NETOS

NETOS

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

REMARKABLE PEOPLE



FERNANDO PESSOA

(Lisboa, 1888 - 1935, Lisboa)


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


************
"I am nothing.
I will never be anything.
I cannot want to be anything.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."

or...

"I am not nothing.
I will never be nothing.
I cannot want to be nothing.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."


(Álvaro de Campos in "Tabacaria")




LISBOA - Chiado

LISBOA - Chiado
"Fernando Pessoa" by Lagoa Henriques. The place: "Café A Brasileira" (Brazilian Café) - 1905.

PLAYLIST TODAY




MUSIC IS THE PASSION REPORT



♥ ♥ ♥


PLAYING SOFTLY WHILE SOMEONE SANG THE BLUES



Saturday, Jul 22, 2017 - 17:57





SALVADOR SOBRAL - NEM EU [DORIVAL CAYMMI]



YouTube – "Salvador Sobral"





ANTONY HEGARTY + LEONARD COHEN - IF IT BE YOUR WILL [COHEN]



YouTube – "Oggmonster"





CHAN MARSHALL (CAT POWER) - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG [OTIS REDDING]



YouTube – "anaruido"





JANIS JOPLIN - ME & BOBBY MCGEE [CHRIS CHRISTOPHERSON]



YouTube – "ThE DuCk"





JEFF BUCKLEY - LILAC WINE [JAMES SHELTON]



YouTube – " roberta panzeri"





DAVID BOWIE - WILD IS THE WIND [JOHNNY MATHIS]



YouTube – "Peter Music HD"







_____________________


LEANING INTO THE AFTERNOONS by PABLO NERUDA

«Inclinado en las Tardes»



YouTube - "FourSeasons Productions"






CHANGING BATTERIES - OSCAR WINNING ANIMATED SHORT FILM



YouTube - "Bzzz Day"





DIALA BRISLY - A BEAUTIFUL YOUNG LADY

(a huge thanks to my daughter who e-mailed this video to me)



BBC Newsnight

«Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman - artist Diala Brisly - who is trying to make life that little bit more bearable for Syria's kids.»

Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman -...

Publicado por BBC Newsnight em Domingo, 20 de Março de 2016






A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT

A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT



FLYING A SECRET



I got here to hide. From equations and patterns. From repetition, after all.
Closed the door and got me a special place where I thought I could
somehow sit close to the stars. But I soon found out that the sky was
still opaque, no matter what the steps. And so I left. Again.

I thought, then, I could build me a different ceiling, a new-coloured scrap
of highness. And then make it work. Where I could dream, more than I sleep.
I have long decided that sleeping is overrated - that I know for sure. So I
take that time instead to travel the night alone and in the meantime I allow
myself to fly, unlike stated before... Yes, I like playing with paradox, to
expose the inside of words and the revelation of writing down the voice of a
silence. My adventurous, ever-walking silence.

So I came back. Here, within this quiet world, I intend to gather all my
things usually kept hidden or inactive. They are here to speak.

And since the future is a stand-by secret, I want to live by a precocious
clock, at every running instant of every entering second.

And I will not slow down until my "future exists now" - kind of reverse
quoting Jacob Bronowski.


Ana Vassalo
in my site "CAFEÍNA"(former "No Flying Allowed")
Nov 11, 2010 - 11:54




THE WALK OF TIME

THE WALK OF TIME

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

ABOUT PRIDE... STEVE JOBS

 
(Reminding myself)


Remembering that I'll be dead soon is the most important tool I've ever encountered to help me make the big choices in life. Because almost everything -- all external expectations, all pride, all fear of embarrassment or failure -- these things just fall away in the face of death, leaving only what is truly important. Remembering that you are going to die is the best way I know to avoid the trap of thinking you have something to lose. You are already naked. There is no reason not to follow your heart.
 
