NETOS

NETOS

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

REMARKABLE PEOPLE



FERNANDO PESSOA

(Lisboa, 1888 - 1935, Lisboa)


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


************
"I am nothing.
I will never be anything.
I cannot want to be anything.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."

or...

"I am not nothing.
I will never be nothing.
I cannot want to be nothing.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."


(Álvaro de Campos in "Tabacaria")




LISBOA - Chiado

LISBOA - Chiado
"Fernando Pessoa" by Lagoa Henriques. The place: "Café A Brasileira" (Brazilian Café) - 1905.

PLAYLIST TODAY




MUSIC IS THE PASSION REPORT



♥ ♥ ♥


PLAYING SOFTLY WHILE SOMEONE SANG THE BLUES



Saturday, Jul 22, 2017 - 17:57





SALVADOR SOBRAL - NEM EU [DORIVAL CAYMMI]



YouTube – "Salvador Sobral"





ANTONY HEGARTY + LEONARD COHEN - IF IT BE YOUR WILL [COHEN]



YouTube – "Oggmonster"





CHAN MARSHALL (CAT POWER) - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG [OTIS REDDING]



YouTube – "anaruido"





JANIS JOPLIN - ME & BOBBY MCGEE [CHRIS CHRISTOPHERSON]



YouTube – "ThE DuCk"





JEFF BUCKLEY - LILAC WINE [JAMES SHELTON]



YouTube – " roberta panzeri"





DAVID BOWIE - WILD IS THE WIND [JOHNNY MATHIS]



YouTube – "Peter Music HD"







_____________________


LEANING INTO THE AFTERNOONS by PABLO NERUDA

«Inclinado en las Tardes»



YouTube - "FourSeasons Productions"






CHANGING BATTERIES - OSCAR WINNING ANIMATED SHORT FILM



YouTube - "Bzzz Day"





DIALA BRISLY - A BEAUTIFUL YOUNG LADY

(a huge thanks to my daughter who e-mailed this video to me)



BBC Newsnight

«Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman - artist Diala Brisly - who is trying to make life that little bit more bearable for Syria's kids.»

Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman -...

Publicado por BBC Newsnight em Domingo, 20 de Março de 2016






A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT

A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT



FLYING A SECRET



I got here to hide. From equations and patterns. From repetition, after all.
Closed the door and got me a special place where I thought I could
somehow sit close to the stars. But I soon found out that the sky was
still opaque, no matter what the steps. And so I left. Again.

I thought, then, I could build me a different ceiling, a new-coloured scrap
of highness. And then make it work. Where I could dream, more than I sleep.
I have long decided that sleeping is overrated - that I know for sure. So I
take that time instead to travel the night alone and in the meantime I allow
myself to fly, unlike stated before... Yes, I like playing with paradox, to
expose the inside of words and the revelation of writing down the voice of a
silence. My adventurous, ever-walking silence.

So I came back. Here, within this quiet world, I intend to gather all my
things usually kept hidden or inactive. They are here to speak.

And since the future is a stand-by secret, I want to live by a precocious
clock, at every running instant of every entering second.

And I will not slow down until my "future exists now" - kind of reverse
quoting Jacob Bronowski.


Ana Vassalo
in my site "CAFEÍNA"(former "No Flying Allowed")
Nov 11, 2010 - 11:54




THE WALK OF TIME

THE WALK OF TIME

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Bobby




























Hoje é o dia que marca um fim. Em que na minha casa apenas a minha cadelinha Taili correrá e virá acordar-me com beijinhos, quando lhe passar a tristeza que hoje se mudou para cá também.
O nosso companheiro de tropelias foi-se hoje embora. Para um lugar que espero seja bem lindo, como ele merece.
Já não tenho o meu Bobby, o cãozinho da minha mãe que adoptei mas que há muitos anos já me tinha adoptado, numas férias no Alentejo. Não faço ideia de como serão os dias sem ele, uma vez q ele não saía de perto de mim por um segundo. Mas vai ter de ser, não é? Pois é.
Só espero q lá onde ele mora agora não seja preciso, como era aqui nestes últimos dias, rodinhas para ele poder andar, mas sim que possa voltar a correr e saltar livremente, como cãozinho feliz que foi até ao fim.
Até já, Bobby lindo. ♥


29-Jan-2013

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"MALTESES, BURGUESES E ÀS VEZES"



















OUTSIDERS COM ESPELHOS

ou

“MALTESES, BURGUESES E ÀS VEZES”, como diria ARTUR SEMEDO.


