charuto

do corrupto em esgar enxuto

dos ordinários da vida

na excelência da subida,

somos história que sucumbe

no auto que não nos coube


estou aqui, sim,

p'los escaparates do escárnio

que a vampiragem exibe

numa comédia sem fim

em despudor de emboscada

que dos incautos exige

sangue e alma embalsamada

num silêncio de obséquio


estou de violência armada

de ferros e farpa em riste

o peito feito à garraiada!

venham cornos marialvas

demagogias papalvas

que eu sou de medos castrada

e de razões sou honrada

p'la justiça que me assiste


saibam, coiotes da fé alheia

salteadores de colarinho

favores no prato vizinho

e promessas de panaceia

na profetagem fiel

ao milagre de cordel,

que estamos cá, sim, de atalaia

aos engodos da ganância!


e à cega petulância

que se alimenta de arraia

daqui desgarro o meu grito

de afrontar a vilanagem

- que nas forjas do delito

caldeia um Povo a coragem!


Ana Vassalo

08-10-2010 - 23:50

Origem das Imagens: site "timorhauniandoben".

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

SONETO DE IRMÃS



(Propriedade de minha mana Zita Vassalo)




Soneto de Irmãs


No caminhar da nascente
Fomos água de abraçar,
Olhos de cor inocente,
Coração além do mar.

Fomos riso, chita e flores,
O sol em festa, a luz dançada,
Tropicália de sabores,
Pó da terra e pele molhada.

Soletrámos a diferença
Noutros livros de aprender
O rasto da liberdade

Que corre a ternura imensa
Deste amor feliz por ser,
Hoje, pátria sem idade!


Ana Vassalo
07-10-2010 - 02:59

Origem das Imagens: Ana Vassalo.

LIBERDADE





"Freedom" - Autor Desconhecido.




Liberdade


Somos força a acontecer
a liberdade aspirada
que vive em nós como o ar
senhora do sangue a morada

E somos leves nas trocas
de um corpo sem amanhã
que mesmo quando sucumbe
se liberta enfim do nada

Somos mar em enseada
no repouso de voltar
ou uma asa que não rima
voz do grito com luar

E é livre o pensamento
em correria largada
ao tempo aberto que ensina
dos finais que há na chegada

Somos jangada e deriva
na solidão alcançada
no céu pesado de chuva
ou namoro de alvorada

E somos escolha em coragem
ou cobardes na indiferença
fracos, valentes, pancada,
deserto, paz ou sentença

Somos de nós uma agenda
de eventos por decidir:
no trilho o pó da jornada
na alma o sol da emenda

Liberdade é sombra andada
da consciência que vence
a cada passo acertada
p'lo norte que nos pertence


Ana Vassalo

07-10-2010 - 22:40

Origem das Imagens: site "Filosofia Uma Edificação do nosso Ser".

OLHARES DO VENTO



Título Desconhecido - por Paulo FP Palmela




Olhares do Vento


Sei da vida em adicções
a drogas tantas que invento
trago um cavalo a galope
na casa do pensamento

Do que sinto quero ver
sonho a cores o papel
branco de vida a correr
no arrepio da pele

Olho-me em luzes sem fim
que acendo a ritmo de vela
roxos, rosa de euforia
e contornos sem cancela

Desenho no tecto o fogo
em labaredas urgentes
que os olhos tão cheios de frio
são de mundo já doentes

E no céu da noite o negro
das viagens mal pintadas
traz o pavor ancestral
da liberdade assombrada

Dos bons costumes e norma
há o meu "não!" sublinhado
que a vida não sabe ler
o vazio acrescentado

Oiço a música no crescente
das luas de mar calado
fecho os olhos miro o som
dos silêncios aliado

É mentira, é dia branco,
contradição, inocência
- loucura sem agonia
bendita seja a ausência!

E é paz na multidão
a solitude ansiada
o afago, beijo, o adeus
de um partir sem querer morada

Floresta, cruzes, princesa,
ou a barca em alto-mar,
girassol, tinta e a pena
da palavra a marinhar

Sou universos sem estrela
depois lapso de lugar
ora lava, o pleno escuro,
ou supernova e glaciar

Sou encontro além da mente
na memória atrás do fim
volto na rosa dos ventos
que às vezes gostam de mim

E sou de sonhos lugar
se a vida me morre o tempo...