 
 
 
Steve Jobs, 1955 - 2011
Stanford Commencement Address
 
 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Escrevinhar





 
 
 
Eu escrevo, sim.
Posso escrever por dias a fio, como calar-me durante meses. Escrevo quem sinto e quem penso. Escrevo-me.

Em cadernos belíssimos, cheiro a novo e capa rija, com reproduções de Van Gogh ou Monet, a tentar roubar o spiritus. Ou em agendas que guardo para esse fim, porque o tempo medido não me interessa. Depois em envelopes velhos, perdidos na mala, ou nos guardanapos do Café, mesmo os fininhos, que mal agarram a tinta. Não me conheço sem um molho de canetas na carteira, e já agora fica dito que é também porque as vou perdendo uma a uma e a velocidade incompreensível. Porque é assim que sou: pairante. Escrevo em casa, no portátil, nos papéis, na cozinha, nos cafés, à beira Tejo ou junto ao mar, nos jardins, no restaurante, no carro (parado), e até aconteceu escrever durante um magnífico concerto de Abdullah Ibrahim (Adolph Johannes “Dollar”Brand ).

Aos 8 garatujava postais, e qualquer dia do ano me era oportuno, com “projectos” de poema para os meus pais, que faziam o favor de os ler com amor. Aos 12 escrevinhava margens, capa e contracapa de cadernos e livros escolares – infelizmente para os outros e mais ainda para mim, nunca fui ‘bem comportada’ para os padrões lectivos. E aos 13 escrevia, então, a primeira “grande aventura”: devia fazer a Primavera falar, falar alto a partir do coração, segundo tema proposto na aula de Religião e Moral – coisa de que nunca me dispensaram e a que eu ora faltava ou simplesmente ignorava quando presente, até ao momento da diferença. A diferença, neste caso, feita por professora “revolucionária”. Que, só por acaso, era também a de Português e logo me “apresentou” a Manuel Alegre e Florbela Espanca, pouco depois a muitos, muitos mais.

E, exactamente aqui, nasceu o vício, o dia em que entendi o lugar da escrita: o da minha triste “Primavera”.

Então, acrescento o visível: escrevo para respirar, como quem diz para não sufocar de vez. A dor, a raiva, a apatia, quase sempre, porque a alegria vivo-a em pleno. E quando escrevo o riso é para afastar os dias mais negros que teimam em querer vencer-me.

Milito nisto: não somos todos iguais, não temos de ser, e grandioso será o dia em que decidamos todos, por fim, sobre a inutilidade da padronização. Cada ser vive-se a si próprio e tem, à partida, toda a possibilidade de viver-se como é. Aquilo em que se torna durante o processo aglutinador da aculturação é escolha sua, por mais que não lhe pareça. Pode-se viver dentro do sistema sem o glorificar, sequer incentivar. É da diferença que nasce a criação. O resto não passa de comentário, projecto de ensaio em nota de rodapé. Classificar é desprespeitar o direito a ser-se indivíduo, único e irrepetível.

Por isso a minha escrita é o que eu quero que seja, é a minha catarse e é-me indiferente se a procuram ou não. Mas completamente, mesmo, por mais que tal, invariavelmente, suscite dúvidas a muito boas almas, e apesar de ser perfeitamente conferível que me mantenho à margem de todas as (muitas) capelinhas em que quiseram integrar-me, que não divulgo a larguíssima maioria do que escrevo, não chamo, não endereço, não imponho.

“A arte maior serve para libertar” : algo que aprendi muito cedo com Fernando Pessoa, porque bem cedo a solidão chegou e me empurrou para os livros. Memorizei e interiorizei. Para caminho, como farol.

O que quer que seja o que eu escrevo não visa ser arte nem ser maior, não visa o externo; procura somente a cura ou a fuga que me faz falta à continuação. A minha escrita, a que ri e a que chora, é tão somente ‘arte’ de sobrevivência.

