NETOS

NETOS

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

JOÃO - MARIA ANA - PEDRO

REMARKABLE PEOPLE



FERNANDO PESSOA

(Lisboa, 1888 - 1935, Lisboa)


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


************
"I am nothing.
I will never be anything.
I cannot want to be anything.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."

or...

"I am not nothing.
I will never be nothing.
I cannot want to be nothing.
Apart from that, I have in me all the dreams in the world."


(Álvaro de Campos in "Tabacaria")




LISBOA - Chiado

LISBOA - Chiado
"Fernando Pessoa" by Lagoa Henriques. The place: "Café A Brasileira" (Brazilian Café) - 1905.

PLAYLIST TODAY




MUSIC IS THE PASSION REPORT



♥ ♥ ♥


PLAYING SOFTLY WHILE SOMEONE SANG THE BLUES



Saturday, Jul 22, 2017 - 17:57





SALVADOR SOBRAL - NEM EU [DORIVAL CAYMMI]



YouTube – "Salvador Sobral"





ANTONY HEGARTY + LEONARD COHEN - IF IT BE YOUR WILL [COHEN]



YouTube – "Oggmonster"





CHAN MARSHALL (CAT POWER) - I'VE BEEN LOVING YOU TOO LONG [OTIS REDDING]



YouTube – "anaruido"





JANIS JOPLIN - ME & BOBBY MCGEE [CHRIS CHRISTOPHERSON]



YouTube – "ThE DuCk"





JEFF BUCKLEY - LILAC WINE [JAMES SHELTON]



YouTube – " roberta panzeri"





DAVID BOWIE - WILD IS THE WIND [JOHNNY MATHIS]



YouTube – "Peter Music HD"







_____________________


LEANING INTO THE AFTERNOONS by PABLO NERUDA

«Inclinado en las Tardes»



YouTube - "FourSeasons Productions"






CHANGING BATTERIES - OSCAR WINNING ANIMATED SHORT FILM



YouTube - "Bzzz Day"





DIALA BRISLY - A BEAUTIFUL YOUNG LADY

(a huge thanks to my daughter who e-mailed this video to me)



BBC Newsnight

«Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman - artist Diala Brisly - who is trying to make life that little bit more bearable for Syria's kids.»

Syria is devastated by five years of war - and it's taken a huge toll on the country's children. Here's one woman -...

Publicado por BBC Newsnight em Domingo, 20 de Março de 2016






A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT

A JOURNEY BACK TO ENDEARMENT



FLYING A SECRET



I got here to hide. From equations and patterns. From repetition, after all.
Closed the door and got me a special place where I thought I could
somehow sit close to the stars. But I soon found out that the sky was
still opaque, no matter what the steps. And so I left. Again.

I thought, then, I could build me a different ceiling, a new-coloured scrap
of highness. And then make it work. Where I could dream, more than I sleep.
I have long decided that sleeping is overrated - that I know for sure. So I
take that time instead to travel the night alone and in the meantime I allow
myself to fly, unlike stated before... Yes, I like playing with paradox, to
expose the inside of words and the revelation of writing down the voice of a
silence. My adventurous, ever-walking silence.

So I came back. Here, within this quiet world, I intend to gather all my
things usually kept hidden or inactive. They are here to speak.

And since the future is a stand-by secret, I want to live by a precocious
clock, at every running instant of every entering second.

And I will not slow down until my "future exists now" - kind of reverse
quoting Jacob Bronowski.


Ana Vassalo
in my site "CAFEÍNA"(former "No Flying Allowed")
Nov 11, 2010 - 11:54




THE WALK OF TIME

THE WALK OF TIME

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Portas no Tempo





 


 
Hoje não tenho nada de meu para dizer, e queria, precisava de ter...
 

O alívio da palavra que larga o cérebro em velocidade e não se detém porque nada a pode parar. Sem o lápis azul da consciência ou dos brandos costumes, do cinzentismo estéril da discrição. Queria hoje o grito puro, indiferente a leis do ruído, rasgando do mundo todas as recostadas conclusões.

Gosto de janelas, a palavra que abre. Na escuridão, solta-nos o mundo; no diamante o brilho; no olhar grava-nos de alma. Janelas amplas, escancaradas de vida, seria tudo o que preciso neste meu caminho que enclausurei há tantas eras num lugar longe de mim, com acesso que recuso. Não sei como abri-las... Houve um tempo em que era tudo o que sabia, ser apenas eu sem reserva, solta por aí sem culpas, apenas vivendo o que queria ser, procurando o gosto a gosto, sem olhar a tendências ou padrões.