Hoje, como de resto me ocorre de tempos a tempos, deu-me para me pôr a escrever ao contrário, que é como diz em espelho. O que, para além de atestar os elevados níveis de chatice que me habitam por estes dias, me trouxe à memória um conjunto de episódios relacionados e perdidos lá por tempos de antanho.

É que era assim que me entretinha na Faculdade, em momentos de tédio aterrorizante – para dizer o mínimo – quando nada do que ali se passava me conseguia manter um só pézinho no mundo concreto, seja lá isso o que for.

Sempre tive as minhas fugas, sob a forma de rabiscos, letra desenhada, slogans dos anarcas, flores inconcebíveis à vista humana, perfis de rostos, etc, que assim nasciam para a luz do dia em qualquer espaço que aceitasse escrita – mesa, secretária, carteira ou estirador incluídos, a par com livros, cadernos, bata (só nas baínhas, vá) e mãos.

É do domínio público, para quem me conhece, que o tédio da rotina me mata, bocadinho por bocadinho, com requintes de malvadez, ao mesmo tempo que me transforma em feroz criatura cuja proximidade deve, preventivamente, evitar-se a qualquer preço.

E lá, na Faculdade, os momentos afins abundavam e multiplicavam-se assustadoramente: os elitismos, que têm o condão de me cansar até à exaustão, as aulas de encher balões, os senhores catedráticos que estavam ali com o propósito único de nos reduzir à mais fraccionada insignifância, algo que faziam com arte, disfarçando um certo desprezo descontraído que se camuflava de paternalismo e, não poucas vezes, a mensagem insubtilmente transmitida de que não passávamos do tal meio para os fins certos, nós, o paycheque, que é como quem diz o instrumento de subsistência. Claramente, não me refiro à totalidade, mas à grande maioria.

Não que eu possa queixar-me muito, já que todas estas feras, revolucionárias e heróicas, algumas com anos de cativeiro e intelectualidade a toda a prova, sempre me trataram muito bem poupando-me aos seus arranques de mau génio consubstanciado na lista das notas que, numa primeira abordagem, cheguei a confundir com a lista de faltas – coisa intrigante, já que o sistema de controlo de presenças não era, supostamente, aplicável a trabalhadores-estudantes, embora os nossos “amigos” se estivessem rigorosamente nas tintas para a legislação. Realmente, era uma listinha onde pululavam os algarismos de 0 a 6, especialmente na cadeira de Pré-História, fosse qual fosse o docente, mas não só.

Em todo o curso, de 22 cadeiras feitas, e algumas com docência dupla, tenho de confessar que admirei genuinamente, pelo seu Saber indiscutível, uns 4 professores, todos eles “deslocados” da respeitável normalidade: um ex-frade, em História da Cultura e Mentalidades (Medieval), Professor Armando Martins; um matemático e historiador, em Política, Sociedade e Economia (Portugal, Moderna – XVI a XVIII), Professor António Marques d’Almeida; um informático em Contemporânea de Portugal – e grande especialista da História da 2ª Guerra Mundial – Professor José Tello; e, por fim, para mim o mais brilhante, um cérebro contra-corrente, que citava passagens em latim ou grandes excertos de obras enquanto olhava para o tecto - contrariamente à prática instituída, pelos seus colegas de profissão, de dar aulas debitando fichas de leitura – e que acabou por ter de ir fazer o doutoramento (era muito jovem, ainda) ao Departamento de Literatura, já que as suas ideias marginais não haviam colhido vestígio de simpatia no empinado e conservador Departamento de História.

Era o Dr. Luís Filipe Barreto e a cadeira era a de História da Cultura Moderna em Portugal. Era peculiar e incómodo. Em choque com a corrente, aceitava apenas testes “pragmáticos”, i.e. completamente despojados de “palha” e até um esquema ou gráfico lhe servia, desde que contivessem bem explanadas e completas todas as respostas correctas. “Magnânimo e pouco exigente” como era – e no entanto eram as suas aulas que me faziam ir à Faculdade – as notas com que presenteava 80% do público assistente dançavam entre o 2 e o 7. Uma festa rija, diga-se já, que enchia a Reitoria, sem pré-aviso, de uma multidão de desistentes até ao sagrado mês de Abril, o prazo final para a possível debandada.

