Meu amor
Não sei onde estás e acrescento já que não saber é uma grande chatice porque hoje o dia é importante diz que sim e eu acredito.
Ora acontece que me dava muito jeito
agora ter aqui um amor mesmo à mão de semear que é como quem diz
de agarrar pelos colarinhos e não deixar sair nem um segundo antes
do necessário pois que ando a ressacar com saudades sobretudo quando
olho ali para o tecto e verifico pela enésima vez que a casa está a
precisar de pintura sim senhor.
Toda a gente sabe que um amor é útil
e faz sempre muita falta especialmente no supermercado por exemplo em
dia de compras do mês em que sai de lá uma pobre alma carregada até
às orelhas sendo que um amor que se preze não deixa que tal
injustiça ocorra pois não.
Ora hoje que só é importante de há
uns anos a esta parte por via de importação oh yeah que convém
estarmos sempre actualizados pelas tradições dos outros que nada
têm a ver connosco menos ainda no bolso porque é claro que não se
pode comparar tradições de gente rica com um país de almas
depenadas ligaram-me para aí a saber o que pensava do dia de S.
Valentim.
Mau feitio a quanto obrigas tratei logo
de ir informando que não sou católica porque sim e ninguém tem
nada com isso enquanto ia literalmente fugindo de telefone na mão
como que a fantasiar que o acto teria o seu efeito de eficácia lá
do outro lado da linha mas não nada disso que eu sou pessoa de sorte
arredia como se sabe.
E tal que era um estudo e eu com isso
perguntei que já larguei a escola há tanto tempo mas não fora de
brincadeiras era útil perceber o que as pessoas pensam e coiso do
dia dos namorados e eu já saindo de fininho que nada não uso já me
esqueci da última vez que usei e lá está como é bom de ver a
minha resposta desinteressante só ia servir para desvirtuar as
conclusões e as estatísticas e outras porras associadas.
Suei pela dispensa debalde e convém não vos confundirdes com o balde e muito menos com a despensa até que lá me
ocorreu a desculpa chapa cinco que funciona sempre vá-se lá saber
porquê mas agora na altura também não interessa como quem diz
interessava nada e lá fui fugindo mais um bocadinho de telefone na
mão e adiantando que estava mesmo de saída quando recebi a
providencial para os namorados ou para a estatística sociológica
chamada. Providencial chamada. Não sociologicamente para mim. Hã?
Ora fiquei aqui mergulhada em profunda
meditação que é coisa que me ataca raramente mas com violência
sempre que acontece e a pensar com os meus demónios internos que são
os meus mais fiéis ouvintes e confidentes se isto será raio de
chamada a fazer a alguém com tanto divórcio e separação e
descasagem que vai por esse mundo a lembrar uma pessoa de que o tecto
continua por pintar e que tem de regressar do shopping que nem burro
de carga em dia de semana sem enfeites nem nada quero dizer sem
ajaezamentos que agora havia de me dar para ir buscar o livro do
outro nem sei porquê e muito mais que isso acaba por contrair doença má e
contagiosa que sozinho ninguem faz jantar não é? e acaba por andar
a comer mal que é coisa de solteiro ou de single para ser mais
exacto e preciso mas não confundido com o quarto de hotel de cama única
e estreita que isso então é desperdício maior ainda mas pronto avancemos e mais grave
que isso como se doente não bastasse ainda o mau aspecto feio e
andrajoso que a magreza vai galopando e a roupa que se atira para
cima vai escorregando até níveis perigosos a indiciar a queda total
com as correspondentes sanções disciplinares previsíveis que este
ainda é um país de brandos costumes tão costumeiros que até
acabam por recuar e ficar mais antigos que a data em curso coisa que os
entendidos denominam de anacronismo e eu não sei o que é mas deve
ser qualquer coisa de muito mau porque não se percebe e ninguém
explica que coisa.
Bom com tudo isto perdi-me e a verdade
é que não gosto nada mesmo que me venham cá desaquietar ou em
dialecto alentejanês desinquietar que é muito mais directo e
funcional dizia eu que me arrufo até níveis indizíveis quando
no sacrossanto recesso do meu lar coisa que também não sei quem
dizia mas agora dá jeito aqui e estou eu em apaixonada entrega ao
objectivo traçado para o dia e logo hoje que ando morta de cansaço e
resolvi que agora é que era e em que coloco sempre o maior afinco
quando se trata de não fazer a ponta dum corno com o mais grácil
dos estilos a não ser os inadiáveis de terceiros que dependem da
minha embora fraca mas indispensável acção e eis senão quando se vê brutalmente
arrancada aos inconfessáveis prazeres advindos do planeamento de uma
bela de uma sesta por fim já que não durmo de noite e vem esta
gente armada de perguntadora estragar o dia a uma pessoa sem mais nem
menos nem razão que se aproveite ora essa agora o dia dos namorados
francamente...