Ana Vassalo

07-10-2010 - 23:13

Origem das Imagens: site "clientes.netvisao.pt/pafepipa".

DO VOLTAR...




"The Midnight Sun" by Anda Pereczcky 



Do Voltar...


sabes, o céu tem alvuras
e muitas páginas por ler

que protege nas alturas
o futuro por saber

há o amor preso nas horas
e há o abraço que demora

o voltar que junta as mãos
em laço e celebração

e a vontade de correr
a liberdade do mar

estou aqui a indagar
da pontuação de esquecer

neste conto sem regresso
sei o tempo que não é

no relógio acerto a fé
e de ilusão me adormeço

voltar...
é essa onda a sorrir
que o coração quer abrir
num mau momento de mar...




Ana Vassalo

28-09-2010 - 01:26

Origem das Imagens: site "Isilmetriel.deviantart.com".

sábado, 2 de outubro de 2010

PORQUE EU NÃO TE DISSE TUDO



Silent Girl by Tricia Dower






Porque eu não te disse tudo



Porque eu não te disse tudo...
que este vazio companheiro
se rebentava de mares
na vaga em que tu chegavas.

Que o galope do meu peito
p'la saudade que és em mim
me acrescentava de sóis
o negro de tantas eras.

Que a palavra tão só tua
no toque da noite imensa
me inventava de cetins
a escarpa que eu sempre fora.

E o génio em que te escondes
ensinava no meu tempo
o retorno do eterno
que por ti acontecia.

Eu não te disse as searas
aquietadas de brisa
no momento catedral
de rirmos a madrugada.

Porque eu não te disse nunca
que o mistério do que és
se adensava em sonho meu
p'lo teu mundo delicado.

De mármores, de seda e chás,
com Arábias de Poente
na leveza que há nas sombras
e nasce perto de ti,
Tu, Caçador que és do Vento!

Porque eu não te disse tudo,
por seres mais do que posso
no tanto que me levaste...

Neste coração sem asa
o futuro perdeu céu,
dorme de frio por ser chão.

E a tristeza é não seres hoje,
A noite não ter finais
E o vento não ser marfim!...


Ana Vassalo
01-10-2010 - 23:50


Origem das Imagens: "Oldmustybooks.com" - Silent Girl - Short Stories by Tricia Dower.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sem título







Estás aí?...


É que não te vejo pela minha casa de recurso há muito tempo... Poderias, sim, andar pelo mundo, ocupado, mas também não te tenho visto por lá,
até onde esta alma alcança...

Estou contigo, agora... Ainda. Por isso estou aqui. No tempo que vale um momento... Pelo muito, triste tempo de eternidades, que não estive.

E vou-te sentindo, em pedaços sem aviso, o que os torna mais credíveis, mas...

Sabes que vou e venho. E que fujo, de ti como de tudo, de ser e não ser, no pleno deste talento raro que me concedeste e uso sem cerimónia nem gozo. Jamais aprendi a ficar. Tu sabes.

Será? Poderás reconhecer a angústia de Ser não sendo, tu que não És, porque ser somos nós da tua omnipotente criação, a quem inventaram uma gramática sagrada? Ou não? Não... Distrais-te, sim?

E afinal, estou sim, ausente de ti. Por ora. Sabes que voltarei, tens a chancela do inevitável. E de pai. E eu amo todos os meus pais, sim, os terrenos imperfeitos e tu, que inventaste a perfeição. Há muito que não sei nada dela, também não tenho visto por cá os emissários da dita, sabes?

Estou assim, inacabada pela tua mão.

Depois... Bem, depois não há como sair, conheço mal as tuas portas.

Esquecia-as há muito tempo. Saí uma vez, tão criança e revoltada, e andei pelo mundo concreto, sem rasgos de criação. Fui muito mais infeliz, assim - acho que te empenhaste. E de repente, muitas, tantas luas depois, voltei, inapelavelmente, pelo silêncio da tua cumplicidade numa igreja bela e fria, tão altivamente só quanto eu. Não te falei,
mas tu escutaste-me... Senti-te por lá, numa leveza invisível que toca o ar que choramos...