Segue-se que, pareça ou não, sempre fui mulher de grande pragmatismo nas circunstâncias que o exijam, como a escola ou o trabalho, e logo, tratei de entender o contexto e adaptar-me àquelas aulas diferentes de tudo a que já tinha assistido, nada fáceis, e por isso mesmo extremamente motivadoras para mim.  À parte os benefícios que me concedia de reservar a última meia-hora de aula para debate de questões “filosóficas” - as minhas omnipresentes incertezas e que enchiam de apontamentos os cadernos dos meus colegas, coisa assaz divertida já que estávamos apenas a conversar – acabei por me surpreender quando por fim soube que me tinha agraciado com uma das suas mais altas notas finais.

E eu, pela primeira vez, sentia-me bem naquela casa, por constatar que para suceder não era inevitável pertencer ao rebanho de alinhados que debitavam “o facto em História” como coisa certa e indiscutível, numa verborreia apática, seguidista e interminável. A verdade é que não foi esta a minha nota final mais alta: para além de várias de igual valor, outras duas finais e várias intercalares distanciaram-se em vantagem desta, mas nenhuma me deu o imenso gozo que esta me proporcionou.

Foi este, dos poucos que admirei genuinamente, o professor que me fez sentir mais gente, mais especial, pelo visível respeito com que me tratava por, como me explicou, ser trabalhadora-estudante, o que me levava a faltar à maioria das aulas – de todas as cadeiras - sem que isso, contudo, parecesse prejudicar-me a prestação e sem nunca ter cedido à "salvação" da melhoria de nota.

Claro está que eu, tal como ele, era uma espécie de ET infiltrada por terras de iluminados perfiladíssimos e jamais me integrei no espírito dominante de caça à nota, com os agregados e implícitos esquemas de actuação, o que não obstou a que fosse, sim, integrada por toda a espécie de facções e contra-facções, que me achavam alguma graça e me baptizaram a partir do 1º ano de “baldista-mor do reino” (de vez em quando, eu aparecia por lá...).  Graça essa que radicava na mira exclusiva aos meus apontamentos, esquemáticos, impossíveis, que eu própria mal conseguia ler depois, mas que, ainda assim, se tinham tornado populares porque, afinal, apanhavam tudo o que ficara dito e bem feitas as contas, com jeitinho, lá se conseguia descodificá-los. Interessa esclarecer que naquela casa ninguém dava, sequer emprestava nada a ninguém, porque a concorrência era feroz e lá está: “sabes, não ias perceber a minha letra” - deixando-nos, assim, completamente à nora a 2, 3 dias de testes globais.

Já eu, que me estava regiamente nas tintas para a competição – a minha vida não era ali – tinha os meus cadernos a circular por resmas de penduras e via-me depois “grega” para os recuperar. Mas tive colegas bem interessantes, enquanto que outros, enfim, nem é bom lembrar, valham-nos todos os padroeiros da guerra aos gravatismos associados...

Moita Flores, por exemplo, foi meu colega até ao 3º ano, tal como João Abel (da RTP) até ao 2º. Do primeiro tenho as mais divertidas memórias e provas dadas de companheirismo, de alguém que rejubilou com a derrota por mim infligida ao 'astro' João Abel, única e memorável, deixando-o para trás num teste de História de Portugal Medieval (política, sociedade e economia) o que levou uma turma inteira ao delírio do aplauso e ao cumprimento personalizado, a que só faltou... João Abel, sim.

O mais significativo cumprimento veio, pois, de Moita Flores e... não se explica, mas há coisas que nos marcam. Na altura ninguém o conhecia, era apenas um agente, ou seja lá qual for o nome de guerra que se dá à coisa, da Polícia Judiciária, mas escrevia divinamente poesia, tendo chegado a ler um dos seus poemas numa das aulas que tínhamos em comum.

Era um tipo cool e éramos nós que, a pedido, lhe assinávamos a folha de presenças sempre que ele se baldava – eram muitas as vezes, logo, representava a minha concorrência. Observei-o anos a fio e constatava com agrado que se mantinha em terra, bem assente. Até que a política lhe saíu ao caminho e... voilà: estragou-se definitivamente. Ponto final.

Já João Abel será, muito provavelmente, o tipo mais entediante, untuoso e reaccionário que conheci em dias de vida... Mas tanto, tanto, que nem vale a pena explicar – ia adormecer a meio da tarefa, seguramente. E apenas para que não pareça gratuita a afirmação que acabei de produzir com toda a convicção, deixo um lamiré: apresentava-se aos testes com consulta apetrechado de 4 sacos enormes de hipermercado (o bom gosto, enfim) carregados, até ao entorno, de enciclopédias e outros calhamaços sem graça, ele rejubilante de entusiasmo por um exercício com duração agendada de 4 horas...
 
