__ art by Dillen Le
Diz que sim.
Que me espatifei toda. Outra vez. E largamente, para não variar. Num voo tão aparatosamente esbalhatante que só o desesperado grito de "valha-me deus" do meu querido pai ateu conseguiu que me levantasse.
É crónico, não falhará. Ocorrência mais que certa sempre que a cabeça se pensa caravela por águas fora do mundo. Vejo tão pouco na distância.
E depois há que continuar, o tornozelo ampliado de um lado, o joelho ao peito, do outro, o andar elegantemente manco, as negras como mapa sem cor de rosas, e eu quase fora de combate mas colando as armas todas ao corpo. Que tem de caminhar sempre, sabe-se lá como e que é que isso interessa agora, para que outros continuem o exercício de respirar. Uma rotina cada vez mais interessante... Não gosto de desafios? Objectivo a exceder, sim senhor.
O labreguento engenheiro daquele milimétrico degrau é que podia muito bem dar a cara, que isto logo se compunha melhor, com a vontade épica que tenho de lhe dar uma carga de pancada sem tempo. Eu, pregadora de paz e amores, está bem.
E enfim, como dizer gentilmente o que me vai na alma? Que estou na mais profunda trampa, atolada sim, e não sei como sair dela. Resta apurar se me interessa ir a algum lado, especificamente falando.
Dormir qualquer coisa é que me dava jeito agora. Dormir milénios, assim como um dia foi, ah que saudade de relógios com sono...
Menos mal.
História repetida, estórias sem fim.
Também nunca soube estar doente, nada de novo. Mas tenho ideia de que me convinha aprender. E com alguma urgência. Isso sim, seria de mais valor.
Bom.
Amanhã logo se vê.
Hoje é sempre cedo demais.
(AV)
Título:
Eu Agora Quero-me Ir Embora *** João dos Santos, João Sousa Monteiro
Editora: Assírio & Alvim
Coleção: Pelas Bandas da Psicanálise
Tema: Psicologia
Ano: 1990
*** A história de uma menina que não falava......