Não tenho nada para dizer neste canto frio e escuro em que me guardei, alimentando-me apenas de vida passada, como quem subsiste de cara para a parede. É escolha, mas não sei porque é. É o que quero, talvez por não querer mais nada. Olho cada rosto à minha frente e, quase sempre, vejo apenas o retrato de alguma coisa que existe e se move sem convicção, sem perguntar porquê, sem o sentir, sequer, dessa curiosidade de origens e metas. Com quem não resta diálogo, química ou sintonia.

E no entanto, gostava de ser eu também esse sentir coisa nenhuma. Por mais contradições que possa carregar nesta espécie de existência que me acompanha, sei que é por sentir demasiado tudo, um tudo que me aniquila, que não quero conhecer mais, nem uma gota mais de vida que parece emprestada a juros de agiotagem.

Não tenho nada para dizer, a não ser estas grutas que desenho no mar, dentro da minha cabeça, belas e imponentes, como útero materno, como vida, que me acolhem depois em cada buraco mal iluminado onde me aconchego e cuja réstia de luz me é indiferente. É como que recolher ao quarto, entrar na cama e tapar cada milímetro de pele com os cobertores da protecção, mas sem o fazer, continuando por aí como que viva, apenas pairando sobre um mundo em que não quero aterrar para não ter que o olhar em versão de rascunho, eternamente por acabar.


Talvez por isso gostasse tanto de Masina e a sua Julieta dos Espíritos, não sei: a difusão da cor, que é própria dos sonhos, propicia imagens belíssimas de uma certa realidade, que nos atinge velada, apenas, não absoluta. Nada se revela no absoluto a não ser a imagem deformada do que foi mal visto, da superfície que é opaca mas pode encerrar mundos de luz.


E apesar de tudo, gosto de navegar a realidade à bolina - ou não fosse eu portuguesa, herdeira consciente dos inventores da técnica, esta como tantas outras mais - de contrariar os ventos e velejar feroz e loucamente contra a maré, como quem conquista o universo, um lugar próprio e exclusivo onde todos podem entrar e sentar-se, trocar um copo e uma ideia, mas onde ninguém pode alterar a lei: a da inteira liberdade para escolher ser livre.

Será aqui, talvez, que encontro explicação para a marcante importância que teve para mim, onde outros viam uma mera visão economicista, a Utopia de Morus * ao mostrar-me que nem todas as grandes visões são compreendidas pela humanidade, que se cansa a meio caminho de entender o que lê mas não se priva de tirar conclusões do todo, necessariamente erradas mas legitimadas pela maioria convergente na preguiça. Qualquer projecto de sistema que contemple todos os mecanismos possíveis para obstar à injustiça em qualquer das suas máscaras, embora devidamente caracterizados e de visível funcionalidade, está irremediavelmente condenado à categorização, numa sistemática de folgas e copos que apenas concebe o mundo como sempre o viu e ainda que o que viu se reduza ao seu tempo de vida, mais uma ou duas gerações colaterais, como quem diz ascendentes e descendentes imediatos. E é neste contexto que toda e qualquer ideia que prefigure a imparcialidade no exercício da justiça, porque aquela lhe é e foi sempre inerente antes da desvirtuação, ganha inapelavelmente - perdendo - o nome de utopia.


Dizia-me o meu pai, num dia de há muito tempo, eu adolescente ainda e sedenta de uma tal de justiça para o mundo que eu via a partir-se em fragmentos pequeninos e irreconstituíveis, que não existia na prática essa coisa instituída da maior ou menor justiça, i.e. não é possível ser-se mais justo ou menos, porque a gradação é incompatível com a própria essência do conceito: ou se é justo, ou se é injusto, restando somente as variações “ajustantes” na aplicação, que libertam, mais ou menos – aqui sim - a consciência de quem a aplica, à dita justiça. Dou-lhe hoje a razão que na altura não reconheci.