Enquanto eu, à porta, em modo de pânico disfarçado e seriamente desconfiada a olhar o anfiteatro, hiperventilava de claustrofobia, ao mesmo tempo que engendrava as mil e uma maneiras de conseguir pirar-me para vir cá fora fumar, lá pelas 2 horas cumpridas – coisa q se revelou impossível e q resolvi de forma lógica e elementar, reduzindo a minha prestação a 2 horas (o meu máximo permitido em clausura) saísse lá o que me saísse para aquela enorme e indigesta quádrupla folha de teste.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   
Segue-se, ainda, que retirar dos sacos todos aqueles compêndios de sabedoria alugada, tomavam, a ele e a nós, uns bons 10 minutos de estrondo e confusão, apenas intercalados pelos seus magníficos apontamentos de humor e sorriso cretino a condizer, que invariavelmente nos levavam a todos, sem excepção, à lágrima de profundo desgosto.

Com tudo isto dito, acresce que por lá andava também o meu parceiro de vida - por mais de 18 anos mas que, então, caminhava ainda os tais primeiros e fatídicos 7 -  a quem doravante me referirei por F., arqueólogo desde a adolescência – há umas quantas décadas, portanto – e muito reconhecido entre a classe docente que o encarava como alguém que apenas está a oficializar uma situação.

Ora, nos furos das minhas aulas, cabia-me assistir às suas intermináveis reuniões de trabalhos académicos, outros da Associação de Arqueólogos, enfim, ossos duros de roer para quem não se entende com burocracia em lado nenhum e muito menos a inflitrada no conhecimento, e que terão levado a que, por exemplo, eu recusasse a proposta para a minha adesão à referida e respeitável Associação, já que a mesma comportaria condições especiais dado que eu não tinha nenhuma obra publicada na área.

De chatice em chatice acumulada, que tinha de engolir porque, lá está, amor a quanto obrigas e tal, lembro-me de uma particular, uma tal das muitas conferências que tive de digerir, mas esta com especialíssimos convidados de honra: a Dra. Maria Barroso, com uma intervenção bastante interessante dada a sua inquestionável capacidade de comunicação; e também sua Eminência... o Bispo de Lisboa e Cardeal- Patriarca, D. António Ribeiro, ali, de frente para mim, eu, pobre infeliz, depositada na primeira fila já que tinha chegado atrasada, só para não variar, calhando-me em sorte aquele lugarzinho sobrevivente, ele ali também, olhos nos olhos às vezes, seraficamente entronizado à direita da "mãe" – neste caso a oradora – até que chega do lugarzinho ao lado, via F. - que entretanto arranjara maneira de ir sentar-se ao pé de mim - a tal da notícia interessante e de tamanha importância que o levara a trocar de lugar: “não te esqueças que no final da cerimónia há que ir cumprimentar os convidados, e já sabes qual é o protocolo com o Cardeal...”.

Tal aviso, mesmo em cima do acontecimento, resultava, claro está, das intermináveis discussões sobre aspectos do protocolo que me recuso desde sempre a seguir, quer por considerar que contêm uma essência que radica em marcada discriminação social, quer porque se inserem em princípios/causas que repudio ou, pelo menos, com que não me identifico, pelo que este, em particular, havia já sido largamente debatido: o beija-mão ao Bispo, melhor dizendo, o beija-anel... Olhei para ele, rasguei o mais inocente sorriso e de olhos bem fincados nos olhos dele, murmurei: brincalhão!  ... ... ... (E ninguém "lhe" respondeu...)

Não era ali, certamente, que a disputa, já com uns largos anos em cima, se iria resolver, pelo que ao deparar-me com um certo olhar gelado de quem ignora supinamente o que acabou de ouvir, decidi que iria comportar-me até ao fim, ao mesmo tempo que me artilhei com o mais conveniente sorriso de ocasião, sem treino nem nada, mas inegavelmente eficaz.

Escusado será acrescentar que no final da palestra, e pelo meio daquela coisa importante de confusão e cumprimentos, protocolo, etiquetas e chiquismos vários, nasceu a grande, magistral oportunidade para a mais rápida e misteriosa fuga na história do Convento do Carmo: a minha, está bom de ver.

