CASINO
o que é vasto?
o que é raro?
mundo em revista por dentro,
um cigarro e um gin,
casino na contramão.
multidão ao largo,
eu aqui, no além dos retiros
que viajam parados,
depois caminho de rasgo
que sitia o peito
e desfere a largada.
piano, sax e guitarra,
em solitude que afaga
a voz que alerta a deriva.
não sei das gentes que amainam
ao estrondo vibrado em palavra,
desconheço a concordância
edital dos fins de dia,
do que faz bem nos apegos
de tanta tarde afixada.
sabe bem
não te ter aqui.
criar-te é tão mais além
desse país de conforto...
roteiro planetário,
no vago do percurso
que não se mostra,
como aberta de impulso
no longo tempo regular.
respiro mais fundo,
tão longe das ausências
que se explicam.
fico assim, sediada
no findar de cada verso,
como abraço
que te encontra a começar.
sou isto,
contratempo do lugar esperado,
curso retomado
das praias em poente.
sei-te música do pulsar infindo
que silencia a noite eterna
em que me dispo de mim,
sequência de interlúdio
emboscada nas manhãs.
há campos ilesos em ti,
no sonho que alarga as avenidas
em searas de ouro e memória.
e então sei
que sou muito mais
que este fundo oceano em mim
e prolongo o raro chão que me sustenta
até ao centro de uma terra colhida em nós.
sei que não digo.
mas sentir é palavra quieta
em parto incerto,
que não sabe onde nascer.
o cigarro morre de espera
e a canção
que vence o frio atirada contra a morte
passa,
a cada lugar que se conhece amor.
volto a casa carregada de céu.
estrela da noite em cruzada,
asfalto de luz em sabor.
Ana Vassalo
Dec 22, 2014
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