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Do Tempo que é Navegante
[Para alguém, com quem nunca me encontrei, mas que há-de cruzar o meu tempo e entendê-lo para mim…]
Se um dia eu fosse um passo certo na jornada, tu serias o caminho na descoberta do meu tempo.
Mas esqueci o trilho, limpei, da memória que sou, essa rota dos enganos. Aqui, neste agora que me acolhe, sou a poeira que resta de um vôo que despenhei, na vertigem de chegar. E nessa pressa de ser, matei os meus dias de vir e estou por aqui, sem morada, ancorada num silêncio demandado, onde me escondo das horas que deixei por navegar.
Tu, és aquele que transporta o vento e a estrela, a vela, que hão-de saber o meu mar…
Ana Vassalo
29-Abril-2010 - 21:16
Origem das Imagens: Wikimedia Commons.
acabaram-se as canções...
vivo na sombra dos dias
naquele buraco mais negro
das existências perdidas
que se arrastam pela vida
a cumprir um velho uso…
sou fogueira de um passado
onde a chuva ganhou espaço
e me afogou na paragem
agora…
sou pausa eterna de mim…
por mais que o sol das manhãs
se aventure pelas janelas
ferem-se os olhos na luz
que jamais deixei entrar
espreito as frestas de mil portas
que entreabri no silêncio
e nesses rastos cansados
que vislumbro pelas nesgas
num raiar desencontrado
respiro um pouco de sol
o tanto que me consinto
para rumar tão mais certa
escondida dentro de mim
à noite, que me entontece
sou a miragem esquecida
força detida no tempo
que se retrata nos becos
onde as horas se aconchegam
pra não terem de passar
e se um dia me acordar
de um certo rasgo de esperança
a tactear-me o encontro
certamente que estes olhos
ancorados na ausência
p’los passos da demissão
se hão-de esquecer do caminho
que sabe a luz nas veredas
não…
não é na sombra dos dias
neste avesso onde me agarro
que hei-de saber de voltar
de tanto me escurecer
sei lá se morri há muito
e me esqueci de notar…
Ana Vassalo
7-Abril-2010 – 13:06H
Origem das imagens: site Webshots