Revelações.
Notícia
de antiguidades, de um género mesmo muito antigo - quanta ironia.
Verdades
de arraso, em tropeço e atropelo do acaso – a tradição ainda é.
Vêm sempre ter comigo, assim, de raspão, e atiram-se-me à cara,
como murro no estômago. Sem um frémito.
Mas
coisas há que não precisamos de saber. Jamais. E que também não queremos saber. A custo nenhum, em
tempo de vida.
Ignorantes até ao fim, podia ser? Nada de tão difícil, porra!
Não.
Minas.
São essas coisas que ficam para aí, soterradas por décadas, até à
destruição final. Em modo de espera e guerrilha, para que as
pisemos em desaviso.
Não
sei de nada, deus, não sei. Que espécie de burla multiplicadora
entornaste, certo dia, na minha vida? Quantos patacos vale uma
promessa de Vida? E a eternidade, compra-se ?
É-me
urgente, sim, que alguma coisa de muito bom aconteça neste abortado
hoje. Uma visita de algo aparentado com o BEM. Preciso
desesperadamente de um pouco de luz, tem de acontecer.
Não
posso, não quero deixar passar este dia com apenas isto a envenenar-me o resto
da existência. Faz-me falta respirar um vestígio de inocência. Preciso
de acreditar que acreditar não é, definitivamente, uma
impossibilidade.
Ou é.
Nunca
hei-de perceber esta óbvia necessidade que a vida tem de se tornar
em tão reles anedota, uma vez demais.
Dia
final, asco, o absoluto miserável.
Agora
já sei do peso real que tem o céu. Mata, se o salto de desvio não
for rigoroso.
O
dia em que, por fim, entendi Bukowski, ao bater da perfeição: será
possível gostar de pessoas?... Pior, medito: será humano gostar de
pessoas?
Certo
é dar de costas a virtualidades de vida, qualquer que seja o dress
code eleito. A verdade que sai nua é mais do que suficiente.
E
há o riso. Mas há também a demissão. Gritar, soar por aí a
loucura de ousar estar vivo, até que me torne em descanso ou afonia.
Ecoar um berro de desvio, o esquecimento que me traga, enfim, a
implosão.
No
apagão da verdade, janelas são acessório.
E
o tempo é de raiz anacrónica. Não se toca. Age.
Só
ele conhece o segredo mais escuso. E decide o mais certo instante
para entregá-lo.
…
E
no entanto, um inacreditável átomo de resistência paira ainda
por aqui.
E lembro o dia, aquele em que alguém muito jovem me disse: - a Ana é um bocado do mundo. - E isso é bom ou mau? - céptica, para variar... - O melhor possível, acredite.
Fim
de reflexões.
É
de um bocado de mundo que eu preciso agora. Um bocado fora de mim.
Preciso do Esquecimento que só as boas almas podem emprestar. Da
palavra certa do seu tempo.
Do
BEM que resiste. E sobrevive.
Amanhã
tem de ser verdade possível.
Era
uma vez...
Ana
Vassalo
Mai
31, 2015