Photo by Pratosh Dwivedi
Sou do mar...
Do mar…
Eu nunca saí do mar…
Em tempos, nasci por lá,
Onde a certeza não há,
Nuns dias de musa e naus,
Em que fui também sereia,
Risco do mar, andarilho
Que assim estende a sua teia.
E na tormenta fui caos
E de estrelas doei brilho
E às vezes me achei gaivota
Cruzando nos céus temores,
Neles desenhando portas
Que se abrissem de outras flores,
Mas…
Eu nunca larguei o mar…
Parti.
De quando em sol, fui verdade
Que nas águas cedo flui.
Por terras de então corri
De algumas sei do que vi
Mas cedo me fiz saudade
Do voltar que sempre fui.
E no virar das marés,
Fui na vaga de inquirir
A desenrolar porquês
Tão longe quanto o devir…
Eis que me achei de segredos
Olhei do mundo os degredos
E não gostei do que vi...
Dei por mim já romaria
E a dez mil ondas me uni,
adentro o mar, que sorria…
E pousei…
Por tantas luas, me achei
Do rochedo a eternidade,
Penteava os meus cabelos
Tão longos, do navegar,
Enleados em novelos
De tanto mar abraçar!...
E o meu sorriso inteiro
Em oração se rasgava,
Os deuses, espreitando o cais
De mão firme, a teia erguida
Amparando vôos mais…
De minhas praias fugida,
Fui, sim, gaivota em perguntas
De viagens tão rotundas
Que ao meu mar sempre ancorei
A asa em que me tornei.
Se desse mar me aturdi,
Nele, sempre me acolhi…
Em ventanias de gelos
E trovoadas de medos,
Ou arco-íris de fogo!
E espuma, somente a espuma
De algas tantas, sendo uma,
Brotando certa, tão logo
A vaga que em mim morresse
Do meu mar a vida erguesse…
Quedo-me nele, re-nascendo,
Remotos os tempos, depois
Sou velha de tanto mar
E a cada dia, luar
Das noites longas que ateio
Pra guiarem os meus braços
Cumprindo o céu, horizontes
De voltarmos sempre dois,
Mar e eu, jorrando as fontes,
Já só um… enternecendo
De gargalhada em passeio,
No mergulho dos abraços.
Do mar…
Eu nunca saí do mar…
Ana Vassalo
Abr-2009
Posted 09-04-2009
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