Se a estas interessantes peripécias acrescentarmos a evidência de ter que receber favores para entrar para a Associação nas ditas circunstâncias especiais, e ainda por cima vindos de alguém que eu me divertia ciclicamente a irritar – o Sr. Presidente … Santana (levantemo-nos) – referindo-me à sua filha, minha colega de curso e amiga, como “Manela” e sempre ignorando o título académico atrás da coisa, circunstância que empalidecia de morte o Sr. Presidente (levantemo-nos de novo), também ele fortemente ligado a estas questões de protocolo (este de cariz familiar, certamente, que não me ocorre outra explicação) e que, irremediavelmente, me fazia brilhar de gozo o olhar sério e composto que lhe dirigia, digamos, então, que não era a mais inteligente ou coerente ou o diabo a sete das resoluções aceitar tão generoso favor.

Portanto e naturalmente, lá me deu para recusar tão prestigiante proposta, o que, expectavelmente, me valeu o rancor vitalício de F., se a tudo isto  juntarmos a imperdoável desconsideração protocolar para com o Clero. Coisas.

Mas, dizia eu então, há uns largos parágrafos atrás, que na contingência de ter que gramar com todas as conveniências sociais da chatice, com vista à subida de terceiros a poleiros compensadores, me entretinha eu a matar o tempo, enchendo resmas de folhas, como quem diz páginas - já que só escrevo de um dos lados, por princípio de honra inquestionável e sob pena de confronto em duelo - com a tal da escrita em espelho que, para além do desafio que constituía pela diferença e corte na rotina, me vingava regiamente, se nos lembrarmos que a este tipo de escrita se refere a tradição popular como “escrita do diabo”! A facilidade com que o faço, desde o primeiro momento, deixa-me em profunda meditação sobre motivos, origens, explicações, enfim. Uma ralação indescritível, se querem saber... Adiante.

Certo é que foi ela quem me salvou de inenarráveis momentos de tédio que nem um exército de calhamaços chegaria para albergar. E serve ainda, porque recorrente, para me mostrar que o cérebro descontrai e aprende o caminho novo logo que a mente se liberta do aprendido, da orientação normativa que se tornou em prisão.

Por fim, em nota final, lembro com carinho que foi sempre esta a escrita escolhida para deixar os bilhetinhos mais pessoais aos amores da minha vida.

Do diabo, ao que parece, mas com amor...

Ana Vassalo
27-Jan-2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

sem S.O.S.




























tudo bate

todos batem


morre a janela
cede o telhado
no despenho em vertigem
e esmaga um resto de luz
que nunca aprendeu a casa


tanto melhor

rasga-se a pele
e o coração
apaga-se o rasto
que um dia pensáramos
caminho vasto do olhar


e sai a vida
o sangue e a memória
até sermos apagão


pois bem

estou no chão


abrigo sem gosto
mas com demora

sem dias de ser
ou de depois
farta de tempo com horas


salvé maravilha
honra e vitória
por tanta bala cumprida!


em quê?
pois se morri antes da chegada
na estrada de tantas eras
que um dia cortei ao trânsito


mas... quem não sente
não vê
apenas bate


cão atrás, mira e disparo
precisão de tiro ao alvo


essa terapia de abrigo
que lava os males de si
no soco que se desfere


tudo bate

e todos batem
 

enquanto a pergunta se agita
… se nunca entrei
porquê a expulsão?

deixem-me estar este ser eu
que bate a porta com estrondo
aos acenos da esperança



ao perigo frio e volátil
do que não sabe a promessa
e larga o mundo sem aviso
na morada de si próprio


um lugar antigo e escuso
sombra imensa sobre o amor


onde se bate

e tudo bate

e todos batem

sem trégua


até à plena rendição
do desamparo num beijo de chão


(av)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

LISBOA, MEU AMOR





Photo by Rafael Marchante, Reuters, Sem-abrigo de Lisboa


Há um risco preso à noite, um rasto branco adiante que ondula, sujo de néon. Sigo só, pelas avenidas, ruas de ofícios, travessas e becos, que me hão-de reunir aos companheiros de tarefa, lá por bandas de Sta. Apolónia. Junto ao rio, um barco ancora a solidão dos tardios. A estação não dorme horas certas e corpos alinham-se no frio mais composto por um tecto, enquanto outros se enroscam nas esquinas de papelão da noite indiferente.

