Nov 24, 2017
Foi amanhã, eu sei, mas não, amanhã não vai dar -- escrever, falar, pensar... São assim, silenciadores, os amanhãs de certos passados.
É hoje que te quero falar, o dia de há um ano, aquele último que nos encontrou, mãos juntas na rota de um último traço de esperança. Respirar era ainda possível, para ti e para mim, mesmo que o ar de todas as tuas planícies libertadoras se tivesse tornado agora tão insuportavelmente pesado.
Estávamos lá, as três, inseparáveis como nunca, como sempre, para sempre. Quiseste sair, depois, e pela primeira vez em nove anos eu senti que era certo, que estava bem para ti e, logo, também para mim. Descansa, foi o que te pedi, pela primeiríssima vez, e tu ouviste.
Voaste a despedida, de mansinho, a noite quieta para te acolher, como tu, sem desvios, até ao fim. Sempre, és sempre tu, nas horas de amanhãs que estão por vir, aqui, sentada comigo, sorriso de estrelas aberto à vida, olhos de rio doce, atarefado num abraço gigante de ternura ao mundo.
Saudade de todas as tuas janelas, de horizontes sem fim, de ar fresco e romãs, de restolho também, janelas resistentes de diamante.
Espero por ti todos os dias, sabes? E sei que vens, e sei que estás. Comigo, aqui, num tempo sem pressa de ser.
E tudo está certo, enfim, nos seus devidos lugares.
Até logo, mãezinha.
RESTOLHO - MAFALDA VEIGA
https://www.youtube.com/watch?v=y6raRduUhaw
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Ana Vassalo
Fri, Nov 24, 2017
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