E então, é como dizia antes, não tenho mais nada de meu para dizer, nestes dias de progressivas, galopantes más surpresas sobre a natureza humana, seja lá isso o que for - e à parte as aportações específicas do sagrado para o termo “natureza” que não vêm ao caso - num mundo onde se arrastam cães pela cidade amarrados a carros sem que se chegue a entender de razões por mais obscuras que viessem a revelar-se, porque esse mundo dispõe de uma tal justiça que é selectiva, que classifica os seres e os divide, sendo que uns são validados e outros simplesmente não; onde se deitam recém-nascidos no lixo, certamente por conveniência integral de prioridades já que a cobardia menor de os largar à porta de uma qualquer “misericórdia”, das muitas que vão proliferando e talvez não por acaso, seria certamente tempo perdido e vital para outras actividades de maior interesse porque mais lucrativas, arrisco; um mundo pragmático a todo o custo, onde um nicho de generosidade em cada coração não garante lugar nos mercados do sucesso, pelo que será sempre um lugar de meia-dúzia de romeiros, outsiders, alienados, e tantas outras classificações de alívio de consciência aplicadas aos que utopicamente – lá está – vão resistindo à globalização da “bolsa de valores” nos lugares que são ou deviam ser de sentir.


Tenho pena, enfim, de, nesta altura da vida em que sinto que a gastei demais e extemporaneamente pela sede de chegar às metas, como o menino índio com o seu novelo, não me restar nada para dizer a mim própria, a única entidade, no fundo, para quem sempre escrevi na ingénua esperança de que, entendendo-me, poderia melhor servir o Outro. Mentira. Os outros são meros transeuntes de nós, passam-nos rasando mas sem tocar. Apenas olham, não nos vêem. É inexistente a ideia de comunhão ou sequer de comunidade no dia que hoje escurece. Somos utilitários do Outro, descartáveis e nem por sombras recicláveis. Sasonais, é o termo que me ocorre, de repente.


Por isso parto sempre. Antes do fim de todas as coisas. Porque as aprendi, às muitas coisas de Não Ser, pela vida fora. Que rejeitei, ainda que teimosamente as tenha invariavelmente reduzido a um mundo de culpa: a minha. Achando que, ao olhar para dentro e tentando arrancar tudo o que não se me prefigurava como certo, nasceria eu melhor a cada dia, para um amanhã de partilha mais perfeita com o Outro. Tenho esta cegueira congénita, esta incapacidade de reconhecer, para mim, a culpa no outro, embora conscientemente consiga enxergá-la. É depois aquela zona mais escura e imprevisível, autónoma e impositória quem inverte os papéis e me reduz a culpada dos males do mundo. Pelo que faço e também pelo que deixo de fazer. Por dar e depois por não dar. Por estar, para não ser, e a seguir duvidar se devia ser mais, quando o que sou apenas serve o meu isolamento.

Se eu tivesse algo de meu para dizer, o que não é o caso hoje, diria que todo o amor que tenho dentro de mim é tanto e tão intenso que me fere e me afasta do mundo, a tentar curar as feridas num abraço desesperado ao esquecimento. Tal como se me apresenta, esse mundo de hoje, a cada palmo, a cada gesto, a cada notícia, resulta numa impossibilidade para mim, Não consigo aumentar mais o coração para nele receber e processar tudo o que me faz mal, um mal tão agudo que quase o sinto palpável. Pelo contrário, sinto que vai ficando pequeno, pequenino, queimado de tanto embate. O mundo é feio, muito feio, tal como o vejo hoje e não serão os optimismos de bolso ou as filosofias de sorriso as ferramentas com a necessária objectividade para uma visão diferente. Mas rende, eu sei. Nada como apelar à futilidade residente em cada um de nós, em maior ou menor grau, com um bem achado pensamento de paz, alegria e suposta lucidez, de uma qualquer sabedoria incomprovada, quanto à verdadeira essência da vida (?) para logo se arrebanhar uma multidão de fãs. Pena que não seja mesmo eficaz, esse “ser” porque queremos muito que seja, e talvez não por acaso ou ver-nos-íamos confrontados com a circunstância de não sobrar razão para continuarmos à procura de um qualquer sentido da vida que nos justifique necessários, mas que alguns, certamente mais iluminados, parecem já ter descodificado.


E se digo que nada de meu tenho para dizer, recordo, é porque do cérebro até aos dedos se perde o que de genuíno sentimos e queríamos transmitir, deixando apenas sombras no que conseguimos captar.