De resto, pouco me interessam as categorias onde me queiram trancar. Classificar é prender, e eu lamento sempre verificar que insistem em dar asas à capacidade de se aprisionarem. Que “asas são para voar” parece ser algo muito claro, mas tudo indica também que, de tanta luz, resulta a invisibilidade.

A tudo isto acresce a liberdade de escolha. Porque quem não gosta pode sempre não ler. Ou não aceder a, ou ignorar, ou ainda fazer-se à estrada para o maior longe possível. Ou não! Completamente irrelevante.

Por mim, escrevo e escreverei até ser dia: o dia da Vida que se aceita - e ciclicamente me é arredio, como hoje, como tantos outros “hoje”. E só depois, passa por mim a paz. Que me arruma por dentro e por momentos me vira para fora, tornando-me em algo aparentado com o mundo. O que eu persigo ainda não tem nome, porque me é desconhecido. De alguma maneira, escrever tempera o deserto que é não saber.

Procuro. Escrevo para interrogar o rumo das respostas que não alcancei. Para repor a justiça, tal como a entendo, que é o direito de conhecer o conhecível. A consciência de que uma vida não basta para tanto, informa que há que a percorrer em velocidade para de algum modo equilibrar o nível dos incumprimentos. Se é ou não producente não me interessa para já.

Procuro a solidão interna quando quero perceber-me, festejar-me, desaparecer, ou simplesmente viver a saudade do que serei. E o silêncio incomoda com estrondo, porque afronta inseguranças alheias, terreno especulativo de razões. E no entanto, é tão visivelmente simples: o silêncio é o nosso visto de entrada no mundo que somos sozinhos. Sem agentes de interferência. Então, a palavra escrita é, será para sempre, o amigo quieto mas presente, que tudo sabe de ouvir. E que ensina a perguntar.

Um dia, contudo, acredito que encontrarei tudo isso, que me renova e revive, num ser humano que hei-de amar. Até hoje não consegui e não por falta de tentar. Existe, concluí, uma dificuldade intrínseca na espécie em compreender tudo o que é simples...

Como, naturalmente, existe em mim. Por isso escrevo: para simplificar.

Escrevi resmas e resmas de textos na vida, que perdi em ocasiões repetidas de incidentes, negligência, decisões terceiras, desapego próprio. Restam-me uns poucos que salvei, e mais o que vou escrevinhando e que a tecnologia, desta vez, vai guardando. Que um dia, certamente, perderei também, porque há coisas em que a ‘História’ se repete.

Mas a Vida que lhes passei, e que era a minha, guarda para sempre um lugar da Liberdade conquistada dentro de mim.

Não posso, não quero e não sei pedir nada a ninguém, seja do domínio do profano ou do sagrado. Então, resta-me escrever!

E “o mais que isto é Jesus Cristo... (que) nem consta que tivesse biblioteca”...

Ana Vassalo
26-Dec-2012 – 15:38

(Imagem: Graffiti "Everywhere")

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

SINAIS


















 










Sou atenta. Trazem a multiplicação dos cenários e projectam possibilidade. Antecipam e
podem criar a diferença entre realização e falha do objectivo. Um dia, alguém me citou Júlio César, a propósito do respeito e atenção pelos Sinais... Nunca esqueci.

Mas, no final do dia aprendido, é o real que conta. A certeza presente e palpável, matematicamente comprovável. A equação. E só posso conhecer o valor da incógnita depois de fazer as contas – o que exige fornecimento de dados... E apenas quando os dois termos dessa equação se revelarem comprovadamente iguais. Então, x*1/(1+1) será igual a 1*2² /2² – pareça ou não – logo que calculada a incógnita. E está, agora sim, encontrado o real.

Real é certeza matemática, o restante é hipótese, jogo, aposta. Por mais q os sinais se insinuem como certos. Nem a certeza estatística de 99% me faculta conclusões, porque o desvio à norma, a excepção, o Acaso existe, e vale 1% - pode ser tanto!, dependendo da dimensão da amostra...