Como te senti tantas outras vezes, em alívio sussurrado na minha mente que informava "não, ainda não é agora"... No hospital, na escola, no mar, e de novo na escola, na maternidade, na estrada... Tão perto e tão longe, não é? Pergunto-te muitas vezes porquê, mas não é suposto questionar insondáveis desígnios, esperançosamente Maiores... que o quê?...

Queres-me cá, mas não sei bem se te percebo... Sabes que preciso da minha casa, aquela que nunca encontrei... que sabe e ensina o sorriso que perdura, a espera e a paz... Sabes mais, que aprendo pouco, que me perco no caminho, pela sede, pela fome de encontrar o que ainda não tem nome por não saber o que procura, mas sabes também que eu acredito que está lá e talvez, apenas talvez, seja só minha a inépcia, no desencontro.

Ou tua a indiferença, medito. Crueldade, será o termo? - já que eu dou às coisas o nome que as coisas têm...

Insistes em abrir uma nesga de outras portas, das tantas que te entreténs a entornar pelo caminho. Onde me sei feliz na entrada, mas donde só enxergo a saída pela fuga, escusa e apressada, tão vertiginosa às vezes, que o estrondo é assustador. Não para ti, que, sentado, deves observar tudo isto com a bonomia de trindade que te assiste.

É que não te entendo, lá está. É muito espírito santo para mim, já sabes que sim - digo-to vezes sem conta mas tu ris-te e viras-me as costas. Depois voltas, mas nunca explicas porquê. Fico-me, então, pelo pai e mais ainda pelo filho. Esse eu reconheço, soube de tudo o que há para Ser e como nós, quase desistiu.

Vejo-te assim, os dois somente um, e imagino-te um poder conquistado pelo conhecimento do infinito, a unidade que se toca, e que é volátil...

E penso-te assim, enorme num Saber de Templo que já foi Carne. E é por isso que voltas. Ou é por isso que eu volto...

Estás aí? Ainda?...

Sei que sim, e não quero saber, entendes? Não te quero no meu mundo, com a tua mão experimentada de acenos, brandindo a luz, a queda, a esperança ou a escuridão... São muitas coisas que pões na mesa do jogo, baralhas e partes, mas não dás. Mandas escolher, em liberdade, como a que é livre nuns olhos vendados...

E por fim, daqui te digo que hoje, em horas demais contado, a tua luz já não me ilumina. Estou presa na noite, onde me perdi há uma vida... Em busca do descanso. Da casa que me falha. Que tu tens fechada e encerra
a resposta, que me escondes. Fico a pensar-te...

Como raio posso eu Ser sem descobrir o que sou? Ou o que quero para Ser?
Revelações... Tens?

Eu não, mas não é suposto. Volto depois, um dia destes, com menos desencanto. Sei que estarás aí, como estás sempre. Só não sei se sou eu que te invento... ou se gostas que pense que sim.

Sei que amanheço, depois. E que o meu peito voa, quando falamos os dois...



Ass.: apenas eu.

02-09-2010 - 15:25

terça-feira, 31 de agosto de 2010

CANTIGA DE OUTRAS VIAGENS



Duarte Pacheco Pereira, "ESMERALDO DE SITU ORBIS" - 1533

("O Mar dos Lugares da Terra")-Livro de Cosmografia e Marinharia







Cantiga de Outras Viagens




[do meu 'livro' de passeios

abraçados ...]




Tenho barcos de papel
Ancorados na saudade
Flores secas cor do tempo
Coisas velhas de ternura
E o teu passo de aventura
Largado pela cidade
Traz um sonho que é só dele
E se acorda pelo vento

Pinto a traço permanente
O poema prometido
E uma asa para sempre
Voa o céu de outra verdade
Ao farol que era perdido
Chega a luz do sol nascente
No meu peito adormecido
Bate um mar de liberdade


Anda, traz o livro das miragens
Do mundo que ainda não corremos
Segue o meu abraço na viagem
Pela margem que não conhecemos

Está no livro dos amores que arrepiam a paisagem
Abre a janela maior do coração que atendemos


Digo o outono das searas em palavras de esquecer
Dou uma volta pela noite da canção interrompida
Fecho a porta que me lembra tanta carta por escrever
Abro na palma da mão a centelha de outra vida

E amanhã sento-me aqui nos degraus de te aprender...



