NO WALLS!, Ana Vassalo - digital drawing experiences :)
notícias do futuro
hoje não há acidentes
- li eu, no jornal sem letras…
apenas as velharias
de repetição já segura:
nada de terra, ou de cosmos,
nem rasgos de firmamento…
o irremediável vazio
habita no imprevisto
tudo antigo e bolorento
na vida posta em clausura,
os homens cumprem-se iguais
em rasura e indiferença,
levando o brio da nascente
às águas do esquecimento…
alinhados na parada
das apostas calculadas,
certos se acham na pista
das corridas que outros vencem
sem pontos de referência
na cega estrada do tempo…
sentimentos arquivados
na fila dos melhores dias
transbordam de pragmatismo…
vence a razão, de cadeira,
e o amor? não é oportuno!
sei que estou eterizada,
bêbeda de tantos anos,
vã de toda a surpresa,
morta, na semelhança…
sei que ao raiar da manhã
outra de mim, paciente,
repetida e linear
no caminho reinará,
sábia de muitos hábitos,
diligente na missão
de imitar integrações!
serei um ser engrenado,
elo perfeito em cadeia,
retrato na galeria
dos lugares preservados
ao sol da alienação…
serei gente que progride
no tempo de resignar
os sonhos que um dia ousaram!
mas hoje e agora, aqui estou
de olhar preso ao nevoeiro,
rompendo por um sentido
que valha o trabalho de ver
- amanhecendo vontades
no entardecer de um grito!
sou a essência evaporada
que um dia já teve griffe…
estou ancorada num instante
tão breve quanto a garrafa
que encerra os néctares de tudo
e bebo em menos de nada!
fui antes esboço de gente,
mulher da vida de alguém
- que de um sopro me matou!…
tive os homens que desbravei
e em mim morreram de véspera…
fui grito, sim, declarado
de um amor eterno… agora!
e eis que agora é andado
e o dia me bate à porta
neste peito que não sente
nunca mais o que é verdade…
estou de mansinho expectante,
aquietada em tantas breves
certezas do que já fui
e insisto em resgatar!
qual quê!…
sei que não há invenção…
o jornal não saiu hoje
por falta de letra impressa
nos tipos da novidade:
terra e cosmos estão inertes
nos seus movimentos perpétuos
de gerar uma equação…
só eu, disfarçada de sonhos
ainda creio a mudança
num amanhã de conquista
nas luas da maré viva!
pobre de mim… viajante
de insólitas fragas de abismo
suspensas sobre o futuro…
a vida nunca saltou
e o tempo não sabe a nada!
- mas o jornal diz que sim,
que há sabores na rotina…
aqui, de onde me escondo,
só há saídas da bruma
pela escada da mentira…
e o futuro? ri de nós?...
Ana Vassalo
24-08-2009 – 22:57H
Origem das Imagens: Ana Vassalo.
Aninhas, minha querida.Faltam-me as palavras para descrever a emoção que este teu poema me causou,eu já devia estar abitoado e não ficar surpreêndido,pois cada vez que leio algo teu fico deslumbrado pela maneira como escreves,resumindo embora o futuro possa ser uma incógnita,o teu poema não o é,está lindissimo...Fernando.
ResponderEliminarOlá Ana:
ResponderEliminarTenho andado a passear pelo teu blog e, neste dia de inverno, senti uma imensa tranquilidade primaveril. Está muito bonito, com imagens adequadas e poemas lindos.
Beijinhos
Francis