Hoje, não tenho, pois, mesmo nada para dizer ao mundo. Mas se tivesse, lembrava que tenho saudades de um tempo meu em que dizer era viver o dito, cantá-lo, arrancá-lo a toda a censura, metralhá-lo, fazê-lo reviver numa esperança inabalável. De ser gente dentro de mim. E de amar sem reserva o Outro, em todas as situações justificado e compreendido. Ou de amar sim, ainda sem reserva, sempre que o coração fugia e se aninhava num outro qualquer, que nos passou e não se limitou a rasar, mas fez, sim, questão de tocar o que encontrou. E de encantar. Tão raro na minha vida, por isso tão precioso. Um tempo fantástico de se ser, em que acreditamos em metades platónicas e vivemos o amor muito além do limite de compêndios aprovados e de sensatez a metro.

Uns dias mágicos onde é tão natural dizer “tenho tantas saudades tuas, desse nós que havemos de ser”. Saudade de amanhãs que acrescentam porque a mudança é uma possibilidade num universo de acreditar. Onde a criança que somos não capitula e nos dá a mão até ao futuro que somos ainda capazes de inventar, tentados pela inocência. Hoje.

Saudade do sonho que ainda não sabe que é sonho. E ainda há pouco, quem sabe se ontem, morava aqui, vivendo em mim...



Ana Vassalo

22-Fev-2013

* Tomás Morus, o nome latino de Thomas MORE, adoptado, como era prática à época, em homenagem aos Clássicos, e visível ainda em algumas edições mais antigas da obra.


(Imagem: foto de Jack Cheng, in “The True Weight of Things”).

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

CARTA DE AMOR NO DIA DE S. VALENTIM






 
Meu amor


Não sei onde estás e acrescento já que não saber é uma grande chatice porque hoje o dia é importante diz que sim e eu acredito.


Ora acontece que me dava muito jeito agora ter aqui um amor mesmo à mão de semear que é como quem diz de agarrar pelos colarinhos e não deixar sair nem um segundo antes do necessário pois que ando a ressacar com saudades sobretudo quando olho ali para o tecto e verifico pela enésima vez que a casa está a precisar de pintura sim senhor.

Toda a gente sabe que um amor é útil e faz sempre muita falta especialmente no supermercado por exemplo em dia de compras do mês em que sai de lá uma pobre alma carregada até às orelhas sendo que um amor que se preze não deixa que tal injustiça ocorra pois não.

Ora hoje que só é importante de há uns anos a esta parte por via de importação oh yeah que convém estarmos sempre actualizados pelas tradições dos outros que nada têm a ver connosco menos ainda no bolso porque é claro que não se pode comparar tradições de gente rica com um país de almas depenadas ligaram-me para aí a saber o que pensava do dia de S. Valentim.

Mau feitio a quanto obrigas tratei logo de ir informando que não sou católica porque sim e ninguém tem nada com isso enquanto ia literalmente fugindo de telefone na mão como que a fantasiar que o acto teria o seu efeito de eficácia lá do outro lado da linha mas não nada disso que eu sou pessoa de sorte arredia como se sabe.

E tal que era um estudo e eu com isso perguntei que já larguei a escola há tanto tempo mas não fora de brincadeiras era útil perceber o que as pessoas pensam e coiso do dia dos namorados e eu já saindo de fininho que nada não uso já me esqueci da última vez que usei e lá está como é bom de ver a minha resposta desinteressante só ia servir para desvirtuar as conclusões e as estatísticas e outras porras associadas.

Suei pela dispensa debalde e convém não vos confundirdes com o balde e muito menos com a despensa até que lá me ocorreu a desculpa chapa cinco que funciona sempre vá-se lá saber porquê mas agora na altura também não interessa como quem diz interessava nada e lá fui fugindo mais um bocadinho de telefone na mão e adiantando que estava mesmo de saída quando recebi a providencial para os namorados ou para a estatística sociológica chamada. Providencial chamada. Não sociologicamente para mim. Hã?