Do outro lado, a revelação de um subterrâneo inesperado traz à vista um jovem casal. Grávido. De muito, tanto quanto de pouco. Ela, carrega consigo uma vida que ambos anseiam - certeza colhida nas vozes embargadas de um e outro, onde se misturam a comoção e o abraço ao futuro – ao mesmo tempo que o olhar resignado denuncia um outro parto, que pariu a rua como abrigo. Ela é bonita, ele também, são doces ainda, num sorriso de vida aprendida na "espera", essa tal que gosta de se passear num provérbio traidor.

Informam receios, também. Como quem parece precisar apenas de agasalho para a alma, que se resguarda de males a somar, em espreita, ali mesmo à mão de roubar o último fôlego da esperança. E a sopa quente que lhes entrego sabe-me, a mim, a vida sem alma, a minha, que se desfaz em perguntas sem resposta. Despeço-me do olhar brando a espelhar o sorriso criança que ainda sabem, enquanto no meu bolso se revolve a lágrima que prendo, com ganas homicidas, pelo pescoço.

Continuamos a subir, à luz da opulência de uma avenida bela e antiga, que forraram a mentiras atraentes, querendo sugerir que ali nasce e morre toda a beleza disponível no mundo, a consumir farta e rapidamente. E por contraste, numa outra esquina, um outro improviso, de um velho coração que alberga gerações de rua sem conhecer outro nome de vida. E, de novo, os cartões do calor como cobertor - que se conhece, às vezes, e dura o tempo de uma chuva - e mais um sorriso que aprendo por entre a confusão dessas infindáveis perplexidades do caminhar.

E enquanto os meus olhos se fixam no amontoado de velhos mas valiosos pertences daquele homem aquietado no único rumo que conhece, a mente dispara recapitulando o dia. Recordo, de minutos antes, um outro grupo de desabrigados, no Cais do Sodré, pouco mais que adolescentes. O diálogo, a face tardia do lamento a reconhecer horas de abismo, que já foram de magia pelo poder acrescentado das muitas cocaínas e afins do engano. E depois, a pausa para mais uma nota, que registo no diário dos afectos: não há homens sem remédio, que o bem não se define no singular; é circunstância, e depois é recurso, que acontece ou não, numa gramática de acasos.

Existe um Tejo e uma Lisboa para cada recanto da noite ali, que se separam por mundos: LuxFrágil no espaço aprovado; apenas frágil no lado infortúnio. Uma estrada apenas, calada e escura, os divide, na margem norte das águas que correm diferenças numa indiferença sem prazo.

A Maria será mãe no corpo da noite sem shots - o agasalho do que se lembra e se veste em esquecimento. E nós, robots do caminho aberto em revista cega a tudo o que não projecte um social oportuno, que se folheia numa cadeira da noite aconchegada pelas avenidas da sorte, sonhamos partos sem dor no regaço dos confortos invalorados, que logo depois esquecemos.

Na noite que se desenha nos pára-brisas da ausência, justiça vale um segundo oculto na luz do rio, que pulsa ao toque do tempo disfarçado de avançar, em corpos reféns da dança como quem busca em paradoxo o rosto da liberdade, que a manhã seguinte revelará não conhecer.

E a música corre um hiato, pelas calçadas vizinhas, entre excesso e defeito, zibelinas e papelão,  lacuna entre o abismo e o sonho. 
À distância de uma tira cor da noite, morre o lado que desce ao frio, enquanto o outro se estafa por amanhecer verdade...

E enquanto rumo até casa, desconfortada pela agressão de um outro tipo de frio, de uma estirpe que entranha e corta a fundo, cruzam-se na memória flashes sucessivos de uma noite que agora parece rir de mim. Como quem me acena manuais de vida, com instruções precisas sobre a impossibilidade técnica de se ignorar o aprendido e continuar a caminhar ambos os lados.

_____

(Memória do primeiro dia de um dos meus tempos de voluntariado, este entre 2000 e 2001.)