Ana Vassalo
31-08-2010 - 16:59

Origem das Imagens: "Biblioteca Nacional
- As viagens dos Portugueses - Esmeraldo de Situ Orbis".

domingo, 29 de agosto de 2010

NO PRINCÍPIO, O VERBO







No Princípio, o Verbo



" No princípio era o Verbo e o

Verbo estava com Deus e o Verbo

era Deus.

(…) N’Ele estava a vida e a vida era

a luz dos homens. A luz brilha nas

trevas e as trevas não a receberam.

(…) O Verbo era a luz verdadeira,

que, vindo ao mundo, ilumina todo

o homem. (...)"



(João 1:1-3)




[No (meu) Princípio era (outro) o Verbo...]



Cada vez mais me custa pronunciar a palavra "hoje": começo a

mastigá-la e a degluti-la diariamente, sem sabores de surpresa.


Perdeu força de variante. Supõe-se, por natureza, como

autónoma de ontem, véspera aliciante do insondável amanhâ,

que insistimos em prenunciar como isso mesmo, a visita de um

bocado aproximado do futuro.


Mas hoje, este meu interminável hoje de quase três anos, tem

apenas mais tempo andado, carrega a continuidade estática

desse "hoje" que já foi ontem, e que o fora ainda antes.


E no entanto, não há como combater a imobilidade que não


nos pertence, que existe ao nosso lado e determina o nosso

ritmo, mas não é ou foi alguma vez nossa, porque também

nossa não é a escolha. Decidimos sim, tratamos as premissas

como
opções mas optar nunca foi uma possibilidade efectiva.


Entre o amor pelo outro - que nos conduz à decisão em prol de

alguém, a ignorar a pequenez dos egoísmos de estimação e a

tentarmos apenas sentir, na pele do outro que já não domina o

presente das horas, que num lapso ínfimo do tempo perdeu


para a doença o verbo "escolher" em batalha desigual e previa-

mente decidida, que nos torna, enfim, conscientes de que existe

um conceito de "livre-arbítrio" para exercer interiormente no

melhor de nós mesmos - e o amor que nos sentimos, optar por

nós assume o contorno da aridez, de alma posta em deserto.


Mas esta contabilidade de custos comporta o negativo do

resultado -- o lado não visível -- radiografado e devastador.

Seguimos o coração, sim, mas o peso da circunstância racional,

sem desvios ou possibilidade de recuo (que para sempre nos

roubariam a inocência), torna-se dolorosamente paralisante,


muito além de todos os cenários equacionados. Aniquila-nos no

tempo, formata-nos o segundo, retirando progressão ao

caminho e validação
ao imaginário.


A perspectiva de um futuro a acolher - e naturalmente viver -

perdeu-se, a termo incerto. Não há como contornar a realidade


que, sendo-o a toda a extensão da sua inesgotável criatividade,

nos transcende e se posiciona para além da vontade - essa,

que sobranceiramente pensámos um dia como o motor de todas

as coisas. Percebemos, na pior das demonstrações, que não é.


E daí, quem sabe, acabe por sê-lo, ainda que num outro plano


encoberto. O que, todavia, de importante retenho para mim é

que nem sempre a nossa vontade nos conduz à conquista do

visivelmente melhor para nós.


De facto, não. Por vezes, o Amor, a gratidão de homenagem


que sentimos dever a outrém, por tanto arco-íris da vida

perdido a nosso favor, conduz-nos por insuspeitas vias outras,

que não poderíamos sequer antecipar.


E o coração? O coração vence, no inventário das razões. Porque

Amar é também ganhar quando todos os indicadores parecem

exibir a derrota de nós próprios. Suceder, por uma causa além


de nós. Mas que é também nossa, afinal, e não tão remota-

mente quanto se nos assemelharia antes do confronto.


O castro fortificado que é a consciência não guarda apenas


a norma. Existe nela um passo de transposição que nos torna

ora no melhor que podemos buscar em nós, ou em simples

máquina de avançar. E aqui, sem réstea de dúvida, a escolha

é nossa.


Escolhi o Amor.


Perdi o tempo renovado. Mas neste estático rumo de mim, no

aparente vazio de amanhãs por cumprir que é presença cada


vez mais velha nos meus dias, descubro-me na vontade férrea

e inamovível: a minha. Aquela que abre a porta, a deixar passar

esse Amor que me gravou a fogo na memória a palavra mais

plena de Tempo que o conhecimento me vai desvendando.