Uma velha senhora muito pouco simpática, que responde ao nome “experiência”, ensinou-me que as coincidências existem, sim, porque o universo é dado à brincadeira e aprecia os jogos de escondidas. Não se sabe muito bem por ou para quê, mas tem-se verificado que assim é com frequência confortável para concluir. Então, às vezes, quando e sempre que lhe apetece, talvez porque acordou para aí virado, brinca connosco, unaliteralmente, sem ao menos perguntar se queremos, ou se estamos, sequer, para aturá-lo. Percebemos também, no decurso das provas, que tudo depende do vento que escolheu para lhe soprar a disposição: ora pode ser chegada, ora partida. Ou, concretizando, umas vezes dá, outras tira. E desaparece sem prestar contas, só porque pode.

Para mim, os sinais são relevantes a muito níveis, espécie de reconstituição da estrada para Ítaca, essa tal que vale muito mais a pena que a própria Ítaca. Trazem desafio, procura, concentração, tudo elementos de mais-valia que podem conduzir ao conhecimento. Mas são plurissignificantes. Comportam a múltipla possibilidade. E a presença do conceito de possibilidade anula a certeza demonstrável.

Depois, por mais que o caminho seja estimulante e convide à continuação, é indiscutível que se está sempre a chegar a algum lado, ainda que de passagem, porque há que parar ciclicamente para descansar. E é aí que reavaliamos todos os sinais e usamos o filtro de selecção para escolha dos sobreviventes – os que sugerem mais certeza, depois de mais caminho andado. Até que, a dado momento, acabaremos com um número muito reduzido e uma proximidade bem maior, que quase toca a certeza. E apenas isso: muito próximos, sim, mas irremediavelmente inseguros.

Imaginemos, então, um potente néon a cortar a noite, que está agora a piscar o nome “Ana”, parece apontado a mim, e já na véspera piscara perto da minha janela: encaro o fenómeno como um sinal a atender mas, também para mim, como sinal que é, será, por enquanto, pertença possível do acaso. Depois, se ao piscar o meu nome, abrir a janela e entrar a minha casa, será certeza estatística – pode ainda tratar-se de mera coincidência. Saberei, sem margem “possível” para dúvida, que é o meu neon somente no momento em que ele mo fizer saber: esta luz é para ti e é o teu nome que ela reflecte. Esta é uma certeza matemática.

Acresce que, ao contrário do laboratório, onde se produzem as leis científicas, na natureza, como quem diz na Vida, ela pode ainda ser uma certeza mentida. Mas aí passa a ser matéria do Tempo: ele comprova a verdade ou a mentira da certeza que foi um dia. Mas foi certeza.

Em boa conclusão, convenhamos, a certeza não existe, a não ser numa linguagem que carece de descodificação. Vivemos, então, tanto quanto aprendi, com certezas provisórias para criar base de partida, ou viver seria uma impossibilidade.

E no entanto, tudo isto dito, caminharei sempre os sinais, com respeito, porque os cenários da possibilidade ensinam. É a decisão sobre o virtualmente sugerido como real e a contraposição dos jogos da coincidência quem se chega à frente e exige mais.

Porque o Acaso tem um poder devastador.
E eu, tenho-lhe o maior dos respeitos.

Ana Vassalo
25-Dec-2012 – 15:46

domingo, 23 de dezembro de 2012

flores












Nunca entenderei o ódio. Valha-nos a vantagem, solteira,
de não ser contagioso.
Ainda assim, eu costumo desaparecer das imediações -
é muito spleen a turvar o ar - exactamente porque não
percebo o fenómeno, e o dito não se presta a ser
entendido.
Mas suponho que terá as suas raizes. Secas, tanto
quanto me ocorre...
Anda quase sempre muito mal assessorado e, não poucas
vezes, por uma entidade doentiamente perturbada, que
dá pelo nome de vingança. Outra ilustre desconhecida,
na minha rede de contactos.
Mas diz-se que operam juntos, inseparáveis, lá pelo
mundo das sombras...
Não aprecio, rouba muita luz.
Então, deixo sempre um voto de cura aos portadores
do vírus, torcendo sinceramente para que algum dia, que
se espera breve, se restabeleçam. Coloco-o bem visível,
em cima da mesa, precisamente antes daquele momento
vital em que ganho toda a distância que conheço...
Não sem antes assinar.
Com flores!
São belas, criam contraste...