Ora fiquei aqui mergulhada em profunda meditação que é coisa que me ataca raramente mas com violência sempre que acontece e a pensar com os meus demónios internos que são os meus mais fiéis ouvintes e confidentes se isto será raio de chamada a fazer a alguém com tanto divórcio e separação e descasagem que vai por esse mundo a lembrar uma pessoa de que o tecto continua por pintar e que tem de regressar do shopping que nem burro de carga em dia de semana sem enfeites nem nada quero dizer sem ajaezamentos que agora havia de me dar para ir buscar o livro do outro nem sei porquê e muito mais que isso acaba por contrair doença má e contagiosa que sozinho ninguem faz jantar não é? e acaba por andar a comer mal que é coisa de solteiro ou de single para ser mais exacto e preciso mas não confundido com o quarto de hotel de cama única e estreita que isso então é desperdício maior ainda mas pronto avancemos e mais grave que isso como se doente não bastasse ainda o mau aspecto feio e andrajoso que a magreza vai galopando e a roupa que se atira para cima vai escorregando até níveis perigosos a indiciar a queda total com as correspondentes sanções disciplinares previsíveis que este ainda é um país de brandos costumes tão costumeiros que até acabam por recuar e ficar mais antigos que a data em curso coisa que os entendidos denominam de anacronismo e eu não sei o que é mas deve ser qualquer coisa de muito mau porque não se percebe e ninguém explica que coisa.

Bom com tudo isto perdi-me e a verdade é que não gosto nada mesmo que me venham cá desaquietar ou em dialecto alentejanês desinquietar que é muito mais directo e funcional dizia eu que me arrufo até níveis indizíveis quando no sacrossanto recesso do meu lar coisa que também não sei quem dizia mas agora dá jeito aqui e estou eu em apaixonada entrega ao objectivo traçado para o dia e logo hoje que ando morta de cansaço e resolvi que agora é que era e em que coloco sempre o maior afinco quando se trata de não fazer a ponta dum corno com o mais grácil dos estilos a não ser os inadiáveis de terceiros que dependem da minha embora fraca mas indispensável acção e eis senão quando se vê brutalmente arrancada aos inconfessáveis prazeres advindos do planeamento de uma bela de uma sesta por fim já que não durmo de noite e vem esta gente armada de perguntadora estragar o dia a uma pessoa sem mais nem menos nem razão que se aproveite ora essa agora o dia dos namorados francamente...

Mas pronto tenho de confessar que gosto disto destas coisas de festejos e celebrações para cada dia nacional de muitas coisas da mulher do marido da criança do poeta do pintor do artista da rolha do martelo e da foice? não que isso agora dava uma história muito comprida e barbitúrica e eu gosto como se comprova de ser breve e sintética mas no sentido de resumir e não de falsificação sim? entendamo-nos pois que isto são assuntos demasiado sérios para dar lugar a malentendidos.

A verdade é que como grande fã que sou do acordo inortográfico que uso a preceito e obedientemente desde a primeira hora como é fácil de constatar apeteceu-me celebrar este tal de S. Valentim honrando-o ao tal supracitado acordo sem vestígio de pontuação salvo honrosa excepção feita para a interrogação insubstituível e o majestático ponto final parágrafo que é um sinal de pontuação digno de respeito especialmente quando estamos em maré de paragrafar dias idiotas que vêm à luz para tapar o sol com a peneira e fingirmos todos que somos muito casados ou amancebados ou até unifactados tudo na maior felicidade nos restantes 364 dias ou mais um para os bissextos que agora também não vem ao caso nem releva nada para a frustração que é não ter um amor cheio de musculatura e arte para nos ajudar nas tarefas mais duras e masculinas que diz que uma mulher não nasceu para fazer e que me dá um jeito do caraças acreditar quando me apetece adiante e que determina que depois ande aqui uma pessoa em estado miserável suspirando pelos dias em que o tecto já foi branco como era assim a modos que quando ele reluzia há umas resmas de cigarros atrás.

Até porque ninguém tem nada com isso de saber o que é que acho ou deixo de achar disto ou daquilo e muito menos de um dia que só serve para lembrar que um dia fomos felizes e tudo e vá não só por causa das caiações.

Mas lá que fazem muita falta fazem pronto.

Eu diria que ninguém deve ler isto sem consulta prévia ao oftalmologista mas cada um cada qual e é maior e vacinado não sei o que têm as vacinas a ver com isto nunca soube e também agora já não importa grandemente sendo que a verdade é que eu não estou nem aí para me ralar que nos dias que correm ralações pois que nem morta e muito menos num dia santo como o de hoje que se preza.

E está claramente dito pelo que me fico por cá que até me dá jeito uma vez que na rua não tenho o calorífero mentira termo-ventilador é que é sejamos rigorosos.