Ana Vassalo
14-Jan-2013


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

intervalo
































um resto do que há-de ser
na pegada que se apaga
número de porta da saga
que risca os olhos de o ler
uma cabeça já morta
como um balão por um fio
um traço de céu nada importa
nos aterros junto ao frio
lá por trás da noite viva
subúrbios do que já foi
onde o golpe já não doi
no sangue que sobrevive
dançam no chão fragmentos
testemunho que subsiste
numa sombra que há no vento
rumo à luz do que resiste
pela margem do cansaço
nos intervalos do passo
a verde relva dos dias
que nos cresce de utopias
cola-se o cérebro à esperança
velhos cacos de emoção
e a memória guia a mão
no coração que se lança
ao sonho inteiro de dar
será isto acreditar?
esquecido há tanto o pulsar
a travessia de encantos
a que é que sabe o olhar
que noutro guarda os recantos
será isto regressar?
uma cabeça já morta
que agarra o fio p’la subida
remenda a luz na aorta
e acende o sangue na vida?
sei lá eu do acordar
se há milénios era o mar
geocentro, heliocentro
cosmogonia plural
- resposta ou contentamento?
que sei eu de acreditar...
olho as frestas penso o todo
planto de flores o lodo
e espero que cresçam luar...


Ana Vassalo
14-Jan-2013
 
Imagem: "Moon Light Fragrance", Dorothy Oakman

 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

no chords





























you know that I just add the words
picking letters from the roads
it’s the soul that does its thing
the wind that lends the wing
while the sea offers the shelter
the mind has its records
the heart flies much better
and the skies break all the walls
but i dance in empty halls
still the foot carves the way
while the hand travels light
yet the lips have no say
but to put up a fight
and love finds no path
worth clearing the senses
where you once built the fences
and now prison is harsh


still i keep a wiser door
half belief opened to cross
the eternities of fear
so that words can get across
hoping one day they will soar
from the vast desert of you, dear
well, i rest with no case
my writing’s all done
no hero no leap no face
all strength is finally gone
forever brandish your sword
the glory of sadness is yours
a great song without a chord
shut every tale of open doors
words are gone without an end
night reigns high over the light
for pillars were thought not to bend
regardless of powers at sight
dark are the meadows ahead
while we grow tall in our heads
for love dies singin’ alone
a tune of old greens lost in tone


Ana Vassalo
11-Jan-2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CAOS





























E se o seu dia começar com a recepção de uma carta carregada de granadas, sorria muito, reponha flores, e mentalmente agradeça aos seus (espécie de) governo e (espécie de) p.r. o conjunto de alterações às leis em q tanto têm empenhado as suas-deles maravilhosas imaginaçõesitas de tractor.
 
É verdade que, estando atentos como nos compete, temos a obrigação intelectual de já ter assumido há muito q devemos, cada um de nós, acarinhar rapidamente a ideia de que a pobreza é o caminho que nos espera a todos os q arduamente trabalham ou trabalharam uma vida.
 
Enfim, há que não misturar as castas, convém perceber, sob pena de depois se confundirem as águas e parecermos todos iguais, coisa obscena, podia lá ser! Portanto, vamos lá a mentalizar estas cabecinhas cheias de sonhos de Abril de que sim, hoje tudo é o q parece, e os dinheiros de q o estado nos espolia, com o habitual toque de graciosidade e a subtileza de um tanque de guerra, estão, também sim senhor, a ser muito bem empregues na criação de umas resmas adicionais de delegações da Sopa dos Pobres, porque, sejamos honestos, caridade é coisa que lhe cai bem, ao contrário de solidariedade que é coisa de jacobinos e assim.
 
E agora sim, a paisagem urbana estará muito mais adequada a modelo de fotografia artística. Há poesia na pobreza, é incontestável - nunca ninguém ganhou prémios internacionais a fotografar lautos banquetes, pois não? Pois não, ora.
 
Mas já não interessa nada, porque o importante é apelar à criatividade da continuação, abrindo terreno por mato à catanada que é coisa em q até sou experiente e para alguma coisa há-de servir agora, digo eu sim. Afinal, não é do caos que nasce uma estrela? Nietzsche estava certo, seguramente, q ele lá tinha formação em muitas coisas destas de saber e q agora me hão-de ser muito úteis, vá. Cabe-me, então, ir à procura da minha, a tal da estrela, q ela deve andar aí por perto, a marota...
 
Volto depois, lá mais para quando conseguir deglutir este dia. Fiquem bem e mantenham-se afastados dos correios o mais possível. A guerra começou e o perigo de explosão anda encartado sob registo e aviso de recepção.
 
E mais não digo, que agora vou para ali rir-me muito para um cantinho até me passar esta estranha impressão de pesadelo.
 
