Sou atenta. Trazem a multiplicação dos cenários e projectam possibilidade. Antecipam e
podem criar a diferença entre realização e falha do objectivo. Um dia, alguém me citou Júlio César, a propósito do respeito e atenção pelos Sinais... Nunca esqueci.
Mas, no final do dia aprendido, é o
real que conta. A certeza presente e palpável, matematicamente
comprovável. A equação. E só posso conhecer o valor da incógnita
depois de fazer as contas – o que exige fornecimento de dados... E
apenas quando os dois termos dessa equação se revelarem
comprovadamente iguais. Então, x*1/(1+1) será igual a 1*2²
/2²
– pareça ou não – logo que calculada a incógnita. E está,
agora sim, encontrado o real.
Real
é certeza matemática, o restante é hipótese, jogo, aposta. Por
mais q os sinais se insinuem como certos. Nem a certeza estatística
de 99% me faculta conclusões, porque o desvio à norma, a excepção,
o Acaso existe, e vale 1% - pode ser tanto!, dependendo da dimensão
da amostra...
Uma
velha senhora muito pouco simpática, que responde ao nome
“experiência”, ensinou-me que as coincidências existem, sim,
porque o universo é dado à brincadeira e aprecia os jogos de
escondidas. Não se sabe muito bem por ou para quê, mas tem-se
verificado que assim é com frequência confortável para concluir.
Então, às vezes, quando e sempre que lhe apetece, talvez porque
acordou para aí virado, brinca connosco, unaliteralmente, sem ao
menos perguntar se queremos, ou se estamos, sequer, para aturá-lo.
Percebemos também, no decurso das provas, que tudo depende do vento
que escolheu para lhe soprar a disposição: ora pode ser chegada,
ora partida. Ou, concretizando, umas vezes dá, outras tira. E
desaparece sem prestar contas, só porque pode.
Para
mim, os sinais são relevantes a muito níveis, espécie de
reconstituição da estrada para Ítaca, essa tal que vale muito mais
a pena que a própria Ítaca. Trazem desafio, procura, concentração,
tudo elementos de mais-valia que podem conduzir ao conhecimento. Mas
são plurissignificantes. Comportam a múltipla possibilidade. E a
presença do conceito de possibilidade anula a certeza demonstrável.
Depois,
por mais que o caminho seja estimulante e convide à continuação,
é indiscutível que se está sempre a chegar a algum lado, ainda que
de passagem, porque há que parar ciclicamente para descansar. E é
aí que reavaliamos todos os sinais e usamos o filtro de selecção
para escolha dos sobreviventes – os que sugerem mais certeza,
depois de mais caminho andado. Até que, a dado momento, acabaremos
com um número muito reduzido e uma proximidade bem maior, que quase
toca a certeza. E apenas isso: muito próximos, sim, mas
irremediavelmente inseguros.
Imaginemos,
então, um potente néon a cortar a noite, que está agora a piscar o
nome “Ana”, parece apontado a mim, e já na véspera piscara
perto da minha janela: encaro o fenómeno como um sinal a atender
mas, também para mim, como sinal que é, será, por enquanto,
pertença possível do acaso. Depois, se ao piscar o meu nome, abrir
a janela e entrar a minha casa, será certeza estatística – pode
ainda tratar-se de mera coincidência. Saberei, sem margem “possível”
para dúvida, que é o meu neon
somente no momento em que ele mo fizer saber: esta luz é para ti e é
o teu nome que ela reflecte. Esta é uma certeza matemática.
Acresce
que, ao contrário do laboratório, onde se produzem as leis
científicas, na natureza, como quem diz na Vida, ela pode ainda ser
uma certeza mentida. Mas aí passa a ser matéria do Tempo: ele
comprova a verdade ou a mentira da certeza que foi um dia. Mas foi
certeza.
Em
boa conclusão, convenhamos, a certeza não existe, a não ser numa
linguagem que carece de descodificação. Vivemos, então, tanto
quanto aprendi, com certezas provisórias para criar base de partida,
ou viver seria uma impossibilidade.
E
no entanto, tudo isto dito, caminharei sempre os sinais, com
respeito, porque os cenários da possibilidade ensinam. É a decisão
sobre o virtualmente sugerido como real e a contraposição dos jogos
da coincidência quem se chega à frente e exige mais.
Porque
o Acaso tem um poder devastador.
E
eu, tenho-lhe o maior dos respeitos.
Ana
Vassalo
25-Dec-2012
– 15:46
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