Bom dia disso e tal divirtam-se então amem bué e assim.

E agora vou atrás dele que temos umas coisitas a ajustar sim? ó Valentim anda cá se faz favor.


Ana Vassalo
14-02-2013 – 17:21

VALENTINE'S DAY, DIA DOS NAMORADOS E ASSIM...




LOL..... Impagável!


Um 'cadinho disléxico, eu diria, mas sem alarmes.




 
 
 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"Cantigas de Amigo" ... ... ...





 
























[a uma ... amiga... que me "adoptou", e durante 4 anos me chamou mãe...] 

 
 
 

 
Que sei eu, de palavras a cantar?...

 
 
Vamos andando por cá
Na rasura de alegrias
De sentidos obscuros
A gravar o nosso rumo
Rascunhadas de altruísmo
Por sobre um joelho anão


Na Terra que hoje caminho
E a que chamam tantos nomes
Todos eles Desalinhados,
Qualquer que seja o traçado
Que esboça a conveniência
No final é a utopia
Claramente descontada
Que acaba sempre no chão
De quem não conhece a arte
E o rascunho não consente


Não exerço, nos alpendres
Do sentimento mais nobre,
Tiradas de outros, estrategas,
A calcular mais distância
No que nasceu sendo perto
Sei de amar como se sente
O amigo, amado, o Ser presente
Da entrega na verdade
Do tudo o que sou agora


Acolho o olhar que sorri
E acredito em olhos bons


Falo da estreia em surpresa
Dos abismos e regressos
De abraçar tudo o que chega
Com ouvidos de ser paz
Que são sempre e sem aviso
Aqueles que me acontecem...


Sou a mais curta viagem
Entre o Outro e a Concordância,
Quando o terreno é sem pedras
E a razão não mostra a dúvida
Que o coração não quer ter
Arrisco-me pelas calçadas
De uma terra em crescimento
Acidentada
Como quem subtrai à vida
Os atritos da matéria


E caio em estrondo fatal
Previamente anunciado
Dos tropeços que ignorei
Porque me falavam de águas,
Luz de Tales de Mileto,
Eternas, de quintessência...


Que morreram.
E já agora, bem feita!
Todas elas apagadas
Em estúpida eternidade.


Não recordo, não aceito
Não lhes conheço amanhãs!
Não me agridam com poemas
Saídos de outros lugares
A mascarar de paixão
A vida que só escurecem
Nem me peçam coerências
Militantes, condicentes
Rasgos heróicos de mártir
Que não tenho não comprei
Não pedi e nada sei


Olho por fora de mim
Reconheço a segurança
De todos os campos magnéticos
E forças de repulsão
Que instalei à minha porta
E sim,
Hoje reforço o perímetro
Dos lugares patrulhados
Que me defendem de mim!


Suei, na fila dos literatos
De culturas reforçadas
A gerir hipocrisias...
Queria.
Aprender uma vida
Que não morresse cansada
Por ignorância de normas
Em terras de ser metade


Nessa algébrica vitória
Das operações que não sei
- Divisões incalculáveis
Entre o ser que não parece
E o parecer que nos vence
- Sou a estudante de zeros
Suspensa pela coisa “certa”


Sempre acordei essa ideia
De ser mais feliz por dentro...
Como se o mundo incorpóreo
Compensasse em happy endings!!!
Da mentira arranco o filme
Mas torno-me a fugitiva
Culpada subversiva
Que é ser refém da verdade


Na lírica aventura
De ser a metade alinhada
Não venceu o que devia!
E o que não soube aprender
Faz de mim a aberração
Militante do sentido
Que amar é estender a mão...


Está bem.


Por terras sonhadas de amigo
Sobram as minhas pegadas...


E sou eu, duas metades de agora
Desalinho dentro e fora,
Neste olhar ao desabrigo
Que se fartou da lição!
Que de amar como se sente
O amigo, o amado, o Ser presente
É rota que, enfim, esqueci
E os mapas todos rasguei!...


Que o nada multiplicado
Ainda que p’lo infinito
Resulta sempre no nada
Que são os tempos que habito.



Ana Vassalo

Imagem: “Walking away”, photo by “Iam Blackfox” (deviantart)

PULO DO LOBO










 Pulo do Lobo, foto de António Seleiro

 
 
[Incursão pelo baú: escrito em '97.]



Separações...



