Train Station, by unknown
Cartas de Fuga e
Solidão
[ La solitude, ça n’existe pas... ]
We
can never go home
We
no longer have one...
Num extenso
mundo de papel branco pela frente, a que a palavra se furta em
abandonos cíclicos, podia caber o tamanho da noite para os que lhe traçam no
percurso manhãs abertas de universos por experimentar. É terna, eterna
e global a noite de quem não acha um fim maior para o sono e lhe
guarda o mistério de cada ponto de luz. Que há-de ser caminho de
dois, floresta ou savana que hão-de vencer.
Rouba-se um
mundo que vibra, expectante de impaciência num quarto virado a sol,
exultando já pela hora tardia que não se rende ao horizonte. A
noite é um lugar de sombras bonitas carregando luzes por descobrir,
que tecem histórias de vida a começar, onde todos os passados do
futuro convergem no coração.
E na velha
estação desactivada, obra de artes anciãs em amor e talentos
escravizados, está ele, que espera por ela junto à coluna dos
tempos, olhos brandos e mão estendida com luares de caminhar.
Depois, fogem pelos carris ao encontro de um outro princípio
a nascer, que se vence num laço, o beijo primordial dos lábios em
gestação tacteando um amor com gosto de zimbro e amanhecer.
Era assim,
chegavam sempre sem nunca ter partido. Mapa nos olhos, o foco extenso
de terras de longe onde os sonhos habitam casas de montanha, abrigos
de chão amigo e janelas a poente, café quente e pão fresco, como
regaço da saudade de um abraço milenar em fusão nos dias a chegar,
e um fantasma de estimação, marcando o lugar cativo num calor antigo
de mãos errantes. Aconchegados de sombras no escuro que sabe o
pulsar certo do encontro, lá seguiam por uma rua de amor que
conheciam desde o princípio dos tempos.
Ancorados em
regresso, por fim, sobem à vida num mundo feito de dois e mar-chão.
Deitados na noite do cansado banco da estação, ele ajeita-lhe o
casaco contra o frio, num toque macio que em ternura se desvenda,
enquanto ela, clandestina por talento e condição, lhe rouba da boca o último
cigarro sobrevivente. E escoltados pelo céu negro de um novo
acordar, soltam pela madrugada os ecos de um riso quente, agora, que
dissertam pelo latim complexos sistemas galácticos por nomear.
Pode-se
ouvi-lo depois, num íntimo silêncio de ventos, cantar-lhe baixinho
uma história de amantes felizes que se perderam de estrelas.
Ana Vassalo
Fev-2013
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NINA SIMONE – STARS
A story of
disbelief. Sad, beautiful Nina, so powerfully truthful.
YouTube: “Bernardo Santos Carmo”
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