DECLARAÇÃO
Defendes-te, no outro lado da mesa,
mesmo em frente dos meus olhos de sair.
A garrafa de vodka meio afogada
de tanta inconfidência mal bebida
estrondeia displicente o mármore aflito
da nossa declinante parceria.
Buscas na memória batalhas de outras praças
cumpridas até ao fim, sem o cansaço da perda.
E tocas-me na mão, como quem fica
- o regresso apenas mito que se arrasta
- e dos silêncios enrolados na garganta
adivinhamos o fim, perfilado nas saídas.
Temos, por nós, um tanto de partilha,
efêmeros pedaços de além-mar
repetidos na saudade de um abraço
que a renúncia digerida aniquilou.
Não seremos circunstância do futuro.
Entreguei hoje, bem cedo na coragem,
desalinhada de coerentes argumentos,
a minha breve declaração de imprincípios.
E enquanto os editais da razão entronizada
se afixam no teu olhar de recusa,
os restos mortais de uma vodka empenhada
gravam, no foco resistente da ternura,
o curso do meu olhar pelo mapa desejado
do teu rosto. Num instante interrompido.
Ana Vassalo
09-08-2010 - 01:45
Origem das Imagens: site "Layout Sparks.com".
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