
"Cornfield Sunset", unknown author.
Dorme Seara, Dorme...
Talvez eu seja apenas o pão, sem o mel das manhãs
ganhas. O restolho na deriva de um estio por
acabar.
Talvez eu durma de véspera os sonhos que me
esqueci de apontar, ou seja a fuga planeada de cada
momento sem sal.
Ou talvez um dia, os barcos no fim do mar se reunam
pela paz e assinem mais horizonte.
Sei donde venho.
Sou daqui, deste lado do amanhã que tem pressa de
ser ontem.
Saio ao render das horas, quando o sol agita os
dias na linha da alvorada.
Volto depois, sento-me aqui, no entardecer dos
sinos, em busca de mais planície. O olhar estende-se
largo, o mundo ganha contorno - o mais das vezes
sem foco.
Atrás de mim, a velha e suave igreja persiste em
clausura, portas do fim mesmo ao lado.
Não há preces. Somente o silvo brando dos segredos.
E o silêncio sopra um conto milenar, guardado na
caixa das horas, rasgado ao bater das cinco.
Viajo o céu, aguarela em marcha num traço de chuva
em branco, que há-de ser água de encontros. E eu
vou com o despontar das noites.
Sou eu a noite. E trago velas, meia-luz da descoberta
no prazer de andar mais Vida. Talvez chegue, ou
talvez desça na paragem dos encantos.
Talvez eu seja paisagem, cansada de morrer
fotografia. Ou talvez não, e cresça eu regaço dos
montes, exaustos de escalar céu ou despenhar
erosões.
Guardo o olhar, alagado de fantasia. Com um desvelo
de pássaro, arrumo a cidade inteira num bolso cosido
ao peito, onde voar é saudade do que ainda não
chegou. Há futuros, no meu bolso.
Por ora, sou o andar de prospecção, arqueóloga dos
dias.
E talvez, apenas talvez, na persistência das ladeiras,
no banho frio da nascente que é solidão das geadas,
no atrito da gravilha que rouba caminho andado, a
noite se aprenda dia num poema escrito a sol.
E então serei o trigo. E então chegarei hoje.
...
E só depois, existe um princípio nas searas. E os sonhos
cumprem estação. Os barcos sabem o cais. E o dia já se
adormece, no intervalo das gaivotas.
Ana Vassalo
06-05-2011 - 00:15
Origem das imagens: "Cornfield Sunset", "thedailygreen.com".
"Ou talvez um dia, os barcos no fim do mar se reunam
ResponderEliminarpela paz e assinem mais horizonte.
Sei donde venho."
"Sou daqui, deste lado do amanhã que tem pressa de
ser ontem.
Saio ao render das horas, quando o sol agita os
dias na linha da alvorada.
Volto depois, sento-me aqui, no entardecer dos
sinos, em busca de mais planície. O olhar estende-se
largo, o mundo ganha contorno - o mais das vezes
sem foco."
"Guardo o olhar, alagado de fantasia. Com um desvelo
de pássaro, arrumo a cidade inteira num bolso cosido
ao peito, onde voar é saudade do que ainda não
chegou. Há futuros, no meu bolso.
Por ora, sou o andar de prospecção, arqueóloga dos
dias.
E talvez, apenas talvez, na persistência das ladeiras,
no banho frio da nascente que é solidão das geadas,
no atrito da gravilha que rouba caminho andado, a
noite se aprenda dia num poema escrito a sol.
E então serei o trigo. E então chegarei hoje."
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_QUE DIZER??
_DIGO QUE ME QUEDO AQUI EM EXTASE, leitura apos leitura, e PENSANDO DO CORACAO PARA A MENTE "PURO FILHO DAS MUSAS!_INSPIRADO E INSPIRADOR_POEMA QUE E' *POESIA*****!!!!!!
QUE DIZER MAIS???_NAO SEI! _PRECISO ERA QUE ME SENTASSE NA RELVA DOS JARDINS DAS MUSAS!!!!!....
_TE AMO, ADMIRO E RESPEITO, MINHA PRINCESA!
Heloisa.
Beijo grande, maninha, muito obrigada! Love u 2. <3
ResponderEliminarps: desculpa, nunca dou pelos comentários. Mais vale tarde que nunca, minha querida, digo eu em formato de desculpas.