Diz que era o Natal.
E então chegou coelhinho, casou com lobo mau e foram com carochinha ao circo. O homem do show não compareceu. Estava lá muita gente a assistir? Bué, repondeu a menina do comboio a pilhas uh-uh-uh! Um pouco à parte mas de ouvido hábil e atento, lobo mau acrescentou, sempre estrategicamente prestativo, que até improvisaram um referendo ali mesmo e o resultado foi o esperado: queremos o Pai Natal.
Nada.
Instado a pronunciar-se sobre tão grave afronta à tradição, o homem das chaminés do mundo encolheu os ombros, olhou displicentemente as unhas arqueando a sobrancelha, chamou as renas em gesto de despedida e virando costas aos media, laconicamente declarou, já de saída : não gosto de palhaços.
E eis que lobo mau, zut, se evaporou pelos intervalos da confusão e retomou a história certa, ali mesmo ao lado, que pelo menos – meditando - o capuz vermelho haveria de recuperar para acenar às crianças e velhinhos do mercado da feira e pra Natal já basta assim, valendo-lhe tal feito a nomeação por unanimidade - de coelhinho e carochinha, já se vê - como quase-rei mas efectivamente monarca absoluto de um reino longínquo e triste, de seu nome Serra Amarela, que desde um certo outono a rigor toma o nome das suas cores e responde por Selva Laranja, e fica mesmo ali ao largo de Guimarães onde tudo começou. Tem até lá uma muralha defensiva, o castelo, que consta vai ser privatizado e desmontado em peças para venda a retalho como souvenirs para turista.
Resulta, enfim, que coelhinho, um pouquinho amarfanhado, lá continua sentado e de sorriso seráfico preso por taxas, esperando ainda conseguir corromper o homem da coca-cola dentro do prazo, já que a família não lhe perdoa o erro lapidar de hostilizar uma multinacional tão amiga e que dá sempre tanto jeito para as festinhas das crianças com palhaços.
Carochinha, bom... esse permanece ignorando até ao fim dos seus dias o pormenor avulso de se ter esquecido de comprar o caldeirão da vida e segue, segue, definhando em banho-Maria...
Enquanto isso, os outros três reis maiores do cartel, magos da Floresta Negra - que nasceu às cinzas de uma tal de 2ª guerra, anda por aí a meter o nariz com miragens de regresso e hoje tem muitos braços de selva - Lagaltazar, Barraspar e Drelchior coçam as respectivas barriguinhas fartas de riso, a banhos de sol e mar numa ilha exótica por aí, mas só nos intervalos da contagem e verificação do stock de ouro, mirra e incenso que vão conseguindo amealhar para as suas casas durante o tal do banho-Maria. Uma única mas constante preocupação lhes mina a felicidade: o assalto latente pelos delinquentes não condenados e auto-exilados da serra amarela. Tomam juntos malibus e piña-coladas às 5 da tarde, em amenas cavaqueiras de saque em exercício de estilo, mas sempre de olhos postos na bolsa do outro lado. Depois, distraídos com essa feliz invenção do natal tropical, coisa de sonho irresistível, lá acabam a dar-se todos bem.
Hã? A menina, qual menina? Ah! Sim, claro! Pois, coitada, partiu no comboio mundo afora e foi inventar oxigénio de 2ª geração até ao natal de 2030. Parece que se farta de ganhar prémios mas soa que nunca mais acreditou em renas que voam. Quando inquirida de cepticismos radicais, responde invariavelmente: Cadê as asas?...
É... Morreram todas. De cortes na costura.
De Pai Natal, nem a sombra. Mas eu desconfio de muitas coisas. Cá para mim, estabeleceu um protocolo com a Menina do comboio a pilhas – esperta! - e estão os dois de plano em carteira, até porque consta por aí que um enorme carregamento de oxigénio, o tal de 2ª geração, seguiu já, com a respectiva e essencial etiqueta de “classificado-confidencial”, a caminho de Marte. Como posto de observação, nada mau, não? Já ali ao virar da esquina! Depois, basta fazer as contas e perceber o pedido de reforma, com carimbo de origem na Lapónia, que deu recentemente entrada na Segurança Social...
Os outro três, e também os outros três, andam às voltas, por aí, apreensivos com a ideia de que essa malta imberbe é um risco latente e difícil de manipular por controlo remoto, já que os mandaram para longe. Sempre assim foi, a História é tramada...
Raios parta essa mania piegas das asas e das invenções e da esperança – e é um sulco sem fim num chão de unhas roídas.
É. O mundo tem Vida renovável. Árvores. E experiência de autoterapia.
E muito quem não se renda à doença, também.
Mas afinal é Natal, lembremos, pode-se sempre contar com a Paz. Não esquecendo que os Escravos foram aquela dor de cabeça sem tréguas, a pulga na orelha de Impérios em estado de Paz.
Ela está aí. A Paz Romana.
E o Tempo, à espreita, farta-se de rir.