A palavra Universal em nós, que não valida o sinónimo.


A raiz, o espaço primeiro, o princípio abraçado.


A circunstância de Sermos. O verbo e a nota, a pausa, o Globo.


O princípio de todos os Mundos, contido, explicado e possibili-


tado somente nesse compasso que nos bate no indescritível

conforto da alma.


Que é alvorada e poente de nós, nessa unidade que somos no


abismo e no salto, na verdade sem complexos.


O canto da palavra que acaricia e que dói, que nos para o


tempo no dia de ser já só epitáfio, mas lembra de nós e para

nós eternidades de paraíso.


A música, irrepetível, da enorme palavra Mãe.



Ana Vassalo

28-08-2010 - 22:05

Origem das Imagens: site "Bits n Bytes of Life.Wordpress, by Arpit".

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

GEOMETRIA DO PLANO

 
Geometria do Plano
 
"Um plano é uma entidade geométrica formada por
infinitas rectas e infinitos pontos.
Para traçar um plano, três pontos não alinhados
são necessários.
O plano tem duas dimensões - é bidimensional."

 
hoje
fez-se a presença do tempo
em corpo e espírito aqui

são três instantes de ti
na história que me rescreves
em compêndio que encerrei
para me lembrar de mim

antes de ti
fui a romagem do túnel

depois de ti
só o paraíso vence

porque o céu perdeu altura
num breve ponto do espaço
que se despediu de ti

e o meu lugar de sentir
tem alvoradas suspensas
que me anoitecem de querer
porque já não estás aqui

perco o rasto de me achar
desacertada de cosmos
no tanto que me procuro

mas

no espectro (enfim) visível
do meu sol que te repensa
nasce um fotão aberto
de cores em gestação

e o núcleo renovado
na génese que se recria
já de mim enforma o ser
que tem fome de ser mundo
antes de ti

fui timidez de crepúsculo
informidade de areia
modo instável de ficar

testemunho da erosão
desagrego milenar
que desvirtua o lugar
já depois...

há o acordar da semente
o ciclo perfeito das águas
o livro de marinhar

é que...

nesse tempo acontecido
em unidade das almas
fui caminho de poetas
no restolhar do segredo

a fúria do mar-agosto
num contratempo de luas

ou silêncio dos felizes
em namoro com a lembrança

conheci o riso largo
congelei o passo certo
ensinei-me a voz de ser
e encontrei-me com os deuses
numa terra generosa
divisando em cada aceno
um orgulho que se oferece
aceitei-me nos escombros
na paragem
no refúgio

agradei-me no néon
na gargalhada
e no génio

fui alcance e fui incógnita
e fui contente de mim
e um "bocado do mundo"
porque tu me vês assim!...

na palavra que te dei
revivo um plano de ti
num dia certo de encontros
à esquina de te saber:

O Fado?...

O Fado é viver ausências

que nem a Saudade ousou...


...

e no entanto...

onde era um pássaro caído
nasce uma asa do tempo
- que te voa já esquecido.
 
Ana Vassalo
26-08-2010 - 01:37

Origem das Imagens: site "Gary Winberg".

DO SILÊNCIO QUE NOS GRITA



Do Silêncio que nos Grita


Há silencios repetidos na palavra que desfere,
que crava o ferro
e finca a garra
e rouba o chão,
e pisa mais um rasto de evasão
no destino interrompido que nos espera.

Porque há palavras finais
que atacam de súbita doença os murais
da nossa alma, um dia branca, agora feia,
fervente, na dúvida que nos enleia,
de violência acossada,
p'la infância subtilmente assassinada.

É o silêncio repetido do que lança
da masmorra de dor adiada,
mimetada, irreconhecida, dolorosamente crua
no inferno experimentado,
o verbo feito punhal, que dilacera a carne sua,
e se transvia no Outro p'la urgência do descanso.

E é também o silêncio do que ouve
e entontece no descrédito,
amarfanha e deita fora, como quem mata o que soube,
o golpe rasteiro, a chaga como um rito
na pele sobrevivente do que já foi unidade,
desacerto no presente fraccionado da vontade.

É o espelho de nós
reflexo na razão outra que nos mira, quando a sós
nos surpreendemos cruéis na batalha que sucede,
áridos, no retoque que se perde.