Seja lá como for, FELIZ NATAL é para todos. E "é quando um homem (ou uma mulher) quiser".

Ana Vassalo
22-dec-2012 - 23:41

sábado, 22 de dezembro de 2012

CAFÉ




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Café cheio, se faz favor. E já agora, a escaldar.

Feito: 60 cêntimos de calor.

Energia: visto, comprada. Está paga, posso vesti-la,

entregar-lhe a amnésia de um corpo que costumava
 
ser meu. Do efeito não sabemos, que comerciar é
 
enigma, o risco de ser-se epílogo.

Mas chama-se a musa. Que comparece em negativo:

lúcida-clara-vigil, sem rasgo de sonho à vista. Vulgar

e feia se aceita - passeia a chama perdida que nem o

inferno sabe...

Estamos bem, a calma reina: despovoa-se da palavra

qualquer rasto de alma com vida, e somos uma outra

espera, sem o nome, no apagão da vertigem.

Tudo cala, na casa da fantasia. O luar não faz maré e

rebenta a praia só e farto, na falésia dos silêncios.

Sobram os vultos dançantes por folhas cansadas de

outono, restolhando a escuridão - que ainda cantam,

às vezes, sem querer, a solidão dos orvalhos. De

resto, não sabem vida.

No caminho, jaz a migalha: referente, generosa, que

largámos da prudência num dia de nos pensarmos.

O fado soa de aléns, onde a alma já cantou. Para-se

o pé do cansaço e a pena morta escreve um pássaro,
 
preso à mão, e o olhar supõe-se vivo: repetidos
 
somos vivos, respiração do instinto que sobrevive o
 
permafrost.

E o retrato engana a luz, na mistura já antiga: somos

amor em memória, refugiado do frio que já nem

sabe quem fomos.

Só as musas, que não dormem, sabem que o sonho

aterrou.

E partem, leves. Indiferentes à geada.


Ana Vassalo
28-Nov-2012 – 22:40

(Imagem: “Snow coffee”, in Dark Sky Magazine)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

"NO TEU POEMA"






Always

































JOSÉ LUÍS TINOCO

"No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida.
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta, uma varanda para o mundo.


Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.


No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano.


Existe a noite
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
O cais da nova nau das descobertas.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco, ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.


No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera... do futuro."



21-12-2012 - 15:13

(imagem: "kiss in paris" by Chekirov)

Natal!



 


à procura...
NATAL!
mãezinha, vais buscar o natal para mim?
perdi-o...
ainda não me chegou ao coração, este ano.
se calhar cresci...
adultei-me, quem sabe...
o que é do certo faz-se certificar.
infelizmente.
deixa lá, mãe.
diz que há mais, todos os anos.
entretanto, encho-me de chocolate...

av
21-Dec-2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

historinhas de Dezembros

 
 




tudo o que não sei
e mais a palavra
que hoje fechei



Ana Vassalo
20-Jan-2013


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

sequestrados do Tempo




 
 
