[Porque este é o meu poema de sempre, aquele por que tenho mais carinho, e
anda tão arredado do tempo, lá para os confins do 'blog', recupero-o para aqui,
para este hoje mais feliz que aprendeu o passo calmo e o sorriso, ainda que a
estrada seja mais solitária agora. É "frondosa", não muito larga, de curvas
sinuosas, mas caminha sem complexos, sempre adiante, conhecendo algumas
certezas do ponto de chegada, que é tanto mais belo e acolhedor quanto
melhor nele me souber cumprir. E cada árvore, altiva, íntima do céu que
consegue tocar, projecta sombras na noite, que intimidam e desafiam a um
tempo, mas que jamais deixarei de trilhar. Como aquela, estrada de boa
memória, que num tempo diferente e único da vida, venci todos os dias,
entre Portalegre e Crato. Quem a conhece, sabe que a "noite" sem mistério
não se cumpre inteiramente.]
Quatro Silêncios de Mim
Por quatro estradas eu fui
procurando o conhecer
e quatro janelas se abriram
a fingir o renascer.
Por quatro mares vaguei
sem ter onde aportar,
foram quatro, tantas portas
que no silêncio fechei.
Quatro miragens eu tive
julgando que revivia,
quatro, também, os cansaços
na vida que perseguia
e a seguir quatro sorrisos
p’ra com ela me encantar
de quatro maneiras diferentes,
ainda por inventar.
Foram quatro, quatro quedas
de um andaime por cumprir,
quatro vertigens no vácuo
por não ter onde cair;
desistência acelerada
por quatro rodas fatais,
num querer voltar sem ter asas,
em quatro vôos finais.
E quatro foram as lágrimas,
milhões de quatro, a sorrir,
bocas cansadas de água
de em quatro fontes beber
e, a temperar tanta mágoa,
quatro sais de resistir.
Foram quatro mil eventos
todos gastos, nos intentos…
Quatro estacas, quatro espinhos,
todos ferem, muitas matam
e das dores que resgatam
fica o detalhe mesquinho
em quatro memórias feridas,
à força de repetidas,
na celebrada insistência
de quatro escolhas perdidas!
Quatro por nada, uma vida,
que a viver não se contenta…
Ana Vassalo
1999
Posted 13-03-2009
Origem das Imagens: Glimboo.com