Ana Vassalo
E então chegou coelhinho, casou com lobo mau e foram com carochinha ao circo. O homem do show não compareceu. Estava lá muita gente a assistir? Bué, repondeu a menina do comboio a pilhas uh-uh-uh! Um pouco à parte mas de ouvido hábil e atento, lobo mau acrescentou, sempre estrategicamente prestativo, que até improvisaram um referendo ali mesmo e o resultado foi o esperado: queremos o Pai Natal.
Nada.
Instado a pronunciar-se sobre tão grave afronta à tradição, o homem das chaminés do mundo encolheu os ombros, olhou displicentemente as unhas arqueando a sobrancelha, chamou as renas em gesto de despedida e virando costas aos media, laconicamente declarou, já de saída : não gosto de palhaços.
E eis que lobo mau, zut, se evaporou pelos intervalos da confusão e retomou a história certa, ali mesmo ao lado, que pelo menos – meditando - o capuz vermelho haveria de recuperar para acenar às crianças e velhinhos do mercado da feira e pra Natal já basta assim, valendo-lhe tal feito a nomeação por unanimidade - de coelhinho e carochinha, já se vê - como quase-rei mas efectivamente monarca absoluto de um reino longínquo e triste, de seu nome Serra Amarela, que desde um certo outono a rigor toma o nome das suas cores e responde por Selva Laranja, e fica mesmo ali ao largo de Guimarães onde tudo começou. Tem até lá uma muralha defensiva, o castelo, que consta vai ser privatizado e desmontado em peças para venda a retalho como souvenirs para turista.
Resulta, enfim, que coelhinho, um pouquinho amarfanhado, lá continua sentado e de sorriso seráfico preso por taxas, esperando ainda conseguir corromper o homem da coca-cola dentro do prazo, já que a família não lhe perdoa o erro lapidar de hostilizar uma multinacional tão amiga e que dá sempre tanto jeito para as festinhas das crianças com palhaços.
Carochinha, bom... esse permanece ignorando até ao fim dos seus dias o pormenor avulso de se ter esquecido de comprar o caldeirão da vida e segue, segue, definhando em banho-Maria...
Enquanto isso, os outros três reis maiores do cartel, magos da Floresta Negra - que nasceu às cinzas de uma tal de 2ª guerra, anda por aí a meter o nariz com miragens de regresso e hoje tem muitos braços de selva - Lagaltazar, Barraspar e Drelchior coçam as respectivas barriguinhas fartas de riso, a banhos de sol e mar numa ilha exótica por aí, mas só nos intervalos da contagem e verificação do stock de ouro, mirra e incenso que vão conseguindo amealhar para as suas casas durante o tal do banho-Maria. Uma única mas constante preocupação lhes mina a felicidade: o assalto latente pelos delinquentes não condenados e auto-exilados da serra amarela. Tomam juntos malibus e piña-coladas às 5 da tarde, em amenas cavaqueiras de saque em exercício de estilo, mas sempre de olhos postos na bolsa do outro lado. Depois, distraídos com essa feliz invenção do natal tropical, coisa de sonho irresistível, lá acabam a dar-se todos bem.
Hã? A menina, qual menina? Ah! Sim, claro! Pois, coitada, partiu no comboio mundo afora e foi inventar oxigénio de 2ª geração até ao natal de 2030. Parece que se farta de ganhar prémios mas soa que nunca mais acreditou em renas que voam. Quando inquirida de cepticismos radicais, responde invariavelmente: Cadê as asas?...
É... Morreram todas. De cortes na costura.
De Pai Natal, nem a sombra. Mas eu desconfio de muitas coisas. Cá para mim, estabeleceu um protocolo com a Menina do comboio a pilhas – esperta! - e estão os dois de plano em carteira, até porque consta por aí que um enorme carregamento de oxigénio, o tal de 2ª geração, seguiu já, com a respectiva e essencial etiqueta de “classificado-confidencial”, a caminho de Marte. Como posto de observação, nada mau, não? Já ali ao virar da esquina! Depois, basta fazer as contas e perceber o pedido de reforma, com carimbo de origem na Lapónia, que deu recentemente entrada na Segurança Social...
Os outro três, e também os outros três, andam às voltas, por aí, apreensivos com a ideia de que essa malta imberbe é um risco latente e difícil de manipular por controlo remoto, já que os mandaram para longe. Sempre assim foi, a História é tramada...
Raios parta essa mania piegas das asas e das invenções e da esperança – e é um sulco sem fim num chão de unhas roídas.
É. O mundo tem Vida renovável. Árvores. E experiência de autoterapia.
E muito quem não se renda à doença, também.
Mas afinal é Natal, lembremos, pode-se sempre contar com a Paz. Não esquecendo que os Escravos foram aquela dor de cabeça sem tréguas, a pulga na orelha de Impérios em estado de Paz.
Ela está aí. A Paz Romana.
E o Tempo, à espreita, farta-se de rir.
Ana Vassalo
13-Dez-2013
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Dec 19, 2013
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