É o silêncio repetido dos abismos
ressonante no eco da vastidão,
do tanto que fomos idealismo,
do que seríamos, em projecção.

Da viagem abortada ao centro do amanhã,
do incomensurável talento da renúncia,
da morte adiada por inépcia,
de todos os fins reunidos p'la manhã.

Há silêncios repetidos na palavra que não pensa.
Porque fere, porque dói e arremessa
pelo vento, desprevenido no caminhar da rosa,
o sopro último da nossa crença interdita
- ensaio do alívio, pela dor que é transferida,
exorcizando no espelho a morte que é já nossa.

Urgente é o andar para a frente, que nos falha,
eventualmente a razão,
o salto na conquista da muralha
na memória em cicatriz,
o tímido aceno de um lugar que foi feliz
e o reflexo escreve a História, que reconhece a missão.

Que sobrevive a cruzada,
lambe a ferida perpetrada,
desfragmenta o efeito
e concilia o embuste,
arrasta, por nós, um tempo de reajuste
na saudade da palavra conjugada no perfeito.

Mas é só repetição, avanço de contra-asa,
mecanizada nos mil anos já somados
de silêncio, recolhido em nossa casa,
num bairro antigo de pilotos magoados.


Neste silêncio de feras acorrentadas no frio,
é finalmente gelada a minha alma de ferir,
sequestrada nestes olhos, negros de resistir.



Ana Vassalo

25-08-2010 - 00:25

Origem das Imagens: site "autreach.backpackit.com".

terça-feira, 17 de agosto de 2010

TEMPO DE "BONECOS"!



(ou Bonecos do Tempo?...)






Tempo de "Bonecos"!



Não aprendo ou reconheço um tempo certo de ti.

Encerrei, adentro a frágil muralha de que me vesti,

um pêndulo estafado e dois ponteiros viciados,

que um dia roubei do mundo entretido a somar vidas,

para não mais correrem coisas de horas aprendidas

no meu património completo de vazios certificados.


O gume ou recado o vento e a fresta

carícia rochedo o sussurro e a terra

a janela a pausa deserto e margarida

o grito e o mar o imenso vale da saída,


tudo é por comprovar, no desencontro das águas.



Somos firmes, quase nobres porque inertes...

Do calado verbo límpido cedo vertes

a saudade que me dói antes da mágoa.



Serás pretérito perfeito no alvorecer da audácia,

e o lamento do remorso céu tardio de eficácia.


Por fim, ruí.


Recolho, dos degraus que antes fui eu,

o escombro patético de um ensaio de vida,

mas da fórmula inacertada da subida

quem sabe, eu rasgo a lei e ergo o céu!



Ana Vassalo


17-08-2010 - 03:45

Origem das Imagens: site "Mission Fit Possible".

sábado, 14 de agosto de 2010

RESPOSTA




Pierre-Auguste Renoir -
Young Girls on the River Bank



 
Resposta ao poema "COMO ATRAVESSAR O MEU RIO" de ZITA VASSALO.

Mana, ensinar não posso, que tbem não sei... Sei dessas palavras lindas,

que ofereces... Mas posso inventar, como tu, mais um rio, no mesmo mar...
E talvez chegue o luar... Sentadas as duas, no chão de dançar!

' Bora lá experimentar?

Resposta
eu tenho um rio
a correr junto do teu
que carrega novas fontes

e um sorriso que se viu
céus de fogo e Prometeu
largado por horizontes

e no curso traz a rosa
cheia, bela e assombrosa
dessa cor que ensina o mar
a correr no teu olhar!

dou-te a mão
agarro a tua
recolhemo-nos do frio

navegar é ter mais rio
e é ser asa pela lua
de voar o coração!...


Ana Vassalo
03-08-2010 - 03:29
Posted: Facebook 03-08-2010.

Origem das Imagens: site Webshots.

REGRESSO







William-Adolphe Bouguereau - "Two Sisters"



Para a minha mana querida e linda, Zita Vassalo.
(como beijo que a saudade adiou
mas por fim se acha cumprido.)






Regresso


e se um dia

eu me esquecer p'lo vento

dessas ruas
viajantes da surpresa

eu sei
que é solar o olhar branco

onde brilha sem sossego
o límpido aceno eterno:

rumo da terra mais certa

sulcado p'la tua mão



Ana Vassalo

01-08-2010 - 04:41
Posted: Facebook 01-08-2010


Origem das Imagens: site "Wikimedia Commons".