Mas pronto tenho de confessar que gosto
disto destas coisas de festejos e celebrações para cada dia
nacional de muitas coisas da mulher do marido da criança do poeta do
pintor do artista da rolha do martelo e da foice? não que isso agora
dava uma história muito comprida e barbitúrica e eu gosto como se comprova de ser
breve e sintética mas no sentido de resumir e não de falsificação
sim? entendamo-nos pois que isto são assuntos demasiado sérios para
dar lugar a malentendidos.
A verdade é que como grande fã que
sou do acordo inortográfico que uso a preceito e obedientemente
desde a primeira hora como é fácil de constatar apeteceu-me
celebrar este tal de S. Valentim honrando-o ao tal supracitado acordo
sem vestígio de pontuação salvo honrosa excepção feita para a
interrogação insubstituível e o majestático ponto final parágrafo
que é um sinal de pontuação digno de respeito especialmente quando
estamos em maré de paragrafar dias idiotas que vêm à luz para
tapar o sol com a peneira e fingirmos todos que somos muito casados ou
amancebados ou até unifactados tudo na maior felicidade nos restantes 364
dias ou mais um para os bissextos que agora também não vem ao caso
nem releva nada para a frustração que é não ter um amor cheio de
musculatura e arte para nos ajudar nas tarefas mais duras e
masculinas que diz que uma mulher não nasceu para fazer e que me dá um jeito do caraças acreditar quando me apetece adiante e que determina que
depois ande aqui uma pessoa em estado miserável suspirando pelos
dias em que o tecto já foi branco como era assim a modos que quando ele reluzia
há umas resmas de cigarros atrás.
Até porque ninguém tem nada com isso
de saber o que é que acho ou deixo de achar disto ou daquilo e muito
menos de um dia que só serve para lembrar que um dia fomos felizes e
tudo e vá não só por causa das caiações.
Mas lá que fazem muita falta fazem pronto.
Eu diria que ninguém deve ler isto sem
consulta prévia ao oftalmologista mas cada um cada qual e é maior e
vacinado não sei o que têm as vacinas a ver com isto nunca soube e
também agora já não importa grandemente sendo que a verdade é que
eu não estou nem aí para me ralar que nos dias que correm ralações
pois que nem morta e muito menos num dia santo como o de hoje que se
preza.
E está claramente dito pelo que me
fico por cá que até me dá jeito uma vez que na rua não tenho o
calorífero mentira termo-ventilador é que é sejamos rigorosos.
Bom dia disso e tal divirtam-se então amem
bué e assim.
E agora vou atrás dele que temos umas
coisitas a ajustar sim? ó Valentim anda cá se faz favor.
Ana Vassalo
Ai, Jesus Maria José e também São Valentim, venham acudir que não sei que fazer... Se hei-de oferecer.te um coração, uma trincha ou carrinho de supermercado...Só pretendo facilitar.te a vida...
ResponderEliminarTexto fantástico, de um humor e sátira só permtido aos iluminados (não, não te pretendo canonizar). Tens a luzinha que faz com que tudo o que esceves brilhe no escuro e até permite que não se veja a nicotina no tecto. :)
Beijos amigunha, que eu vou ali ver se amo bué(nem que seja um balde de tinta, já que o meu tecto também anda a precisar de ser feliz...está tão macambúzio, sem auto-tinta.) :)
JFV
Lol... Está bem, okay, sim senhor, sem dúvida... Palavrinhas lindas sim mas, se fizeres o digníssimo favor, monta-te mas é na trincha e zarpa até Lisboa para umas intensas férias laborais, vá, que aqui o sr. tecto ficar-te-á eternamente grato, tal como eu, atenta, veneranda e obrigada por um amigo assim, tão generoso e disponível, que agora já não te safas, uma oferta é uma oferta e palavra de amigo preocupado não volta atrás e pois, estás cheio de sorte, que até me deu para usar pontuação aqui, menos mal, não foi?
ResponderEliminarE sim sim, que ames bué e tudo, contanto que tal não te afaste das obrigações aqui expostas, acordadas e comprometidas, vamos lá a ver isso.
Obrigada, Zé VIcente!!! Beijoca :)))
ps: agradeço envio rápido, por dhl se faz favor, do dito carrinho de supermercado, que também está a fazer urgente falta por cá e a comissão agradece.
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