ainda não sei quem estou
cresço no Outro em círculos
a minha própria aceitação
e nada em mim seguro do que Sou
liberto-me na revolta
nuns dias em que sozinha habito o mundo
e então vivo do verbo Ser
onde os ecos são longe e sem força de projecção
mas há um fosso intransponível
que me sitia
entre o que me penso e o que estou
uma diferença perdida entre a cabeça e a vida
que às vezes trago da luz e vence todos os censores
perfilados à porta da dor antiga
mas logo descanso os olhos a salvo da nitidez
que me fixa...
nasceu lá atrás
no princípio dos tempos que empurrei do caminho
a força maior das buscas que me compõem
e das lutas que me deformam
um querer tocar a perfeição sem estrela-guia
e lutar depois insanamente contra ela
tecendo ponto por ponto
a malha de cada lágrima
em inabaláveis estruturas de imperfeito
e abraçada paralisação dos sentidos
cegar calar ensurdecer
e dormir
dormir os tempos
para não saber
as eternidades que me separam de tudo o que preciso ser
para me validar
para estar quem Sou
nuns dias de pássaro
depois locomotiva
tantos outros silêncio
e o mais deles canção
entre o pensar-me e o saber-me
existe o fumo das ausências que me pressentem viagem
e os ferros da prisão que me formatam paragem
sou livre quando adormeço
de pé
nos sonhos que pinto para me emprestar
com o olhar da vontade que me pertence
mas nada em mim seguro do que Sou
chego todos os dias
numa manhã farta de névoa
carregada do verbo estar
para morrer a cada madrugada
num beco da consciência
lotado de escuridão
onde me largo aos contentores
dos que se respiram por hábito
alma descalça em corpo nu
abrigados no vento contra a vida

Ana Vassalo
19-Dec-2012 – 18:30

(Imagem: "Fallen nude", Heather Marie Craft, USA)

domingo, 16 de dezembro de 2012

casa de lua



entrei a noite
aqui
pela porta mais estreita
do medo
sigo tempo em formação
agora
num desvio de curso certo
ergo os braços
escada ao infinito
o breve
espectro de alcance
ruído do coração
em marcha
fantasma da pele
em contacto
a chama
do corpo tornado mais leve
o golpe terno
a enseada
o sono dos inocentes
orvalho pela manhã
e sou o dia
movimento
edifício e lugar mais perto
da lonjura
acalmo os instantes
de sede
o sonho
na estrada mais escura
sem rosto
de histórias antigas
nascendo à lareira
as sombras como guia
na memória
o vinho
a flor
cigarros trocados
a espera
o beijo
depois cerco e tomada
palácio de estrela
o céu do olhar
e a coragem
na encruzilhada
o anúncio da noite aberta
o teu caminho
no chão da viagem
e eu
caminho teu
e barca
e rio no mar
horizonte
eu em perfeito total
agarrando a casa
dessa lua toda cheia
que um dia roubaste para mim

e lembro então
que sou vida quando és
sou o lugar
de quando estás
foste sempre tu
a palavra de mim
primordial
solta pelos ventos
o rumo aberto
universo em mãos
asa e saudade
tu...

na noite que se aconchega
sou o abraço teu de muitas idades
e a música passa
baixinho
no intervalo de nós
fechando o espaço das horas

Ana Vassalo
16-Dec-2012 – 00:42


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FELIZ ANIVERSÁRIO, PAI!

  
Parabéns, meu Pai viajante!
Agradeço-te todas as naus e todo este amor que aprendi pelo mar: os meus amigos de infância, que me faziam mais perto o teu amor. Os álbuns que me traziam mais Terra, com gentes de outros falares e de muitos outros mares de alma. O Tejo em Lisboa, que às vezes me deixava visitar os barcos onde me esperavas, e me ensinaram esta saudade de partir, de ser viagem para sempre. Agradeço-te África, meu Pai, que me ofereceu a Liberdade que se respira. E ...
hei-de sempre pedir-te mais contos, de uma vida de marear: que ainda hoje me contas, e eu oiço aconchegada, até ao final do mar.
Parabéns, meu querido Pai, quero-te assim, hoje e sempre, como um dia feliz de voltar.

“O Homem que se esforça para atingir o ideal assemelha-se ao viajante que, ao entardecer, sobe a colina: lá no cimo, não está mais perto das estrelas, mas vê melhor.” - Jules Tannery
 
Ana Vassalo
(in facebook too)
11-Dec-2012
 
(Imagem: “The Red Barge”, David Kalbach)

domingo, 9 de dezembro de 2012

FELIZ ANIVERSÁRIO, MÃE!


