Pulo do Lobo, foto de António Seleiro
[Incursão pelo baú: escrito em
'97.]
Separações...
PULO DO LOBO
neste apagar de verão
que se despede de lumes
digo um adeus às palavras
que ousavam vestir de cor
essa estrada que gravámos
p’lo céu de fogo em poente
e já agora de poemas...
que corri ali ao lado
‘inda há pouco aqui lugarnum pulo de lobo rio
que sabemos corre certo
mas se inverte na visão
e estavam lá os recados
e as giestas e a pena
e mais um grito afogado
da vida que se habitua
mas antes era eu
presa ao caminho
surpresa de tais encontros
como escrita que é de ver
e se aprende doutra luz
no traço de começar
que se faz presente agora
neste dia sem respostatrouxe comigo guardado
e lacrado a rubro selo
um raiar branco de agosto
casa de almas que foi nossa
dezoito translacções de vida
solidão feita de dois
a correr tempo para o céu
sem pressa de lá chegar
sentava-me ali em flor
sob o teu braço de sombra
como abrigo de raiz
e tudo o que é visto se palpa
tacto de funcho e aguarelaque grita por renascer...
cheiro de plátano velho
ancião da madrugada
em casa de vento alado
de lobos nem a memória
lenda outra que inventei
e já se perde do seu tempo
sei que à volta dos montados
os silêncios reunidosse abraçavam em saudade
agora eu
acima do raso olhar
que se rasga de fronteiras
canto baixinho sem horas
o ombro que empurra os céus
e te traz caminho de ave
de mansinho
breve e fresco
como a verdade
no acordar das amoras
que brincam dentro de mim
… como a verdade, sim,
que ainda não te encontrou
adeus.
Ana Vassalo
16-03-1997 – 23:51
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