 
PULO DO LOBO
 

neste apagar de verão
que se despede de lumes
digo um adeus às palavras
que ousavam vestir de cor
essa estrada que gravámos
p’lo céu de fogo em poente

e já agora de poemas...

que corri ali ao lado
‘inda há pouco aqui lugar
num pulo de lobo rio
que sabemos corre certo
mas se inverte na visão
e estavam lá os recados
e as giestas e a pena
e mais um grito afogado
da vida que se habitua

mas antes era eu
presa ao caminho
surpresa de tais encontros
como escrita que é de ver
e se aprende doutra luz
no traço de começar

que se faz presente agora
neste dia sem resposta

trouxe comigo guardado
e lacrado a rubro selo
um raiar branco de agosto
casa de almas que foi nossa
dezoito translacções de vida
solidão feita de dois
a correr tempo para o céu
sem pressa de lá chegar

sentava-me ali em flor
sob o teu braço de sombra
como abrigo de raiz

e tudo o que é visto se palpa
tacto de funcho e aguarela
que grita por renascer...
cheiro de plátano velho
ancião da madrugada
em casa de vento alado

de lobos nem a memória
lenda outra que inventei
e já se perde do seu tempo

sei que à volta dos montados
os silêncios reunidos
se abraçavam em saudade

agora eu
acima do raso olhar
que se rasga de fronteiras

canto baixinho sem horas
o ombro que empurra os céus
e te traz caminho de ave
de mansinho
breve e fresco
como a verdade

no acordar das amoras
que brincam dentro de mim

… como a verdade, sim,
que ainda não te encontrou


adeus.

 
 
Ana Vassalo
16-03-1997 – 23:51

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Silêncios






Acolho-me feliz no Silêncio de libertação.
Mas renego e lamento os silêncios de omissão.
 
Há poemas que, não escritos,
serão até sempre  injustiça.
Palavras não ditas,
para sempre voz de adeus.
 
Crescer é separar silêncios:
os de chegada, ao encontro da morte;
os de partida, que hão-de lavrar caminho.
 
Porque "partir é nascer" no Mundo.
Mas "caminhar é viver" a força,
rompendo pelo silêncio
da morte que se domina
a cada palavra de Amor.
 
 
Ana Vassalo
09-Fev-2012



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"POETAS ANDALUCES" - AGUAVIVA



Um vinil que guardo com amor: "Cada vez más cerca", 1970.
"AGUAVIVA", mesmo, da mais agrestemente viva e pura das fontes. "Poetas Andaluces" é aquele tema grandioso, que caminha comigo, eternamente cá e lá, na memória, no coração, na garganta. E tal como o Fado Português, de Régio com Amália, ainda espero o dia em que o ouvirei de olhos enxutos. Ou não - talvez fosse um mau prenúncio de mim...


 
(a capa original)
 
 


"POETAS ANDALUCES


¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿qué sienten los poetas andaluces de ahora?


Cantan con voz de hombre
pero, ¿dónde los hombres?
Con ojos de hombre miran
pero, ¿dónde los hombres?
Con pecho de hombre sienten
pero, ¿dónde los hombres?


Cantan, y cuando cantan parece que están solos
Miran, y cuando miran parece que están solos
Sienten, y cuando sienten parece que están solos


¿Qué cantan los poetas, poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas, poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas, poetas andaluces de ahora?


Y cuando cantan, parece que están solos
Y cuando miran, parece que están solos
Y cuando sienten, parece que están solos


Y cuando cantan, parece que están solos
Y cuando miran, parece que están solos
Y cuando sienten, parece que están solos


Pero, ¿dónde los hombres?


¿Es que ya Andalucía se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿que en los campos y mares andaluces no hay nadie?


¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta,
quien mire al corazón sin muro del poeta?
Tantas cosas han muerto, que no hay más que el poeta


Cantad alto, oireis que oyen otros oidos
Mirad alto, vereis que miran otros ojos
Latid alto, sabreis que palpita otra sangre


No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo encerrado
Su canto asciende a más profundo, cuando abierto en el aire
ya es de todos los hombres


Y ya tu canto es de todos los hombres
Y ya tu canto es de todos los hombres


Y ya tu canto es de todos los hombres
Y ya tu canto es de todos los hombres "


RAFAEL ALBERTI, 1950

 

YouTube, in "Zafara Zafara"