 

Admiro muito todos os valentes anónimos, já que tal bravura não se define no mediatismo, tantas vezes acompanhado de agenda, mas apenas porque os compõe, é sua parte integrante, como que carregada nos genes. São aquelas pessoas especiais, que aprenderam sozinhas a driblar a vida, passando por todos os intervalos da adversidade, e saindo sempre vencedoras, qualquer que tenha sido a perda. E no final de tudo isso, o mais notável para mim, conseguem ainda caminhar a bondade, sem jamais perder a inocência: o olhar da ternura, vasto e aberto de luz, o sorriso de mel, brando como um afago.
Salve maravilha, minha Mãe bonita!
Obrigada, sempre.

Ana Vassalo
(in facebook too)
09-Dec-2012


(image: "Mother & Child (2)" - Wai Ming)


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

TRISTEZA














A tristeza não se explica, vive por nós. É como um vasto
campo verde ao fundo, e janela nenhuma no olhar.
 
Ana Vassalo
(in facebook too)

07-Dec-2012

(Imagem: "Store Glass Window", Franco Cignelli)



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

sedas no vento



 

quem sabe,
as farpas encostam num lugar de paz
e a doce ternura em retiro
arrisca um passo de luz...
e eu
travestida de risos dança manhã
ouso a paisagem sem queda
esse toque de uma vida
enfim liberta de infernos...
sabes,
há uma saudade de ti
escondida nos poros
guardada em raiz
de mim
de ti quando eras de mim
uma saudade do que floresço
quando me abrigo da nua claridade
e arrasto da memória
todo o amor
que deixei ficar em ti.
o espaço fechado entre nós
dos olhos que se respiram mutuamente
guarda a imagem saudade
de eternidades que se tocam.
a dança das mãos
regaço de cúmplices
tomando a madrugada
que chove do frio a cor
e um frenesim de lua cheia
no céu melhorado da “noite americana”...
a estação deserta num silêncio de geadas
e o comboio que nos dorme os abraços
até à morada final da culpa...
a noite profunda do sono que se despede
e inventa o regresso que se esquecera
num lugar do tempo fechado


quem sabe,
a farpa que me tornaste
se cobre em raiz de seda
por um breve instante de luz...
e agarra a escarpa desse tempo
num quieto toque de fé
por um salto
que se rasga em vento na pele
como sopro de um céu sem rede...

Ana Vassalo
01-Dez-2012 – 21:00

Imagem: Foto "Há palavras que nos beijam", António Simão Meira.

domingo, 25 de novembro de 2012

doors sublime (to darkness)

  
 
i’m not staying
i’m not staying
i’m just scrapping this black book of survival
and scratching all the good words in the wind
i’m crying all the life i borrowed from you
and i’m hurting
and i’m hurting
but listen to me love
i’m not staying
i’m not staying


i scream for the days i passed by
i yell at this absent face in the mirror
every little me is dying a little
at every little second that was yours
while i’m packing dreams and memories
that will run away with me
but i’m not staying
you should listen
my sweet love
i’m not staying


i heard your echo across the cliffs
i saw you falling from steady ground
i felt you slowly drowning in dry seas
and i hated you a bit more than always
as i loved you a moment more than ever
i ran my hands
over the whispers inside my head
i locked up that immense door
you have carved into my heart
and i’m now running, my love
to a very distant place in my mind
- cause i’m not staying
listen to me baby
i’m not staying


worn out tears
will never get us an ocean
silence is the place
where we are destined
to be one
farewell
my sweet
ever-rising love
these are not “the days of wine and roses”
so we’ll never drink again
the words of a life i lived in you
and i deeply hope we‘ll never cry again
don’t you think?
don’t you think?


