Foto: in página Aylan Kurdi Caravan no facebook
https://www.facebook.com/AylanKurdiCaravan?fref=ts
Porque há sempre alguém que diz Vida.
(E a Urbanos, como seria de esperar, intervindo activamente. Grande Alfredo!)
«Há 40 toneladas de solidariedade portuguesa para entregar aos refugiados sírios»
in VICE (texto e fotos)
Setembro 17, 2015
Por Sérgio Felizardo
«Enquanto as engomadas e cheirosas altas esferas da União
Europeia continuam a alimentar o espectáculo absurdo da falta de
entendimento sobre como gerir politicamente, ou geopoliticamente, ou
lá o que seja, a enxurrada imparável de gente desesperada em fuga
de um martírio sem fim à vista, em menos de uma semana a chamada
sociedade civil portuguesa - ou seja uma rapaziada amiga com muitos
contactos e iniciativa - mobilizou 150 voluntários em 30 locais do
País e recolheu 40 toneladas de donativos
para...simplesmente...ajudar.
A ideia inicial parecia simples, romântica quanto baste e, acima
de tudo, prática e verdadeiramente útil. Volta-se costas ao ódio,
medo e ignorância que por estes dias contaminam meio mundo em cada
recanto do espaço digital, lança-se uma campanha relâmpago de
recolha de donativos, agarra-se no que se conseguir, mete-se tudo em
carrinhas e arranca-se em caravana para a fronteira servo-húngara
para entregar directamente as coisas a quem delas precisa. Simples,
certo?
Tão simples que, poucos dias depois de criar a página Aylan Kurdi Caravan no Facebook, esta rapaziada teve de montar um Centro de Operações improvisado em Alfragide, coordenar mais de uma centena de pessoas de Norte a Sul que foram criando pontos de recolha nas suas localidades, gerir todo o processo de criação de uma rota que os levasse a bom porto com todo o estabelecimento de contactos institucionais que isso representa, desde as ONG's no terreno, às embaixadas, consulados e o diabo a quatro, dividir, embalar, catalogar e carregar todo o material oferecido. (...)
Pois é, nem a rapaziada esmoreceu, nem a tal Sociedade Civil
claudicou e, tal como tudo no terreno - que a cada dia que passa se
parece mais com um cenário de guerra - está em constante mudança,
também a Caravana foi obrigada a reformular-se. As 15 carrinhas que
estavam prontas para arrancar amanhã, sexta-feira, 18,
transformaram-se em "dois ou três camiões TIR, devido à
dimensão da carga que foi possível juntar e que já não era
possível transportar no modelo que estava pensado", revela à
VICE Maria Miguel Ferreira, uma das responsáveis pela organização
da iniciativa. "Os veículos são cedidos por algumas das mais
de 20 empresas que estão a ajudar-nos, serão seguidos por nós via
satélite de forma a que consigamos alterar rotas no momento, se for
necessário, e partem de Lisboa para Belgrado no sábado, 19",
acrescenta.
Certamente, para desespero daqueles que alarvemente foram acusando
os membros da Caravana de só quererem protagonismo, esta é uma
solução menos "fotogénica", mas bastante mais,
espera-se, "eficaz e capaz de atingir o propósito por detrás
de tudo". Ou seja, como conclui Maria Miguel, "levar aos
refugiados sírios, que neste momento estão num impasse terrível na
Hungria, comida, roupa, brinquedos, produtos de higiene pessoal e
vários bens de primeira necessidade".
Agora só têm de apanhar um avião para Belgrado, esperar que
excepcionalmente a França deixe circular os camiões durante o
fim-de-semana para que a viagem dure apenas três dias, confiar que
todos os contactos que têm sido feitos no terreno, "principalmente
com a Cruz Vermelha Sérvia", facilitem o trajecto e a chegada
ao terreno, e que o processo de entrega das 40 toneladas de
solidariedade tuga não seja perturbado pela desumanidade europeia.
Simples, não é? »
Ana Vassalo
Sept 18, 2015