René Magritte,
Portrait d'Edward James
No Lado Certo do Espelho…
Sorrias um olhar manso, em trechos breves de ternura
P’la brisa morna em brancas tardes de ausência,
Onde eu retratava acertos de paz
Numa quietude de risos desprendidos
Que soltavas em demanda por mundos calados…
E eu, prisioneira de ti, assim,
Eu viajava planetas, na palavra sugerida nos teus lábios…
Eras… eras paisagem e desassossego…
Um toque de distraído requinte
No andar despojado de quem peleja universos
Sem nunca despir o casaco.
Eu… Eu partia, aqui e ali, pelo roteiro vago
Dessa cidade escondida,
Ás vezes, tantas vezes, minha aliada…
Desbravei terras perdidas no mapa
Por caminhos de terra solta e respeitáveis fragas
Que tu me apontavas em dias de descoberta,
Progredindo no mato
A cortes de catana e rastejar de grutas
Onde antigos medos, de uma escuridão de muros
Que a minha mão tremia, logo se apaziguavam
No ombro que me estendias.
Eram uns dias de amores, abraçados e doídos,
Perdidos pela literal floresta que os dias verdejava,
Conquistando respostas nas perguntas do tempo…
Historiando arqueologias, no cansaço doce
Das tardes alentejanas…
Fomos rocha, um do outro, mensageiros de uma entrega
Desmedida nas causas, no sonho, em amor…
Fomos passado em revista na construção do futuro,
Equipa e semente nos terrenos da partilha
E ancorámos em versos no porto da nossa diferença.
Palmilhámos muito rumo
Onde o olhar se esquecia das horas que o tempo tem
Vadiando pelos cantos
Que o cheiro da terra nova
E a luz presa dos vitrais
Gravavam na tela em branco do nosso espanto em passeio!...
Eram uns dias de apego, vitais de sonhos lunares,
Um silêncio catedral onde as almas reuniam.
E o final de um dia entregue ao respirar de uma vida
Sabia a coisas de mel
Nos sonhos que adormeciam…
…
Calou-se o teu piano para mim.
Chopin e Elis fechados nos teus dedos
Não mais soaram Olimpos e… o que restou
Foi um silêncio de pausas demoradas…
Calou-se o tempo.
Ficou por lá, meu amor, num sorriso que é andado…
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18 anos de caminho e partilha, carregados de sombras. Que apaguei um dia, no momento mais que certo. Finalmente, 12 anos depois, é chegado o momento de acolher a paz: a minha.
Assunto encerrado.
Ana Vassalo
03-10-2009 - 13:10
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