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DECLARAÇÃO

love to drink bottle 31000 pictures, backgrounds and images





DECLARAÇÃO



Defendes-te, no outro lado da mesa,

mesmo em frente dos meus olhos de sair.

A garrafa de vodka meio afogada

de tanta inconfidência mal bebida

estrondeia displicente o mármore aflito

da nossa declinante parceria.



Buscas na memória batalhas de outras praças

cumpridas até ao fim, sem o cansaço da perda.

E tocas-me na mão, como quem fica

- o regresso apenas mito que se arrasta

- e dos silêncios enrolados na garganta

adivinhamos o fim, perfilado nas saídas.



Temos, por nós, um tanto de partilha,

efêmeros pedaços de além-mar

repetidos na saudade de um abraço

que a renúncia digerida aniquilou.



Não seremos circunstância do futuro.

Entreguei hoje, bem cedo na coragem,

desalinhada de coerentes argumentos,

a minha breve declaração de imprincípios.



E enquanto os editais da razão entronizada

se afixam no teu olhar de recusa,

os restos mortais de uma vodka empenhada

gravam, no foco resistente da ternura,

o curso do meu olhar pelo mapa desejado

do teu rosto. Num instante interrompido.




Ana Vassalo
09-08-2010 - 01:45

Origem das Imagens: site "Layout Sparks.com".

OLHOS







Tentativa de poema a duas mãos, de dois amigos. Ao correr do dia...





Francis e Ana, Domingo à tarde.





Será "OLHAR" importante?







"Beautiful Eyes"

E se fosse ele, o nosso olhar, o único meio disponível para "falar" com o mundo?...




Olhos


O que são os olhos? Para ti…

são, tantas vezes, estrada no pó

Estradas no pó? Sem fim…

depois, já rio cheio de mar,

rio cheio de mar, o horizonte…

o desafio,

ou paragem desistente

na pergunta que era fé,

a fé que era da fonte…

e o regresso,

chama no rubro da vida

que é fogo de acreditar...

o regresso que vejo no teu olhar…



Ana Vassalo & Francis Ferreira


08-08-2010 - 15:36

Origem das Imagens: site "Photos-of-the-year.com".

sábado, 7 de agosto de 2010

NO STRINGS...






















Ana Vassalo
2009
Origem das Imagens: Ana Vassalo


RASCUNHOS







Rascunhos



Passámos a cidade de adormecer

tantas vezes

juntos nas horas de até amanhã

os sonhos postos em dia

eu nos teus, talvez

tu impreterivelmente nos meus

em gestos de troca tão esperada

que só o cansaço das horas

no corpo refém da morte

me apagava enfim a luz

de sermos apenas um



e no entanto, tão longe

tão provisoriamente juntos

no imaterial encontro

no incorpóreo toque



desenhando janelas


nos tempos mais velhos...

um soslaio de segredo a despontar

a vontade de ser em ti muito mais

q o calar dos incómodos previne


e fomos a esteira macia do outro

a passadeira do riso que se larga

eu rosa


eu epopeia

por finalmente livre

no manto de conforto

que o coração já frio
reclama


e o beijo da palavra

ansiado pela boca

escreve o livro de nós dois

que guardo só para mim



foste...

o meu verão da tempestade

acordaste-me


suave

do inverno onde me escondo

e ofereceste-me essa asa

que voa o gosto de mim

que abraça de céu o teu nome

a guardar lugares de além

na memória rascunhada


logo depois dos começos

à revelia dos deuses



agora

sou um passo em suspensão

um lapso no movimento

de gerar vida no tempo



é frágil a percepção

é perdido o espaço-ser

autista na dor do mundo

inútil a maresia

e a sorte

a espada

o trunfo

a glória

o arremesso

a cruzada

o despertar

o caminho

a liberdade!



agora

não sou

doi-me a distância

e é fixo o verbo olhar

que não te vê por aqui



mas global, sim

de universos intangíveis

no imprevisto do rumo

que te conduz até mim



tão certo

porque é de ti

... logo infinito



Ana Vassalo


07-08-2010 - 00:29


Origem das Imagens: site "Day to Day Crisis" (autor ou título da imagem não definidos)