Beijos de ano novo.
Desta que s'assina,


Ana Vassalo
10-01-2013


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

cai o pano na cidade

































de espada em grito a razão
a lição omnipresente
inconvocada
o estalo o desbrago a explosão
no entulho da existência
acumulada
o antigo voltar das cegonhas
a haste crua da verdade
silêncio da alma na pele
que soa em estrondo a cidade
opção crua por instinto
o real facto aprendido
o sonho dos dias fendido
nos terramotos do engano
mãos de sal estendendo o mar
aos limites de um arcano
um deus um sol uma luz
nas urdideiras de amar
o estrado da segurança
o olhar queimado
o despenho
fere
sangra
e enfraquece
na aridez do engenho
fica o chão e a contraluz
o fio que cede esgarçado
o feio andar da promessa
o horizonte amarfanhado
o definhar do avesso
um intervalo inconfesso
a guerra saudade e a pressa
a palavra presa à trama
que não encontra a conversa
o inimigo que ama
a fala muda de altivez
o amor que o sonho não fez
estala
quebra
e assassina
qualquer vestígio de vida
no gene de acreditar
e os olhos secam
o vôo aterra
as mãos prendem o toque
do que resta em esquecimento
a sístole bate em deserto
no coração que calou
os lábios atacam sorrisos
treinados de resistir
e a terra hoje abrandou
as voltas de um por vinte e quatro
em movimento de acerto
num vasto nada a parir
amores de anfiteatro

tocam sinos a rebate

lembram vida nos abismos
em dois panos de muralha
peões das horas sem mate
p’la rainha que nos falha
no castro perdido em combate

e é na distância do fim que rimos

um adeus à lágrima que nos valha


Ana Vassalo

metáfora
































metáforas são código,
lugar de todos, que nos fecharam

a chave é tão universal
como o pensar da luz na sombra


e a porta...
é de mão própria, talvez incerta
ora se abre em clara vida às alamedas
ora se fecha num beco antigo descido à morte
 

Ana Vassalo
08-Jan-2013
in facebook too

JOSÉ F. VICENTE - II














À chegada de 2013,
o 2º Poema oferecido por
José Vicente.
 
Muito obrigada, amigo querido do coração doce e Poeta
que tanto admiro.







"Para uma amiga muito especial: Ana Vassalo
 

As portas dos poetas
não têm chaves.
São mansardas abertas
ao querer do sonho,
amante do vento que iça os sentidos
e os faz ser luz
a iluminar o escuro das palavras
quando as palavras não têm fé.
Erguem-se flâmulas nos olhos da poesia
habitada pela primavera do pensamento,
esvoaçam anunciando o amor
que esteve no escuro
e na ferrugem de uma fechadura
que enclausurava a mente.
Entra o esvoaçar das ideias.
Entram trepadeiras como chicotes
a vergastarem as trevas.
Entro eu e tu e ainda tu...
vindos da terra onde as letras se casam,
deitamo-nos despejados do fingir
e o desejo é possuirmos o corpo da imaginação.
Não se bate à porta dos poetas,
entra-se e sobe-se até à mansarda
onde já as aves deixaram penas
para escrevermos o que a alma e a vida ditam.
Sem caveiras,
poesia apenas,
na procura das palavras certas.
Tanta beleza sem mistério
onde se entra
com a chave da criação.


 
JFV
04/Jan/2013
in facebook

Imagem: 'Volcano Poet', Dale Witherow."

JOSÉ F. VICENTE - I










Poema oferecido pelo meu 
mais querido Amigo e Poeta
José Vicente.






"Para Ana Vassalo
 


Vi-te sentada no poial de uma estrela,
apanhavas fresco.
Foi num serão quente,
tão quente que o sol envergonhado
fugiu quando a lua se aproximou.

Tinhas um chapéu, lindo,
feito de raspas de nuvens.

Vestias saia de luar, esplendorosa.
Esvoaçava quando a brisa se manifestava,
formando bandeiras que saciavam
a calma do céu.
Janelas, portas, postigos
abriam-se para que entrasse
a brisa vinda do teu respirar.

Do alto da humanidade
enviaste-me o ar
que me faltava
para falar contigo,
como se de eternidade se tratasse.

Vi-te sentada no poial de uma estrela,
e a criança que ainda sou
adormeceu no teu regaço de glória
esperando que o ar fresco
me sossegasse na tua amizade.
Recordo-me que o teu chapéu, lindo,
feito de raspas de nuvens,
refrescou-me.
Vi a noite esvoaçando
e o mundo que nos fala.

JFV
29-Abr-2012
in facebook



Imagem: 'Night sky over the Rhone', Vincent Van Gogh"