um resto do que há-de ser
número de porta da saga
que risca os olhos de o ler
uma cabeça já morta
como um balão por um fio
um traço de céu nada importa
nos aterros junto ao frio
lá por trás da noite viva
subúrbios do que já foi
onde o golpe já não doi
no sangue que sobrevive
dançam no chão fragmentos
testemunho que subsiste
numa sombra que há no vento
rumo à luz do que resiste
pela margem do cansaço
nos intervalos do passo
a verde relva dos dias
que nos cresce de utopias
cola-se o cérebro à esperança
velhos cacos de emoção
e a memória guia a mão
no coração que se lança
ao sonho inteiro de dar
será isto acreditar?
esquecido há tanto o pulsar
a travessia de encantos
a que é que sabe o olhar
que noutro guarda os recantos
será isto regressar?
uma cabeça já morta
que agarra o fio p’la subida
remenda a luz na aorta
e acende o sangue na vida?
sei lá eu do acordar
se há milénios era o mar
geocentro, heliocentro
cosmogonia plural
- resposta ou contentamento?
que sei eu de acreditar...
olho as frestas penso o todo
planto de flores o lodo
e espero que cresçam luar...
Ana Vassalo
14-Jan-2013
Imagem: "Moon Light Fragrance", Dorothy Oakman
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