So we have stopped the rain
once more
endlessly more
but no sun was drawn instead
- remember, dear?...
well then...
here we are...
both led to this far apart
abandoned, lonely place
crowded with a million nights
located in our souls
where we no longer got to find home...
i’m not staying, love
i’m not staying


you’re a free bird losing its sky
and i, i’ve flown away
with my ever lasting broken wings
which are now tied forever more
and i’m far, so far away now
my love, i’m so far inside you now...
but i’m not staying
you should listen, i’m not staying
what you do is shutting me off
your darkness is blackening me
and i just wish i could wake up one day
in a smooth, white land of the soul...
i 'd take you there with me, you know,
so we'd paint the world together!
 

but not this time
my love
no... not this time.


Ana Vassalo

25-11-2012 – 18:52


(Image: “Farewell my love” by Vrolijc)

domingo, 28 de outubro de 2012

HISTÓRIAS DO FUTURO DAS FLORES


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
não sei do que vem aí,
ou mesmo se há que saber
no pack de horas extra de uma vida.
sei q não tenho aqui a esperança
e os dias podem ser arrastados
como fardos de segundos.
havia antes uma certeza tácita
de que o corpo obrigado a movimento
mesmo que arrancado, involuntário, sacrificial,
saberia lembrar o passo de abertura
ainda que o sonho se sobrepusesse
a uma espécie de vigília demissionária...
e no entanto, de algum modo a memória vencia
e reensinava a tentativa,
erro e repetição,
mais um cigarro e o café e a teimosia
de continuar vivo a qualquer preço
porque há os dias que merecem!

Hoje, que somos mundo de pregão em hasta pública,
há um rasto de cansaços ganhando o chão:
no aeroporto, na tabacaria, no desemprego,
na planície, no comboio de todos os dias, no mar,
na mercearia, a escola, a montanha,
no cheque da reforma, no amargo comprimido,
na fila do combustível, a faculdade, o balcão,
na cantina social, no abrigo da ponte, no povoado,
na casa que é do banco até ao virar da vida... e da morte,
no sorriso amante,
no olhar da pele,
na poesia...
a descritiva da dor sem o pendente nem escriba,
somente o registo prático e a cópia virtual, em depósito
na Torre da Era do Tombo:
a morte instantemente anunciada,
o suicído de massas executivamente induzido.

diz que hoje não há palhaços
e ainda bem, digo eu
- nunca lhes ri a alma
de tão doída me parecer
- mas a dúvida persiste
e eu acho que se enganaram...

seja lá como for, reparei há pouco

que faltam hoje muitas coisas de continuar:
agora também não há lua
e a fé da noite sucumbiu
ao apagão solar sem aviso.
e damos por nós assim, apenas coisa interrompida
sem saber nome de luz, de calor...
e a união que um dia nos aqueceu,
seja lá solidariedade ou uma qualquer letra do Amor,
quebra, sem vergar,
ainda que essa força nos mostre que parece tão pouco
aquele tanto que se pode...

soam por fim os gritos,
surdos e presos nas fileiras do atraso.
e já morremos outrora, muito antes de acordar,
até chegarmos aqui, continuando,
lugar de hoje sem agenda
anotado à margem de futuros sem lugar,
sabendo quase nada desse nada que nos contempla:
pagamos sem haver
jejuamos sem poder
falimos sem gastar
e partimos sem voltar
certos de que morremos, por querer,
desertores e nus
do dia que já não merece.

e é só por isso, seja lá um pouco ou seja muito,
que me sento aqui como pedreiro,
martelando a palavra de amanhãs,
como pai e como mãe, como filhos, como avós,
honra e trabalho, coração, respeito,
que saibam de coisas de nome e de coisas de luz,
grandes, pequenas, de amor e combate,
de gentes, coragem e orgulho,
e um calor de flores no peito.

que a dignidade não verga nem quebra,
e o meu País também não!

Ana Vassalo
27-Outubro-2012 – 19:03