* Paulo de Carvalho - "E depois do Adeus", poema de José Niza - The 1st password-song to the revolution.
Este 'post' é reproduzido a partir do mural no facebook do Capitão de Abril JOÃO ANDRADE DA SILVA, que largos tempos antes me havia honrado com um convite de Amizade, e contém o meu comentário de 15 de Setembro de 2011 a uma sua publicação em que se debatia, exactamente, o tema da revolução de Abril, especialmente o seu significado - para os intervenientes na tertúlia:
- Ana Vassalo - 15-09-2011 – 12:38, no mural de João Andrade da Silva:
Bom dia, meu amigo João Andrade da Silva. A este seu post eu não resisto, espero que me perdoe porque me vou alongar :)
O 25 de Abril de ‘74 teve e tem para mim um significado impossível de descrever em meia dúzia de palavras. Realmente, o próprio dia do golpe é para mim quase em branco. Simplesmente, não acreditei. Os acontecimentos que tinha vivido pouco antes, através das lutas estudantis a que me associei tantas vezes como independente, tinham-me, infelizmente, ensinado a descrença: os colegas de Liceu que desapareciam de repente e depois se sabia que estavam presos; a polícia de choque cobrindo a Estrada das Laranjeiras de cima abaixo com as suas carrinhas a que chamávamos “niveas” durante os dias de exames de 1973 no Liceu D. Pedro V, onde se concentravam muitas das acções contra-corrente emanadas do Instituto Superior Técnico; o dia em que havíamos sido trancados na Sala de Convívio do Liceu, absolutamente proibidos de mexer ou abrir a boca, mas a que resistimos cantando, (+) como já contei por aí; o mesmo dia em que fecharam os portões do Liceu com a ameaça, mais uma vez, das carrinhas “nivea” alinhadas lá fora, com as forças de “choque” fora dos carros e de armas bem à mostra, mas que combatemos do lado de dentro à pedrada, sim senhor; um outro dia de lágrima no olho, à porta de minha casa, com o meu então colega e amigo Tó Lamego contando-me que o irmão, (++) ferido no Técnico e preso, tinha a perna em riscos de gangrenar porque a polícia política lhe impedia qualquer prestação de assistência médica; os duches dos carros da agulheta, que nos encharcavam para nos marcar; tantos, tantos atentados a qualquer indício de opinião própria, de legítima reflexão, ao pensamento; e por fim, os rumores de que a “abertura” de Marcelo Caetano estaria a incomodar demasiado a polícia política e já lhe teria valido pelo menos um atentado... Tudo isto, junto e processado, levou a que no dia 25 de manhã, ao chegar à estação de Sta Cruz para apanhar o comboio, e encontrando-me com um “velho” colega de subversões que me informa de “um golpe de estado”, a minha reacção imediata tenha sido – recordo-o como se fosse agora - “O quê, mais? Ainda não chega???”. Tinha 17 anos, na altura... O que tinha visto até aí, levava-me a adiar a fé. Ver para crer, tão somente. Depois, um ou dois dias depois, não recordo exactamente o dia, em plena Baixa e de regresso a casa, ao entrar na praça D. Pedro IV, dou com aquele quadro inesquecível: povo na rua, carros de combate contornando o Rossio, Cravos Vermelhos mudando de mãos, pessoas rindo, chorando e abraçando-se, militares debruçados dos carros estendendo as mãos a toda a gente! E eu... ali... paralisada, em estado de choque, frente ao café Nicola porque ia atravessar mas congelei. E de repente, sem aviso, a chorar desbragada, convulsivamente, sem apelo. Foi ali que acreditei. Ainda hoje acredito. E choro ainda, desbragadamente, a cada 25 de Abril, perante as imagens, que revejo sempre. Salgueiro Maia é a minha inspiração maior, quando os dias que passam hoje me dizem que o sonho acabou. Porque ele acreditou no impossível. Ele e todos os outros com ele, os que o tornaram possível, a esse dia Maior. Obrigada ♥
(+) - cantando "LIVRE", de Manuel Freire.
(++) - o irmão, JOSÉ LAMEGO, nomeado Secretário de Estado, no pós-25 de Abril, designamente do governo de António Guterres, num dia em que chorei esta vida e todas as possíveis seguintes, de indescritíveis alegria, surpresa e emoção, debruçada, em riso e lágrimas pontuados por incongruentes murmúrios, sobre o mensageiro, um Diário Económico de boa memória :)
- João Andrade da Silva – 15-09-2011 – 14:14
"Ana muito, muito, muito obrigado o seu depoimento comove-me e os olhos dão sinal. Temos de lutar por abril, julgo que o seu depoimento deve ser partilhado na página de solidariedade do caso do julgamento da peça a filha rebelde, a partilha é um acto muito nobre de generosidade. gosto imenso que seja minha amiga virtual, mas tanto melhor será se um dia for real . se não estiver naquela página posso adicioná-la ou lá colocar o seu comentário .bjnho"
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Ana Vassalo
in facebook 15-Set-2011
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