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Storming Heaven – Wordpress
Tinha
uma caixa linda, de prata velha, que o avô de alguém, num dia de há
muitas eras, me fez herdar. Perdeu significado, ela que chegou
carregada de amor. Os tempos desajustados em diferenças
inconciliáveis rasgam e ensinam. Depois, roubaram-ma, como que a
lembrar a reposição devida dos factos. A verdade em mutação. Para
a história, importa apenas que tinha por missão ser guardiã de
cigarros. Nunca partilhados.
E
tu, ofereces-me uma cigarreira? Uma caixinha solidária e amiga que
saiba dividir-se pelas noites? Porque, sabes, haverá sempre um
qualquer resto de tabaco em prevenção, a juntar fragmentos que se
perderam da unidade.
Eu
trago a vodka, faço o café. Tu, chegas com as marés. E um cigarro
para mim. Dançamos?
Comentas,
algures num intervalo de razões, que é o tempo de partir juntos.
As malas ficam para trás. Skating the night sky, dizia eu, há uns
quantos anos de suaves crenças, inventando o instante de encontrar-te.
E
então, disfarçamo-nos de céu? Eu, de cometa, naturalmente - já
tenho a ‘cabeleira’. Tu
escolhes, depois dizes-me. Ainda assim, previno-me e levo no bolso
um disfarce de lua, para o caso de te perderes na escolha. Havemos de
descobri-la, tímida ou fugitiva, noite em jornada. Por nós.
Há
vidas que nasceram paz. Sei que sabes. E um cigarro na madrugada
há-de sempre resolver os mundos.
Depois,
largamos pela cidade que nos pertence, Lisboa como pele, cais de
encontros do futuro com a justiça. Vamos pelas estrelas, que se
perdem nos teus olhos de tormentas quando se acertam pelos meus.
Um dia, tocas para mim?
Espero-te
às tantas, em Santa Luzia. Tu trazes o rio, não se fala mais nisso.
Cartas. Não esqueças, sou
estas cartas.
Fazemos
assim: eu dou-te um cigarro quando a noite te abandonar. E sento-me
contigo até que ela se arrependa.
Não
te quero triste, não quero.A noite escreve-se com o teu nome.
Ana
Vassalo
Ago
19, 2016
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