quem sabe,
as farpas encostam num lugar de paz
e a doce ternura em retiro
arrisca um passo de luz...
e eu
travestida de risos dança manhã
ouso a paisagem sem queda
esse toque de uma vida
enfim liberta de infernos...
sabes,
há uma saudade de ti
escondida nos poros
guardada em raiz
de mim
de ti quando eras de mim
uma saudade do que floresço
quando me abrigo da nua claridade
e arrasto da memória
todo o amor
que deixei ficar em ti.
o espaço fechado entre nós
dos olhos que se respiram mutuamente
guarda a imagem saudade
de eternidades que se tocam.
a dança das mãos
regaço de cúmplices
tomando a madrugada
que chove do frio a cor
e um frenesim de lua cheia
no céu melhorado da “noite americana”...
a estação deserta num silêncio de geadas
e o comboio que nos dorme os abraços
até à morada final da culpa...
a noite profunda do sono que se despede
e inventa o regresso que se esquecera
num lugar do tempo fechado
quem sabe,
a farpa que me tornastese cobre em raiz de seda
por um breve instante de luz...
e agarra a escarpa desse tempo
num quieto toque de fé
por um salto
que se rasga em vento na pele
como sopro de um céu sem rede...
Ana Vassalo
01-Dez-2012 – 21:00Imagem: Foto "Há palavras que nos beijam", António Simão Meira.
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